Mais uma ponte pilhada no Recife: Agora é a Maurício de Nassau

Mais uma ponte pilhada no Centro da cidade, o que não é incomum no Recife. Quem for nessa quarta-feira (17/8) ao show do cantor João Gomes e precisar passar pela Ponte Maurício de Nassau, vai perceber que falta alguma coisa.  Ela liga os bairros de Santo Antônio e do Recife (Antigo). Como vocês sabem, foi ali que foi construída a primeira ponte do Recife, ainda no século 17, durante a gestão do Conde Maurício de Nassau. E cuja história a ela ligada, a do Boi Voador, até hoje alimenta o imaginário popular.  A edificação atual, claro, não é mais a original, pois foi implantada no início do século passado, com estrutura em concreto, sendo ornamentada nas cabeceiras por quatro estátuas, representando a Sabedoria, a Agricultura, a Justiça e o Comércio.

Confeccionadas em ferro fundido, elas foram fabricadas na Fundação Val d´Osne, na França. De onde teriam vindo, também, duas placas do mesmo material. Há quem diga, no entanto, que as placas foram fabricadas no Brasil, em 1917, ano da inauguração da última versão da Ponte. Comenta-se até que a Fortaleza do Brum teria doado à época um canhão, para confecção das duas peças. Pois foi justamente uma destas que acaba de ser roubada, aquela que ficava sob a estátua da Justiça.  A denúncia é do leitor E. A, que pediu para não se identificar. “Acompanho seu blog #OxeRecife já há alguns anos, então acho que a senhora é a pessoa ideal para fazer essa denúncia com o intuito que esse absurdo seja visibilizado/resolvido”. Ele deu conta do sumiço e avisou, claro, ao #OxeRecife, que tem como objetivo defender os interesses da cidade sua gente. E também o seu patrimônio verde, o imaterial e o de “pedra e cal”.

Na foto do leitor, acima, a estátua como é hoje, sem a placa. Na central, feita por mim, a “Justiça” como era antes.

“Hoje, indo ao Recife Antigo, percebi que na cabeceira da ponte Maurício de Nassau, do lado da Avenida Martins de Barros, a estátua da ponte estava sem o seu respectivo painel. Fiquei assustado com o nível de descaso com o nosso patrimônio”, desabafa o leitor. E conclui: “O pior é que não encontrei nada sobre isso em lugar nenhum, penso que talvez tenham levado pra restaurar, mas parece mesmo que o painel foi roubado”.

 Tentei informação sobre o eventual furto junto à Autarquia de Limpeza Urbana e Manutenção do Recife (Emlurb), mas até o momento não chegou nenhuma explicação, apenas uma justificativa para o descaso, repassada pela Assessoria de Imprensa: “Há outras coisas mais importantes para resolver por aqui”. Respondi pensar que “o patrimônio histórico de nossa cidade  fosse importante”. Mas a assessoria de imprensa da Emlurb contestou: “Mas não só tem isso de importante, não acha?”. E completou: “Um buraco na via, na calçada, causa dano maior ao cidadão.  Se discorda, desculpe. Boa tarde”. Então tá, para a Emlurb o patrimônio histórico do Recife pode não ser importante. Pelo menos, é o que se deduz.

Provavelmente a placa foi pilhada para ter o mesmo destino das peças roubadas no Parque de Esculturas Francisco Brennand, de onde as obras de arte foram levadas para venda em ferro velho. Sinceramente, é muito triste ver isso acontecer nas ruas do Recife. Seja por excesso de vândalos na rua, seja por omissão do poder público. É como diz um amigo do Blog, que pediu para não se identificar. “Se você passar de carro ali e não parar, a câmera vê na hora e a multa chega logo em seguida, mas se você levar a estátua na cabeça, ninguém vê”. Pois é, são os mistérios da nossa gestão pública. Cadê o Recentro, não está vendo isso não, é? A Chefe do Recentro, Taciana Vilaça, aliás, era Secretária de Turismo quando pilharam quase todo o Parque de Esculturas, que fica em frente ao Marco Zero.

No Recife, aliás, tem a pilhagem feita por vândalos e marginais. Mas há, também, perdas devido à ação oficial como como a que aconteceu na Ponte Velha, de onde foram retirados 22 lampiões em estilo colonial pela Emlurb, no serviço de “recuperação” do sistema de iluminação do monumento.Ninguém sabe onde foram parar. Já na Ponte da Torre,  durante a última reforma, sumiu uma placa que prestava homenagem ao engenheiro Cândido Pinto, que ali sofreu um atentado feito por órgãos de segurança, durante a ditadura. Foi Agenor Tenório, leitor do #OxeRecife, que reclamou nesse espaço do sumiço da placa. Logo em seguida, ela foi recolocada pela Prefeitura. Já no caso do furto gigantesco das  65  das 79 peças  do Parque das Esculturas, no bairro do Recife, não há como negar: houve omissão das autoridades,  que nada faziam pelo Parque, deixando-o às escuras e sem vigilância. E só apelaram à polícia, quando o escândalo estourou na imprensa, depois que o #OxeRecife denunciou a pilhagem com exclusividade.  A omissão teve um custo alto: R$ 5,5 milhões, que é quanto a Prefeitura diz investir, nos trabalhos de recuperação do Parque. 

Nos links abaixo, você confere informações sobre pontes e outros monumentos da cidade.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Foto do Leitor e  Letícia Lins/ Acervo #OxeRecife

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