Quando vi a Ministra do Esporte da França, Amélie Oudéa Castéra, mergulhando nas águas do Rio Sena, junto com o triatleta profissional Alexis Hanquinquant na primeira quinzena de julho, lembrei logo da situação do nosso Rio Capibaribe. Alguns dias depois, foi a vez da Prefeita de Paris, Anne Hidalgo, fazer o mesmo para provar que as águas do mais famoso rio daquele país está compatível para receber atletas em provas aquáticas dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Fiquei a pensar, então, qual autoridade do Recife, Pernambuco ou do Brasil teria coragem de mergulhar no nosso “Sena” caboclo, cuja água está cada vez mais suja e escura.
E essa poluição i-men-sa se deve a dois fatores. O primeiro é a falta de educação doméstica da população, que atira todo tipo de lixo – carcaças de geladeiras, capacetes de motoqueiros, monitores, animais mortos, plásticos, muitos plásticos – no Capibaribe. O outro fator é a eterna omissão das autoridades com o saneamento básico, o que leva condomínios e residências a fazerem despejo de esgoto in natura no rio. Resultado: o Capibaribe, o “Cão sem Plumas” – como chamava o Poeta João Cabral de Melo Neto – transformou-se em esgoto a céu aberto. Quando eu penso que nas primeiras décadas do século passado o Recife era cem por cento saneado…
O Capibaribe fede. E quando a maré baixa, é possível ver a lama escura em que se transformou a área onde deveriam vicejar os manguezais. Isso em toda a cidade. Tanto no centro, quando em bairros afastados, como Várzea e Poço da Panela. Neste, os antigos moradores lembram que tomavam banho nas águas limpas do Rio até os anos 1950. Minha ex-professora dos tempos do Colégio Vera Cruz, Ednar Carvalho, lembra com saudade da época da infância em que se divertia tomando banho de rio com os primos no Poço da Panela. “A areia da beira do rio era branquinha, parecia a da praia”. Hoje, esta não passa de uma fedorenta massa escura. Quando se passeia de barco pelo Capibaribe, também é possível ver o esgoto sendo despejado, proveniente de condomínios, edifícios, empresas. E o despejo ocorre aos borbotões.
Segundo o Instituto Trata Brasil, por conta da falta de saneamento, os rios de Pernambuco recebem por dia o equivalente a 208 piscinas olímpicas de esgoto. Boa parte, claro, vai para o Capibaribe. Nesta semana, os pedestres se depararam com essa cena, na Rua da Aurora, ali bem pertinho da Ponte do Limoeiro. A foto é do fotógrafo Genival Paparazzi, que mora no centro do Recife e está sempre atento aos problemas em bairros como Boa Vista, Santo Amaro, Santo Antônio, São José. “Essa água que vem sendo despejada no Capibaribe fede demais. Tem dia que ela está ainda mais escura”, diz ele. O #OxeRecife procurou a Compesa, para saber do que se trata.
Esgoto despejado? Ligação clandestina? A Compesa nos informou que o despejo não tem “nenhuma relação com serviços de esgotamento sanitário”. Segundo a empresa, uma equipe foi ao local para ver o que acontece na área. “De acordo com o diagnóstico, trata-se de uma tubulação de rebaixamento do lençol freático usada em obra de prédio na Rua da Aurora”. Perguntar não ofende, não é? Então, por que a água do “lençol freático” às vezes está tão escura e sempre fedendo?. Cadê a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife? E onde anda a Agência Pernambucana de Meio Ambiente? O Capibaribe virou casa da Mãe Joana? Acorda prá Jesus, meu povo, que daqui a pouco a água do Capibaribe vai virar uma massa escura e espessa, como já é a dos nossos canais que, um dia, foram rios e riachos cristalinos.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Genival Paparazzi) / G.F.V Paparazzi / ZAP (81)995218132)/ gfvpaparazzi@gmail.com e PCR/Acervo #OxeRecife