Que coisa boa. Estamos a caminho de termos mais um santo brasileiro. E nordestino, o nosso Dom da Paz. É que o acervo requisitado pelo Vaticano para dar continuidade ao processo de beatificação e canonização de Dom Hélder Câmara (1909-1999) será entregue à Arquidiocese de Olinda e Recife na sexta-feira (27). O ato ocorre após missa que assinala os 22 anos do falecimento do religioso, que será celebrada a partir das 19h na Catedral da Sé,em Olinda.
Os documentos foram digitalizados e impressos pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), contemplando textos e programas de rádio escritos pelo arcebispo emérito de Olinda e Recife. Na verdade, a Cepe digitalizou e imprimiu sete coleções, que pertencem ao Instituto Dom Helder Camara (IDHeC). Não foi pouca coisa. São 60.520 páginas organizadas em correspondências (41 volumes), programas de rádio (33 volumes), discursos (31 volumes), hemeroteca (25 volumes), cartas circulares (24 volumes), meditações (19 volumes) e livros (7 volumes). Representantes do IDHeC entregarão os documentos ao Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido. E de lá, seguirão para o Vaticano.
De acordo com o superintendente de Digitalização, Gestão e Guarda de Documentos da Cepe, Igor Burgos, o trabalho de reprodução digital do acervo de Dom Hélder teve início há quatro anos, por meio de convênio da Prefeitura do Recife com o IDHeC. “Eles financiaram e nós digitalizamos aproximadamente 150 mil imagens, que foram colocadas no portal acervocepe.com.br”, informa. O acesso é gratuito e qualquer pesquisador ou admirador do Dom pode recorrer às informações, bastando acessar o site. Porém o IDHeC adicionou duas coleções ao material selecionado para ser enviado à Congregação das Causas dos Santos, em Roma – a de livros e a de meditações.
Juntas, estas somam cerca de 10 mil imagens, diz Igor Burgos. Mas elas ainda não estão disponíveis na Internet. “As novas coleções foram digitalizadas recentemente, fazem parte dos documentos impressos com apoio da Cepe e serão inseridas no portal em setembro”, acrescenta. Dom Hélder, o Dom da Paz, foi uma das autoridades religiosas mais perseguidas durante a ditadura militar implantada em 1964, pela sua incansável luta em favor dos direitos humanos, em uma época que a tortura era institucionalizada nas masmorras do regime.
Ele sofreu atentados, teve um dos seus principais auxiliares torturado e assassinado (o Padre Henrique Pereira Neto) e seu nome era proibido de ser até citado na Imprensa. Os censores da ditadura não permitiam publicação de nenhuma notícia a seu respeito. Nem mesmo para falar sobre as atividades religiosas da Arquidiocese. Foi, também, um dos idealizadores das comunidades eclesiais de base e da Teologia da Libertação. Dom Hélder Pessoa Câmara nasceu na cidade de Fortaleza, capital do Ceará, em 7 de fevereiro de 1909 e morreu no Recife em 27 de agosto de 1999, aos 90 anos. Foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), atuou como arcebispo de Olinda e Recife de 1964 até 1985 e é conhecido internacionalmente pela defesa dos direitos humanos durante a ditadura militar no Brasil. Seu nome chegou a ser sugerido para ganhar o Prêmio Nobel da Paz.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Prefeitura Municipal de Olinda e Acervo da Arquidiocese de Recife e Olinda