Dá pena ver de perto a situação dos nossos rios. Todos extremamente poluídos. E todo mundo sabe as causas desse descalabro ambiental. E a culpa é do poder público e da própria população a quem, pelo que se vê, a educação doméstica passa longe. Sabemos que é muito deficiente a oferta de saneamento básico e que os despejos domésticos transformam o Capibaribe, o Beberibe e o Tejipió em esgotos a céu aberto. E o problema só faz aumentar, à medida que a cidade incha, sem que os serviços públicos acompanhem o crescimento populacional na mesma proporção.
O outro problema vem da própria população que descartam tudo que não presta nos nossos cursos d´água. Um horror. O retrato desse descalabro foi mais uma vez confirmado nessa quarta-feira, quando se comemora o Dia dos Rios. Nada menos de 21 toneladas de detritos foram retirados hoje por cem barqueiros dos três rios acima citados. Eles participaram de um mutirão, organizado pela Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade. E de tudo foi encontrado. Na foto superior, vocês podem observar o barco cheio de móveis, que dá a falsa impressão de que carrega uma mudança. Pois não é mudança. É lixo mesmo, recolhido nos rios, pelos participantes da gincana, que teve finalidade dupla: limpar os rios e estimular a educação ambiental entre aqueles que dele vivem.
Todos os barqueiros participantes são cadastrados em associações comunitárias e têm nos rios a sua principal fonte de trabalho e subsistência, e foram eles os grandes agentes de transformação sócio-ambiental e de proteção dos mananciais. A iniciativa teve o apoio da ONG Recapibaribe e das Associações de barqueiros e pescadores dos Rios Beberibe e Tejipió. A ação solidária de limpeza aconteceu no formato de uma gincana, unindo os barqueiros e pescadores de Recife. Os participantes saíram em embarcações por volta das 09h e percorreram cerca de 5 quilômetros do Rio Capibaribe, 6,7 quilômetros do Rio Beberibe e 3,25 quilômetros do Rio Tejipió, recolhendo resíduos flutuantes ao longo do percurso. Entre os objetos encontrados na água estavam: armários, privadas, pias, brinquedos, garrafas pet, pneus, capacetes, geladeira, cadeira, cama, sofá, fogão, televisão, monitor, cadeira, espelho, micro-ondas, dentre outros. Os que mais recolheram lixo ganharam prêmios entre R$ 150 e R$ 300. A Emlurb destinará corretamente os resíduos coletados. O pescador Luís Carlos Santos reclamou da sujeira.
“Ficamos surpresos com a quantidade de coisas que são descartadas nos rios, e quanto nós, humanos, conseguimos prejudicar a natureza. Dentro deste rio tem espécies que precisam dele limpo, tem gente que sobrevive do que ele dá. Ele gera cultura, alimento e trabalho para a gente, mas, infelizmente, o ser humano pensa mais nele que no próximo
Luís Carlos cresce às margens do rio Tejipió, de onde os pais extraíam alimentos que garantiam o sustento da família. Com o passar dos anos, ele viu o a água do rio escurecer, a pesca minguar e o lixo ocupar os manguezais. “A mensagem que eu deixaria para quem joga lixo no rio é: antes de jogar, pense como você se sentiria se alguém estivesse jogando lixo dentro da sua casa. Devemos nos policiar e vigiar essas áreas para que elas sejam preservadas”, diz.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Genival Paparazzi (foto superior) e Igor Gomes / Divulgação/ PCR (foto central)