Um dia após ter ofendido a Ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, a quem comparou a “ prostituta”, “arrombada e “vagabunda”, o ex-deputado Roberto Jefferson recebeu a tiros uma equipe da Polícia Federal, ao resistir a ordem de prisão. Ele é aliado do Presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro. E protagoniza mais uma triste história de quem não sabe conviver com o estado de direito nem com a democracia. Achando pouco, ainda usou as redes sociais da filha, para insuflar a população contra o poder judiciário.
“Vou mostrar a vocês que o pau cantou. Eles atiraram em mim, eu atirei neles, oh. Estou dentro de casa, eles estão me cercando, mas vai piorar. Vai piorar muito. Mas eu não me entrego. Chega de abrir mão de minha liberdade, em favor da tirania. Não faço mais isso. Chega. Vou cair de pé, como homem que sou. Sou líder. O líder não é só de palavras. “O Brasil chegou no limite da tirania. Esses caras tiranizaram a gente. Xandão, Carmen Lúcia, Fachim. .. Chega, o pau cantou. Vou embora, mas deixo plantado o meu exemplo, não se entreguem ao Xandão”.
Xandão, é como Jefferson costuma chamar o Ministro Alexandre de Morais, do STF, e atualmente no exercício da presidência do Tribunal Superior Eleitoral. O Ministro é, também, um dos alvos de Jair Bolsonaro, que costuma tentar desautorizar suas decisões verbalmente até mesmo em comícios e lives. Além disso, tanto o Presidente quanto o ex deputado – que cumpre prisão domiciliar e usa tornozeleira eletrônica – são defensores do armamento e da facilidade de venda de armas para civis. O próprio Jefferson divulgou as imagens da sua reação, ao receber uma equipe da PF em sua casa, no bairro Levy Gasparian, próximo a Petrópolis, Rio de Janeiro.

O polêmico ex-deputado, agora visto pela sociedade como um marginal, está impedido pela justiça de usar as próprias redes sociais, depois de tê-las usado para incitar o uso de armas. A suspeita é que, além de ofender o STF, ele teria um arsenal em casa, para tumultuar o dia do pleito. No Recife, já ouvi comentário do gênero, vindo do irmão de um parlamentar eleito. Em um barbeiro, ele disse abertamente que se Bolsonaro perdesse a eleição, haveria “muitas mortes” porque o “pessoal todo está armado de norte a sul do país”. E quem assim pensa, e esse parece ser o caso de Jefferson, é quem exerce a tirania.
Sem acesso às redes sociais por determinação da Justiça (já que está em prisão domiciliar e só toma atitudes antidemocráticas e destruttivas, ele usou as da filha, Cristiane, para ofender a Ministra Carmen Lúcia no sábado. No domingo, uma equipe da PF foi lá prendê-lo, porém foi recebido sob disparos de arma de fogo. Há notícias de que uma policial teria sido ferida, enquanto um outro agente da PF foi atingido de raspão. Nas redes sociais, começou a circular uma campanha pedindo que o ex-deputado vá para a cadeia. Tudo em solidariedade à Ministra e às discriminações de gênero. MULHERESCOMCARMENLÚCIA #RobertoJeffersonnacadeia, Vamos aguardar, agora, a reação dos bolsonaristas. Ou melhor, dos extremistas de direita. Aqueles, que segundo o teólogo Leonardo Boff, são os adeptos do “fascismo tropical”.
No meu tempo de estudante e no início da carreira jornalística – durante os anos sombrios da ditadura – quem disparasse uma arma de fogo contra instituições oficiais ou tivesse arsenal em casa, era considerado terrorista. E isso que Jefferson e os Danieis Silveira da vida estão fazendo se chama o quê? O #OxeRecife espera que as instituições policiais e judiciárias mostrem ao povo brasileiro quem são os verdadeiros tiranos dessa história. E vamos salvar a democracia, votando em quem respeita as instituições democráticas e republicanas.
Abaixo, você confere mais informações sobre o fascismo tropical e fatos da época da ditadura
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Redes sociais