Bolsonaro repete machismo, misoginia e falta de respeito a mulheres jornalistas em debate da Band

A primeira mensagem do dia, via WhatsApp, vem de um dos meus netos. E refere-se ao debate promovido pela Band, na noite do domingo.  “Quando Bolsonaro atacou Vera, pensei em você que também é jornalista e mulher”, afirma, entre a indignação e o afeto. “Ele é muito covarde”. Referia-se  à agressão do Presidente candidato à jornalista Vera Magalhães. Assisti ao debate quase todo, mas sempre acho que as regras deixam a discussão meio engessada. Gosto, mesmo, é de ver cada candidato sendo entrevistado individualmente, como ocorreu ao longo da semana, no Jornal Nacional. Um por vez, para dar tempo de desfiar o pensamento, planos, estratégias, responder a críticas, às provocações, defender-se (ou ficar sem defesa) das acusações de corrupção, de disseminação de fake news, de respeito (ou falta de) à Constituição.

No debate de domingo, acho que Simone Tebet (MDB) saiu-se muito bem. Que Soraya Thronicke (União Brasil) se enrolou muitas vezes. Não só não soube aproveitar bem o tempo que tinha, como atrapalhou-se nas respostas. E que Ciro Gomes (PDT) sabe usar o dom da palavra muito bem, que Lula estava um pouco mais tímido do que o habitual e que se saiu muito melhor na entrevista concedida ao JN na semana passada. Luís Felipe D´Ávila não empolgou ninguém. E Jair Bolsonaro estava mais moderado (deve ter tomado calmante), mas mesmo assim não conseguiu fugir ao estilo beligerante nem de baixar o nível, como é do seu feitio. Faltou, inclusive com o respeito às mulheres. Incluindo jornalistas, que se tornaram alguns dos seus alvos principais.

Não vou aqui entrar no mérito do discurso de cada candidato.  Isso os analistas em política nacional fazem desde ontem. Mas me pronunciar como mulher, como cidadã. Para protestar contra algumas falas do ex-capitão, quando o assunto é mulher, os quais ele chama de “mimimi” e “vitimismo”. Os noticiários estão cansados de publicar casos de feminicídios, de discriminação contra mulheres brancas, índias e principalmente as negras. Também as estatísticas mostram a disparidade de salários entre os gêneros, com as mulheres ganhando muito menos que os homens, mesmo ocupando  cargos idênticos.  As pesquisas indicam, não sem motivo, que Bolsonaro enfrenta resistência do eleitorado feminino. Com certeza, há razões de sobra que justificam os números. No debate, ele até chegou a dizer que defende o armamento, principalmente para que “as mulheres se defendam no campo”.

Vera Magalhães foi alvo de ataques do Presidente,o ex-capitão Jair Bolsonaro

As mulheres estão ligadas! E voto feminino tem muito peso nas próximas eleições. Até porque, segundo o TSE, dos 156.454.011 brasileiros aptos ao voto em 2022, nada menos de 86.373.264 são mulheres. Ou seja, 52, 65 por cento. Porém se o Bozó queria atrair o voto feminino  no domingo, acredito que não teve sucesso no intuito. Até porque apelou para a baixaria, ao se dirigir à jornalista Vera Magalhães, apresentadora do Roda Viva (TV Cultura), que também estava entre os entrevistadores do domingo.  Vera questionou o homem sobre vacinação. “Vera, não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não podia tomar partido em um debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”.

Afinal, o debate era para que os candidatos defendessem suas plataformas ou faltar com o respeito com as mulheres? Isso é jeito de se responder? Infelizmente, pelas regras, a jornalista não teve como rebater pela TV, para o mesmo público de espectadores. E os apresentadores também não o fizeram. São as regras. Mas nelas constava que não poderia haver ofensas pessoais durante o debate. A melhor resposta, ficou com a própria Vera, após o final da transmissão do embate,  em conversa com os repórteres que, como ela, se sentiram agredidos por Bozó. “Ele não gosta de ser questionado por mulheres. Ele teve uma atitude absolutamente descontrolada e desnecessária e prejudical a ele mesmo”. Lembrou que mais da metade do eleitorado feminino rejeita Bolsonaro, talvez pelas constantes práticas de “machismo” e “misoginia”. Brava Vera Magalhães! E viva às mulheres e às jornalistas! Abaixo o machismo e a misoginia!

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Reprodução da TV

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