“Recentro” é criado para cuidar do degradado centro do Recife. Agora vai?

Totalmente esvaziado, descaracterizado, desabitado e com comércio em crise – com grande número de lojas com portas fechadas – o centro do Recife vem motivando uma série de mobilizações em defesa de sua revitalização. Há grupos acadêmicos, privados e políticos discutindo o seu destino. Antes coração econômico da cidade – concentrando bancos, comércio, cinemas e até moradias – o centro começou a ser esvaziado a partir da chegada dos shopping-centers, da descentralização do comércio e devido à falta de segurança. Além disso, o seu abandono , a sujeira e a degradação das praças e ruas tradicionais contribuíram para afastar o recifense de bairros como Santo Antônio, São José, Boa Vista e até mesmo do Recife Antigo.

O Grupo Amigos do Recife até programou uma ação para o próximo dia 27 de novembro, contra o abandono da nossa cidade e principalmente do centro. Hoje o Prefeito João Campos (PSB) anunciou o Recentro, que é um plano de manutenção, cuidado, incentivos fiscais para o centro. Para concentrar as demandas, o Recentro terá um Escritório de Gestão do Centro, que será gerido por Ana Paula Vilaça, que foi Secretária de Turismo, Esportes e Lazer na gestão passada, período em que o centro do Recife sofreu avanço da degradação e que ficou entregue à própria sorte pelo então Prefeito Geraldo Júlio (PSB). Foi na gestão de Ana Paula à frente da Seturel que o Parque de Esculturas Francisco Brennand teve 64 de suas 79 peças roubadas, sem que nenhuma atitude fosse tomada. A  mobilização para descobrir os vândalos só aconteceu depois que a imprensa denunciou a pilhagem. Esperamos, no entanto, que sua missão seja bem sucedida até porque ela tem bastante experiência na área de economia criativa. Vai ser preciso muito trabalho, porque o centro do Recife está se acabando. É só andar pelos seus bairros principais para se perceber a montanha de demandas.

Histórico e tombado, Mercado de São José passará por reforma segundo informou hoje o Prefeito João Campos.

João Campos disse que o novo escritório é “uma estrutura permanente, empoderada, e que vai poder tratar tanto de questões rotineiras quanto de pautas estratégicas de longo prazo para o centro da cidade”. O Recentro contará três  eixos de ação: incentivos fiscais, inovação e investimentos públicos. Os incentivos fiscais podem  variar de 50 a 100 por cento no IPTU, dependendo das intervenções para restauração ou reconstrução de imóveis degradados. Também haverá isenção total de ITBI e alíquotas reduzidas de ISS. Na parte de inovação, a Prefeitura prometeu a desburocratização no acesso a benefícios para empresas que queiram se instalar no parque tecnológico do centro, especialmente no bairro do Recife, Santo Antônio (Av Guararapes) e parte de Santo Amaro (muitas empresas desse setor já funcionam no Bairro do Recife).

O terceiro eixo trata de investimentos públicos para melhorar a paisagem do centro do Recife, em bairros como o próprio Recife Antigo, São José, Santo Antônio. Campos disse que essas intervenções já começaram, com a transformação da Rua do Bom Jesus só para pedestres, a iluminação do (pilhado) Parque das Esculturas e a reabertura da Casa do Carnaval (no Pátio de São Pedro). Disse o Prefeito que estão nos planos embutir a fiação no bairro do Recife e a restauração do icônico Mercado de São José, o mais antigo mercado público em funcionamento do país. Também prometeu iluminação cênica para os monumentos da cidade e deixar o centro mais iluminado com lâmpadas de Led.

Iluminação precisa mesmo. Qual o efeito de uma Igreja como a São Pedro dos Clérigos no escuro? E a Ponte da Boa Vista no breu?  E a Torre de Cristal, que passou tanto tempo às escuras? Então é preciso iluminar mesmo. Mas as ruas históricas e pontes deveriam ter preservadas as luminárias originais, que vêm sendo substituídas por outras, de material ordinário, que têm gerado verdadeiros atentados estéticos. Faltou falar no que será feito em nossas praças  (como a Dezessete e a Maciel Pinheiro), como será enfrentada a poluição visual de Ruas como Nova e Imperatriz, e como recuperar as calçadas cobertas da Avenida Guararapes, cada vez mais sem espaço para pedestres. Também não se pode falar em revitalizar o centro sem um programa social que melhore a vida dos moradores de rua, hoje ocupando praças, calçadas de monumentos históricos e até de igrejas seculares.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins / Hans Von Manteuffel / Genival Paparazzi (Acervo #OxeRecife)

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