“Tour Fitzcarraldo” traz “Aquário cinematográfico” para estrear em Pernambuco

Compartilhe nas redes sociais…

Para os que não lembram… No final do século passado, o cineasta Werner Herzog (Vício frenético, O Homem Urso, Nosferatu, A caverna dos sonhos, Aguirre a Cólera dos Deuses, etc) embrenhou-se na maior floresta  tropical do mundo  para filmar Fitzcarraldo, um filme que foi lançado em 1982, e que praticamente beirava o absurdo. É que no longa, o personagem irlandês  Brian Sweeney Fitzgerald (Fitzcarraldo) alimenta o sonho de construir uma casa de ópera no meio da Amazônia. Mas sem dinheiro para a empreitada, decide comercializar borracha. Porém para transportar o produto, precisa atravessar a floresta de barco, enfrentando árvores gigantescas e morros. Ou seja, um roteiro e tanto…

O  filme, que lembra uma odisseia, foi estrelado por Klaus Kinski, Cláudia Cardinale, Miguel Angel Fuentes e até por artistas brasileiros (como Grande Otelo, José Lewgoy e Milton Nascimento). Pois agora, 42 anos depois, Fitzcarraldo volta à ordem do dia. É que virou tema de evento turístico cultural: o Fitzcarraldo Tour, que estreia em Olinda e no Recife, nos dias 1º e 2 de agosto respectivamente. A turnê passará pelo caminho trilhado para a realização do sonho maluco de Fitzcarraldo: Manaus (Amazonas, Brasil), Letícia (Colômbia), e Iquitos e Lima (Peru). Mas, curiosamente, as duas cidades pernambucanas foram escolhidas para dar início ao tour.

Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda, recebe “O Grande Mosaico da Arte Moderna”, no Fitzcarraldo Tour

O evento é produzido pelo Instituto de Cinematografia Incoerente(IOIC- sigla em inglês), sediado em Zurique, na Suíça, com curadoria e coordenação do argentino Pablo Assandri, diretor artístico do IOIC desde 2010. “A proposta do evento sonoro-cinematográfico é abordar dois paradoxos: tecnologia versus modernidade e humanidade versus desumanidade, além de exibir uma visão ambivalente da modernidade com seu universalismo por vezes esmagador”, resume Pablo. O evento está dividido em dois: “O Grande Mosaico da Arte Moderna” ” e “Aquário Cinematográfico”.

Em Pernambuco, o concerto “O Grande Mosaico da Arte Moderna” acontece em Olinda, dia 1º de agosto, no Teatro Fernando Santa Cruz, situado no Centro Cultural Mercado Eufrásio Barbosa (foto central), no Varadouro, Olinda, às 19h. A entrada é gratuita. Serão exibidos os filmes “L’Inhumaine”, de Marcel L’Herbier (França, 1924, 121 min) e Ballet mécanique, de Fernand Léger & Dudley Murphy (França, 1924, 16 min). Teórico do cinema de vanguarda dos anos 1920, o cineasta francês Marcel L’Herbier (1888-1979) criou, no filme L’Inhumaine”, uma síntese que engloba “todas as artes” – design, arquitetura e música – colaborando com artistas que também contribuíram para o desenvolvimento da vanguarda cinematográfica francesa, Alberto Cavalcanti, Claude Autant-Lara, Fernand Léger, Robert Mallet-Stevens, Georges Antheil e Darius Milhaud.

Os seis músicos internacionais se dedicam à improvisação livre aliando instrumentos utilizados desde a antiguidade, como a harpa e a voz, a outros instrumentos dos séculos XIX e XX, como o saxofone e os eletroacústicos. O sexteto também produz sons com dispositivos eletrônicos de fabricação própria, que servem como extensões do corpo humano. Os filmes escolhidos por Pablo serão usados como partitura para compor, em tempo real, as trilhas sonoras das produções de cinema mudo. Todos os filmes serão exibidos em versões restauradas. Ou seja, uma empreitada instrutiva, divertida e curiosa.

No dia 2 de agosto, será a vez da Casa Lontra, no bairro da Soledade, receber o concerto “O Aquário Cinematográfico“: um programa de curtas-metragens que inclui trabalhos do pioneiro da animação, o norte-americano Dave Fleischer (1894-1979), do documentarista e pioneiro do cinema submarino científico, o francês Jean Painlevé (1902-1989), além de obras de vanguarda do fotógrafo e cineasta dadaísta norte-americano Man Ray (1890-1976). “Os três cineastas compartilham uma convicção: o que nos é familiar em termos de imagem  – assim como o desconhecido – precisa ser aprendido. Essas joias do aquário cinematográfico serão musicadas pelos membros da Fitzcarraldo Tour em três formações de dueto. Vozes suaves, cordas distorcidas e passagens sintéticas atraem os ouvintes para se perderem nas profundezas escuras do mundo submarino”, declara Pablo.

A ligação do IOIC com as duas cidades pernambucanas vem de parceria antiga com músicos e produtores locais, como a Casa Lontra (palco de shows e difusão de música experimental e arte sonora no Recife), a produtora Beatriz Arcoverde, e o artista sonoro Thelmo Cristovam. “Essa turnê é o caminho de um sonho em imagens em movimento e sons”, resume Thelmo, que tocará saxofone na companhia dos músicos Iokoi (voz, eletrônica), Constanza Pellicci (voz), Linda Vogel (harpa, voz), Marina Mello (harpa), Bit-Tuner (eletrônica).  O IOIC organiza eventos de cinema mudo aliado à música experimental com raízes no modernismo europeu ao vivo desde 2010, na capital suíça e em outros destinos pelo mundo, sempre sob a coordenação e curadoria de Pablo Assandri. Em 2018, Beatriz e Thelmo estiveram em Zurique para conhecer o IOIC e Pablo. Em 2022, quando Pablo veio ao Brasil para realizar pesquisa de campo para esta turnê. Ele e Thelmo realizaram concertos com filmes mudos na Casa Lontra.

