O Ministério Público do Trabalho informou que estará de plantão no final de semana no Estado. O órgão anunciou hoje a iniciativa, como forma de evitar que trabalhadores enfrentem assédio eleitoral, principalmente no domingo, quando se realiza o segundo turno das eleições. É que essa prática que – guardadas as devidas proporções – nos fazem lembrar os currais eleitorais e os votos de cabresto, virou praga em 2022. No século passado, o antigo voto de cabresto era muito comum, principalmente nos grotões do Nordeste, onde os “coronéis” ditavam as leis. “Coronéis” era como a população chamava os líderes políticos do interior, que manipulavam o voto e resolviam a bala suas dissidências políticas.
Muito triste, portanto, que em pleno século 21, o Brasil se defronte com práticas tão nefastas e que pareciam superadas há tanto tempo. Comecei a trabalhar como repórter durante a ditadura militar, quando nem havia eleições diretas para Prefeitos de capitais, governadores, presidente. Depois, como repórter atuando em grandes veículos de imprensa, fiz cobertura de todas as eleições presidenciais, exceto a última, quando já tinha saído do jornalismo político. Porém, sinceramente, é a primeira vez que vejo universidades suspenderem as aulas por “temer a violência” devido ao acirramento da radicalização política. Pelo menos no nosso estado. Também não tenho lembrança de nenhum candidato tentando sugerir adiamento do pleito, como tentou fazer o Presidente Jair Bolsonaro, que disputa a reeleição.
E eleição é brincadeira agora, é? É festa de aniversário, baile ou quermesse para se marcar a data quando se quer, como pretendeu o ex-capitão? Também não tenho recordação de nenhum episódio como o envolvendo o ex-Deputado Roberto Jefferson, que recebeu policiais federais a bala e granada. Para completar, ainda tem patrão fazendo “assédio eleitoral”, uma expressão que eclodiu no decorrer da campanha e que parece ter ficado ainda mais frequente nesse segundo turno da eleição 2022. Como cidadã, estou fazendo a minha parte. Já risquei das compras qualquer produto ligado a empresários golpistas, que são aqueles que se aliaram ao Presidente contra as instituições democráticas. Suas empresas, todo mundo sabe quais são, incluindo as mais famosas, como a Havan e Coco Bambu. Até marca de detergente já pulou fora da minha lista de compras. É o jeito.
Melhor comprar produtos cujas marcas estejam comprometidas com o meio ambiente, a cidadania, a democracia. E boicotar todas as empresas acusadas de assédio eleitoral. Em 2022, quando o Presidente questiona a eficiência das urnas eletrônicas, um novo problema volta a aparecer por parte de empresas, o assédio eleitoral. Sabemos que, no tempo das cédulas impressas, havia muita manipulação. No interior tinha cabo eleitoral e até mesário preenchendo os votos com a caneta. E essa prática – que eu lembre – chegou a ser flagrada, uma vez, durante a apuração na sede do próprio TRE aqui no Recife. Lembro até quem era o candidato beneficiado: Nilo Coelho (1920-1983), que disputava o Senado. Hoje o MPT convocou empresários que são acusados de assédio eleitoral em Pernambuco: 26. Mas pouco mais da metade apareceu, o que deixou preocupada a Procuradora do Trabalho, Débora Tito:
”Das cerca de 26 instituições, dentre empresas, sindicatos laborais e patronais e entidades setoriais notificadas a comparecer, apenas 14 participaram. Se no âmbito pedagógico a gente já não teve a devida presença, isso traz um alerta de que as pessoas não estão dando a devida seriedade nesse ambiente polarizado. Hoje foi pedagógico, mas esses inquéritos continuarão e a gente vai apurar, inclusive no dia da eleição”.
O assédio ocorre quando o trabalhador é ameaçado, humilhado e constrangido não só pelo patrão, mas também pelo chefe ou mesmo pelo colega de trabalho. No Recife, o caso mais notório ocorreu na Loja Ferreira Costa, uma das empresas mais conhecidas do setor de construção no estado. Eleitora de Bolsonaro, uma chefe de setor constrangeu seus subordinados, mas foi exemplarmente punida pela direção da empresa: perdeu o emprego. O assunto deu até nota nos jornais. Já na cidade de Bezerros (no Agreste), o dono de uma loja de móveis ameaçou demitir seus funcionários, caso o seu candidato perdesse a eleição. E são suficientes para decidir uma eleição? Meu Deus… Débora Tito avisa que o combate ao assédio não se esgota na reunião de hoje (que teve caráter educativo) nem no domingo. Os inquéritos continuarão abertos, e a investigação continua”, diz. “O assédio é crime eleitoral e infração trabalhista”, lembra. “O voto é secreto, sigiloso e inviolável”. Denúncias pelo site mpt.mp.br
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e site do MPT