Mercado Eufrásio Barbosa tem exposição e lançamento de livro sobre Adão Pinheiro

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Quando eu era criança, achava que ele, com quase dois metros de altura, seria o homem mais alto do mundo. Lembro-me demais da figura de Adão Pinheiro, chegando à nossa antiga residência, no bairro de Casa Amarela, para visitar meu pai, Osman Lins, então um jovem escritor. Recordo, também, quando saíam juntos, caminhando em direção à Rua da Harmonia. E  enquanto se distanciavam, ficava espantada com a diferença de altura entre os dois amigos.  Depois, lembro-me que lá em casa tinha um quadro seu.  Só recordo das cores: preto e branco, com vários tons em marrom.  Por esse motivo, não o observava tanto, porque eu, menina que frequentava a Escolinha de Arte da Rua do Cupim, gostava  mesmo era de pinturas muito coloridas. Posteriormente, já adulta, voltei a encontrar Adão Pinheiro, nos anos 1990, em São Paulo. Foi em um seminário promovido pela USP,  dedicado à obra de Osman Lins.  Ele estava lá, prestigiando o ciclo de discussões e palestras sobre o amigo que já tinha partido deste mundo.

Pois o  pintor, desenhista, gravador, entalhador e  cenógrafo está de volta a Pernambuco, onde morou no século passado, quando foi um dos fundadores do Movimento da Ribeira, que era considerado pela crítica como responsável pelo “renascimento” de Olinda, já que reunia os melhores artistas plásticos que atuavam em Pernambuco. Naquela época, o Estado viveu período de grande e saudável agitação cultural, um verdadeiro surto de criatividade. Agora, Adão Pinheiro chega por outro motivo. É que na próxima quinta-feira (17/11), às 19h, será lançado o livro “Adão Pinheiro” na Sala Janete Costa, do Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda. O evento também marca a abertura de exposição multimídia do artista. Adão tem 84 anos e nasceu no Rio Grande do Sul.  Ele marcou sua passagem por Pernambuco participando ativamente da efervescência artística de Olinda, nos anos 1960, quando a cidade ainda nem tinha sido decretada  pela Unesco como Patrimônio da Humanidade

Posteriormente, nos anos 1980, ele responderia pela diretoria da Fundação de Cultura, Turismo e Esportes de Olinda. Porém ainda permanece desconhecido no Estado e na própria cidade onde tanto atuou, embora seja sempre lembrado pelos companheiros de geração. Também não é daqueles que zelam muito pela preservação e registro do próprio trabalho, o que dificulta o conhecimento de sua obra. “Não fico lambendo minha cria”, disse certa vez. Então, nada mais justo e necessário, portanto, do que o livro contando a sua trajetória. O volume foi organizado por uma cientista, a queridíssima bióloga e escritora Leda Régis e também pela artista francesa Christine Barth. A  publicação é mais uma iniciativa da Cepe (Companhia Editora de Pernambuco).

Aos 83 anos, Adão Pinheiro ganha livro e exposição multimídia sobre sua obra: iniciativas justas e necessárias

A obra traz textos de: Maria Lêda Oliveira (historiadora de ideias); Fernando Monteiro (poeta, escritor e cineasta); Raul Córdula (artista plástico);  Joanna D’ Arc Lima (crítica de arte). Eles falam sobre o complexo universo do artista. “Os leitores e leitoras encontrarão nesse livro um arquivo que reúne parte de um acervo artístico e documental — uma garimpagem de cerca de 160 obras visuais de 1958 até 2016”, revela Joana. Ela afirma que o livro “vem preencher uma brecha aberta na historiografia da arte praticada à partir do nordeste brasileiro para o Brasil/mundo”.  A publicação mostra que a arte de Adão é marcada por misticismos e arquétipos, e também pela “materialização do inconsciente coletivo a partir de estudos da obra do psiquiatra suíço Carl Jung (1875-1961), arte sobreposta ao espírito”.

A obra “expressa conhecimentos de séculos e geografias diferentes em um mesmo papel, tela, madeira, argila ou barro”.  Ele é tido como um artista transgressor de conceitos e desgarrado das técnicas.  Também já assinou roteiros, cenografias e direção de arte. O filme Baile Perfumado (1996), é um exemplo. O livro traz ilustrações com suas obras, cronologia de sua carreira, recheada de prêmios e exposições mundo afora. Vamos, pois, conhecer melhor Adão Odacyr Pinheiro, natural de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em 1938.    Assim como sua opção de mergulhar nas camadas do inconsciente individual e coletivo. Pesaram ainda o fascínio pela liberdade, por não seguir regras academicistas nem vanguardistas, muito menos técnicas artísticas.

Pernambucanos terão a chance de conhecer  a obra de Adão Pinheiro, importante artista, porém desconhecido do público

Além de artista plástico, Adão escreveu peças de teatro, assinou cenografias e figurinos, assim como direções de arte. “Eu não respeitei a aquarela como técnica. Eu não respeito técnica nenhuma”, disse o artista.   Adão até chegou a cursar a escola de Belas Artes. Mas preferia aprender com o mestre Abelardo da Hora, que estimulava os artistas a produzirem seu próprio material de trabalho para conhecerem todo o processo de criação. Ou com Aloísio Magalhães, em O Gráfico Amador, grupo  que reunia artistas locais posteriormente consagrados no Brasil.  O grupo era liderado pelo próprio Aloísio, considerado pioneiro na introdução do moderno design gráfico no Brasil. Também conviveu e aprendeu com Hermilo Borba Filho, Gilberto Freyre e Paulo Freire. E com os artistas que participaram ao lado dele do Movimento da Ribeira, como Ypiranga Filho, José Barbosa, José Tavares, Guita Charifker, Tiago Amorim (Sebastião Wilson Ferreira de Amorim), Montez Magno, Anchises Azevedo, Vicente do Rego Monteiro e João Câmara.

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Serviço
Evento: Lançamento do livro Adão Pinheiro (Cepe) e exposição multimídia
Quando: 17 de novembro
Onde: Sala Janete Costa do Centro Cultural Mercado Eufrásio Barbosa (Largo do Varadouro), Olinda)
Horário: 19h
Exposição aberta ao público de 18 de novembro a 20 de dezembro

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Prefeitura de Olinda e Cepe / Divulgação

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