Censo mostra 1.806 pessoas em situação de rua no Recife, das quais 80 por cento são negros e pardos

Não está fácil. Em todos os lugares por onde se anda no Recife, encontra-se pessoas dormindo sobre as calçadas, sob as marquises, nas praças. Estas se transformam em camas, cozinha, varal, mictório, tudo que se puder imaginar. É só passar por praças como a Maciel Pinheiro e a Dezessete (no Centro) ou a Vânia Souto (na Madalena) para se ter ideia da situação. Censo que acaba de ser divulgado indica que 1.806 pessoas vivem em situação de rua no Recife, e que essa população é composta em 80 por cento de pessoas em idade economicamente ativa. Mas também há idosos (11 por cento), além de crianças e adolescentes (quatro por cento). O censo ainda mostrou que, no momento da contagem, apenas 363 estavam acolhidas em algum equipamento, e que 1.443  se encontravam ao completo Deus dará. A pesquisa indicou, ainda, que 80 por cento das pessoas sem teto são pretos e pardos.

Os números foram publicados pela  Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Juventude e Políticas Sobre Drogas do Recife. O relatório do Censo da População de Rua foi  construído em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). De acordo com o levantamento, a população de rua é majoritariamente masculina, representando 76% das pessoas, quando as mulheres estão em 19%. Os homens cisgêneros representam 75% da população em situação de rua, mas os números de mulheres cisgêneros e de mulheres trans são grandes e têm crescido, correspondendo a 25%. Em relação critérios de vulnerabilidade, a pesquisa mostra que 26,5% das pessoas estavam nas ruas há menos de um ano, indicando uma condição adquirida.

Censo realizado pela Prefeitura e UFRPE indicou que é de 80 por cento o percentual de negros e pardos entre os sem teto

Aproximadamente 19% das pessoas vivem entre um e três anos nas ruas; 13% vivem entre três e cinco anos; e 35% vivem há mais de cinco anos na mesma situação. Destaca-se ainda que 47% da população em situação de rua do Recife é resultante de fluxo migratório e, inclusive, um dos principais motivos que conduz as pessoas às ruas, de acordo com a pesquisa, são os conflitos familiares, como apontam mais de 50%  dos casos.  A titular da SDSDHJPD, Ana Rita Suassuna, anunciou uma  série de novas medidas para acolhimento de pessoas que vivem nas ruas. Entre elas: o projeto piloto Moradia Primeiro Recife, o Centro Popinho e o Programa Pão e Letra. As  iniciativas são interessantes, porém não foi dito quando começarão.

Atualmente, a Prefeitura executa o Programa Recife Acolhe, com vários projetos já em andamento. Os números e ações foram divulgados no Teatro do Parque, durante para assinalar a o Mês de Luta Nacional da População em Situação de Rua. Durante o evento, foi inaugurada a exposição “Retratos dos Visíveis”, com fotos assinadas por Eudes Régis e Sérgio Bernardo, mostrando personagens normalmente considerados “invisíveis” pela sociedade, até que passam a incomodar, quando ocupam os espaços públicos.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Sérgio Bernardo e Eudes Régis / Exposição Retratos dos Visíveis / PCR

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