Nesses tempos de uso deslavado dos recursos públicos com fins eleitoreiros, nada como a “Campanha Não troque o seu voto”, que já está nas ruas. Infelizmente, na Região do Semi-Árido, onde secularmente a miséria norteava o voto dos sertanejos, que costumavam optar por candidatos que, durante os períodos de fome, ofertavam “arranjos” como carros pipa e cestas básicas. Em 2022, a prática clientelista volta a se repetir, dessa vez em caráter nacional. O voto “fisiológico” parece ser o buscado pelo ex-capitão que disputa a reeleição. E está aí a Proposta de Emenda à Constituição que aprovou um pacote de bondades no valor de R$ 41,2 bilhões. Detalhe: As “bondades” terminam após a eleição, pois só duram até dezembro. PEC mais eleitoreira, impossível, não é?
“A água é um dos recursos naturais mais preciosos do Semiárido. Diante disso, barganhar voto por esse bem comum, prática também conhecida como clientelismo, é histórica na região”, lembra a ASA (Articulação Semi-Árido Brasileiro). “O contexto atual, no qual um milhão de pessoas ainda não têm acesso à água de consumo humano no Semiárido e em um país onde a fome atinge 33,1 milhões de pessoas (de acordo com o 2º Inquérito VIGISAN), há um terreno fértil para as tentativas de compra de voto”, acrescenta. Pois é neste cenário de fome e sede, e sobre o qual a nuvem da desigualdade social voltou a pairar sobre as famílias agricultoras do Semiárido, que a Campanha Não Troque o Seu Voto acaba de retornar às ruas. Em 2022, ela entra em sua sexta edição. E a mobilização defende o voto em programas de governo, que considerem o desenvolvimento, por meio da garantia do acesso à cidadania das famílias agricultoras do Semiárido.

A campanha é orientada por diretrizes frutos de um debate político, mobilizado pela ASA, durante a sua primeira plenária nacional realizada presencialmente, no final de maio deste ano, envolvendo representações de organizações membro dos dez estados do Semiárido. Na ocasião, foram discutidos problemas relacionados à escassez hídrica, à fome, à insegurança alimentar, à violência contra a mulher rural, dentre outros temas. As propostas de políticas públicas para combater esses problemas estão reunidas na Carta “ASA por um Semiárido vivo”. Esse documento, além de orientar a pauta política das organizações nestas eleições, tem sido usado como ferramenta de negociação com candidatos e candidatas às eleições de 2022.
Considerando que o combate às desigualdades sociais na região semiárida dependem de ações sistemáticas e não pontuais, a mensagem desta edição defende e orienta o voto em projetos de governos alicerçados no bem estar social. Defende o voto pelo retorno dos programas de acesso à água, por apoio à agricultura familiar agroecológica, pela recuperação da Caatinga e do Cerrado, em defesa dos quintais produtivos e da produção e armazenamento de sementes e pelo combate à violência contra a mulher rural. A importância de votar em mulheres comprometidas com mulheres também está na pauta desta edição. A ideia é ampliar a presença feminina no Congresso Nacional, hoje restrita a 15%, e no Senado Federal, que não ultrapassa 13%, além dos poderes executivos estaduais.
Os conteúdos serão veiculados em formato de spots, vídeos, entrevistas e trabalhados em ações nas redes sociais. Os materiais serão compartilhados com a Rede de Comunicadores/as Populares da ASA, ligados às mais de três mil organizações membro e que têm acesso às famílias rurais, localizadas nas comunidades mais remotas. Essa rede, mais do que acesso, possui a confiança e cultiva um diálogo estreito com essas famílias, o que facilita o compartilhamento, mas também a compreensão das mensagens. Entrevistas e matérias sobre a campanha também serão trabalhadas no endereço www.asabrasil.org.br.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Asa