Leia também
Teatro do Parque volta aos bons tempos com Festival de Cinema
Retábulo de Santa Joana Carolina, de Osman Lins, vai virar filme em 2025
Livro imperdível sobre cem anos de cinema pernambucano
Recife Assombrado 2: A Maldição de Branca Dias
Teatro do Parque exibe Consuela, a mais festejada travesti do Recife
Cinema da Fundação (sala Derby) tem o longa “Sem coração” e exibição de três curtas
“Sem coração”, de Nara Normande e Tião estreia na abertura do Janela no Parque
“Sem Coração”, de Nara Normande vira unanimidade no Festival de Cinema de Veneza
“Das Águas” concorre com 4.500 inscritos e é selecionado para o Festival Curta Cinema, no Rio
PE: Saga de Plínio e Diva Pancheco, fundadores do maior teatro ao ar livre do mundo, vai virar filme
Caruaru: Começa em abril o AZsex Festival de Artes e Sexualidade Humana
Até novembro, Teatro do Parque terá nove sessões de Retratos Fantasma
Retratos fantasmas começa a ser exibido no Recife.
“Retratos fantasmas”, de Kleber Mendonça, mostra o centro do Recife sem os seus cinemas
A denúncia e o apelo de Kleber Mendonça em defesa do Cinema São Luiz
Eryka Vasconcelos coleciona prêmios com filme sobre esquizofrenia
Le Ballon Rouge tem exibição gratuita no Parque de Santana
Sem Coração, de Nara Normande, vira unanimidade no Festival de Veneza
Sessão Recife Nostalgia: Cinema São Luiz, vitrais e festa como nos velhos tempos
Sessão Recife Nostalgia: Rua da Aurora, Sorveteria Gemba e Cinema São Luiz
Outras Palavras no Cinema São Luiz
Olha! Recife: Velhos cinemas e história
Festival Janela do Cinema no São Luiz
Escândalo da Mandioca no São Luiz
Meninos, balé e bullying no São Luiz
Escândalo da Mandioca no São Luiz
Sessão Recife Nostalgia:Afogados, história, cinelândia e Rozemblit 
Nota dez para o Recife que te quero ver
O Recife que te quero ver
Hans Von Manteuffel dedica fotopoema ao “Recife que te quero ver”
Sessão Nostalgia: Saudade dos cinemas de rua revivida em Fernando de Noronha
De volta ao “Quem  me quer”. Sabem o que é?
Relíquia do Sertão, Theatro Cinema Guarany ganha livro
Muito glamour  no CineFestival no Theatro Cinema Guarany
Theatro Cinema Guarany completa cem anos e volta a funcionar
Incluído entre os cem melhores filmes  brasileiros,Tatuagem ganha livro
Cotidiano de Água Fria, no Recife, vai a dois festivais de cinema
Cineclube ao ar livre em Apipucos
Farmácia viva e audiovisual: produção coletiva em Apipucos
Cineclubes: a conexão Brasil – Alemanha
Apipucos tem Movimenta Cineclubes: mudanças climáticas em discussão
Bairros ganham Movimenta Cineclube
Cineasta luta pela sede da Aurora Filmes
Cinema vai à escola e praça em Tabira
Cinema, rio e bicicleta em discussão
Esplendor e o cinema para cegos
A história do menino que processa os pais por o terem colocado no mundo
Muito bom “Uma casa à beira mar”
Filmes made in PE para ver em casa
Olha! Recife e Mamam : lendas urbanas
Filme “Recife Assombrado” chega ao Canal Brasil
Cine Olinda vai ser restaurado. E o resto?
Filme sobre esquizofrenia ganha prêmios
Luciano Torres ganha prêmio internacional: botija, beato e besta fera
Cinema: Túlio Beat, da Bacurau Cultural leva Botija à Itália e à Inglaterra
Cotidiano de Água Fria, no Recife, vai a dois festivais de cinema

Serviço:
O quê: Tour Fitzcarraldo
Programação em Olinda:
“O Grande Mosaico da Arte Moderna”
Quando: Quinta-feira, 1º de agosto
Horário: 19h
Onde: Teatro Fernando Santa Cruz -CCMEB (Largo do Varadouro, S/N – Varadouro, Olinda)
Entrada gratuita
Filmes: “Ballet mécanique” de Fernand Léger & Dudley Murphy (FR 1924, 16 min)
e “L’Inhumaine” de Marcel L’Herbier (FR 1924, 121 min)

Programação no Recife
“O Aquário Cinematográfico”
Quando: Sexta-feira, 2 de agosto
Horário: 19h
Onde: Casa Lontra (Rua Bispo Cardoso Ayres, 72, Soledade)
Entrada Gratuita
Filmes: “Evolução” de Dave Fleischer (EUA, 1923, 41 min), “La pieuvre” de Jean Painlevé (FR 1928, 13 min), “La daphnie” de Jean Painlevé (FR 1929, 10 min), “L’étoile de Mer” de Man Ray (FR 1928, 16 min) e “Les Mystères du Château de Dé” de Man Ray (FR 1929, 21 min)

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos e video: Divulgação

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.