Quem não lembra do filme Billy Elliot, em que um garoto, filho de pai viúvo e operário em minas de carvão, enfrenta grande preconceito por parte da família devido à sua vocação para a dança? Ele chega a ser enviado para uma academia pelo pai, para aprender box. Mas ao invés das luvas do box, o menino se apaixona é pelas sapatilhas do balé. E haja preconceito. Agora, uma pernambucana acaba de fazer documentário sobre os bailarinos do Recife, enfocando o mesmo tipo de preconceito registrado no filme inglês de 2000. O curta será apresentado hoje à noite.
Fotografando bailarinos e bailarinas desde 2013, a estudante Tatiane Ferr decidiu transformar a vivência junto aos palcos e artistas da dança em documentário. Isso porque a imensa quantidade de mulheres no setor e o escasso número de bailarinos lhe chamavam a atenção. Ao longo do curso de Rádio e Tv no Centro Universitário dos Guararapes (Unifg), ela teve a oportunidade de desenvolver documentário sobre o tema. E o resultado, Tangível Ballet, será exibido na noite dessa sexta-feira, às 18h30m, no Cinema São Luiz, como parte da programação do Festival de Curtas de Pernambuco (FestCine).
O documentário – co-dirigido e co-roteirizado por Tatiane Ferr e Ana Gabriela – traz depoimentos, ensaios e apresentações realizadas pelos bailarinos. Os dançarinos falam sobre a ligação que eles sentem com o balé, o que a dança significa para eles. E aborda, claro, a questão do preconceito. De acordo com Tatiane, o caminho para a realização do filme começou no primeiro semestre do ano passado. A realizadora afirma que a recepção sobre a ideia no meio da dança foi muito positiva. “É uma questão que também incomoda quem dança. O balé é uma arte convidativa para a participação masculina, mas isso não é algo encorajado pela nossa sociedade.”
O documentário também aborda a solidariedade entre os bailarinos, como procuram se apoiar uns aos outros, principalmente em momentos difíceis. Em certo momento do filme, um dos entrevistados fala de sua preocupação com alguns dos garotos que pensam em desistir da dança por conta do bullying que sofrem na escola, aturando agressões que podem resultar em danos psicológicos graves. Há também a questão da homofobia. “Não vejo preconceito entre as pessoas que fazem balé”, diz Tatiane, “é mais com quem observa de fora.” “As pessoas precisam enxergar que é normal um homem fazer balé ou qualquer outro tipo de dança. O mesmo vale para a sexualidade. Não é algo que vai diminuir o valor de um ser humano. Existem bailarinos de diferentes idades, perfis e orientações sexuais.”
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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Foto: Tatiane Ferr/ Divulgação