Grupo Bora Preservar: “Arruando” pelos teatros do Recife, os que se foram e que sobreviveram

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O dia estava lindo, de verão mesmo, mas não fui à praia, pois esse domingo houve mais uma edição de “Arruando pelo Recife”, do Grupo Bora Preservar, que hoje fez caminhada tendo como tema os teatros da cidade.  Tanto os que se foram (como o  Capoeira, o Teatro de Emergência Almare, e o Marrocos), quanto os que  fecharam e reabriram (como o Apolo e o Parque), os com muita história (como o Santa Isabel) e os que estão fechando (como o Valdemar de Oliveira). E ainda os bem pequenos, como o Arraial (na foto superior, o prédio rosa), o qual não possui nem uma centena de  poltronas.

Foi uma caminhada cultural, cheia de informações. Porém o Capoeira – por cuja história sou apaixonada – terá uma postagem à parte posteriormente. Concentração foi na Praça do Arsenal, de onde o grupo seguiu para o primeiro do roteiro: o Teatro Apolo, o mais antigo do Recife em funcionamento. E que começou a ser construído em 1839, pela Sociedade Harmônica Teatral. Após quase das décadas de funcionamento, perdeu público para o então recente Teatro Santa Isabel, o que o obrigou a fechar as portas. Segundo Denaldo Coelho, Coordenador do Bora Preservar e guia do primeiro trecho do passeio, o Apolo passou um século fechado, foi leiloado e terminou virando depósito de mercadorias. Na década de 1980 voltou à Prefeitura, ganhou reforma e reconquistou sua antiga função.

O Teatro do Parque, na Boa Vista, tem uma particularidade: é o único teatro jardim do Nordeste e um dos poucos no Brasil.

O Apolo fica na Rua do Apolo, e pelos seu corredor externo se tem acesso a um outro Teatro, o Hermilo Borba Filho, cuja fachada fica na Avenida do Cais do Apolo. O HBF homenageia o saudoso escritor, que também era ensaísta, autor e diretor de teatro. Junto com Ariano Suassuna fundou o Teatro do Estudante, passou pelo Teatro de Amadores e fundou, depois, o TPN (Teatro Popular do Nordeste). A parte interna do HBF lembra um galpão e sua plateia é móvel. Do HBF fomos à Rua do Imperador, onde no século 18 funcionou a curiosa Casa da Ópera, mais conhecida como Teatro Capoeira (que divertiu o Recife por 78 anos), e que vale uma postagem à parte.

Daí, seguimos para o Teatro Santa Isabel, que é monumento nacional, e cujo projeto tem a assinatura de Louis Lèger Vauthier. Inaugurado em 1850, ele não só sediou grandes espetáculos, como os debates que precederam a abolição da escravatura no Brasil. Mas na Praça da República, onde ele se situa, fomos informados que, ali bem pertinho, funcionaram mais dois teatros já extintos: o Teatro de Emergência Almare e o Marrocos (este onde hoje há uma agência da Caixa Econòmica Federal). O primeiro funcionou em um barracão, sob a liderança de Barreto Júnior, que depois fundaria o Marrocos, conhecido pelas suas vedetes e pelos espetáculos de revista. Pelo palco do Almare passou a famosa vedete Luz Del Fuego. Já o Marrocos tinha má fama. Mas nem sempre.

Enganam-se os que pensam que o Marrocos sempre foi teatro de “safadeza”, como era comum ser chamado. “O Marrocos antes era muito sério. Tinha audições musicais, concertos. Eu era criança, ainda usava meia soquete e me apresentava tocando acordeon”, contou Cláudia Mindelo, que se apresentou várias vezes com Mário Mascarenhas e que estava no grupo, curtindo o passeio e a história de nossos teatros.  “O Marrocos era altamente respeitado, pois se não fosse, meu pai, que era auditor fiscal e muito rígido, não permitiria que a filha se apresentasse lá. Depois foi que virou bagunça”.

O passeio ainda passou em frente ao Teatro do Parque, que foi restaurado recentemente e recuperou o esplendor, já com nosso guia Emanoel Coreia. E roteiro com um ato no Teatro Valdemar de Oliveira, que já se chamou Teatro de Amadores de Pernambuco e Nosso Teatro. A casa de espetáculos, que já sobrevivera a um incêndio, foi saqueada e atualmente está invadida por moradores de rua. O grupo “Bora preservar” deu um abraço simbólico no Teatro e depois, Emanoel Correia leu um poema em homenagem a Valdemar Oliveira, seu fundador.

Confira a galeria de fotos, do passeio realizado hoje

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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4 comments

  1. Que texto fantástico Letícia, sou um pouco suspeito pra falar, primeiro porque sou seu fã e depois pelo tema! Como você tb fiquei encantado com a história do Teatro Capoeira. Que história interessante e pouco conhecida da população! Vou aguardar ansioso pela matéria!! Obrigado mais uma vez e parabéns pelo texto Letícia! 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽

  2. Nosso estado tão rico de história, com belos casarios, teatros que remontam a aristocracia do Brasil colônia, mostram como era viver no Recife em tempos idos. O grupo Bora Preservar nos traz conhecimento cultural que desperta em nós o desejo de preservar os prédios, as pontes, igrejas, mercados, a cidade toda que conta parte da nossa história, nossa cultura. Parabéns pelo belo texto Letícia!

  3. Ótimo texto sobre a nossa caminhada através do Grupo Bora Preservar. A história deve ser contada e o patrimônio defendido e preservado, para que as futuras gerações não esqueçam as suas raízes.

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