Perto de virar santo – o processo de canonização encontra-se em tramitação no Vaticano – o ex Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, tem a memória preservada com mais segurança, a partir de agora. É que foi inaugurado no domingo a nova sede do Centro de Documentação Dom Helder Câmara (CEDOHC), que guarda acervo histórico do religioso com mais de 200 mil páginas de manuscritos além de 18 mil imagens, livros, vídeos, correspondências. Com a iniciativa, fica mais fácil, também, o acesso de pesquisadores aos documentos históricos.
Eles estavam sob a guarda da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) desde 2020, quando o prédio original foi invadido e vandalizado. Agora, o material retorna ao espaço idealizado pelo próprio Dom Helder, garantindo preservação, pesquisa e acesso público. O CEDOHC está instalado no Edifício Arquiteto Zildo Sena Caldas, ao lado da Igreja das Fronteiras, no bairro da Boa Vista. O espaço abrigará o acervo do religioso, mundialmente conhecido como defensor dos direitos humanos e da paz.

A Prefeitura do Recife celebrou um convênio que prevê repasse anual de R$ 300 mil para ajudar na preservação do acervo e atividades do centro. A parceria para o novo CEDOHC contou ainda com apoio de diferentes secretarias municipais, incluindo o Programa Parceria, da Defesa Civil, e iniciativas culturais como o “Recife Sagrado” e o “Música na Igreja”. O primeiro consistiu na inclusão da Igreja das Fronteiras no Programa Recife Sagrado, que facilita a visita de turistas aos templos do Recife, com assistência de guias. O segundo é um programa que leva apresentações gratuitas de grupos musicais às igrejas barrocas da cidade, e que não incluía antes Igreja das Fronteiras, que é de construção mais recente.
“O povo que não conhece a sua história, que não tem memória, também não tem presente nem futuro. Esse espaço é para que as futuras gerações possam ter acesso à memória de alguém tão importante. Esse é o papel deste espaço: guardar a memória”, destacou Dom Paulo Jackson, arcebispo de Olinda e Recife, que, na ocasião, fez uma benção na inauguração do espaço.

“Dom Helder precisa ter a sua história preservada, mantida, sobretudo para ensinar as futuras gerações. Eu me incluo numa geração que não teve o privilégio de conviver com ele. Embora tenha sido sempre uma referência muito próxima, acho que a maior ligação entre nós é o meu avô materno, que foi o médico de Dom Helder e era um grande amigo dele. Mas precisamos ter essa capacidade de permanecer sempre com a chama viva, por isso temos um convênio da Prefeitura com o Instituto, para ajudar”, disse o Prefeito João Campos, que esteve na inauguração do CEDOHC. E se comprometeu a enviar projeto de lei para a Câmara para perenizar isso a parceria, independente de quem esteja na gestão.
Conhecido como o “Dom da Paz”, Dom Helder Câmara foi indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz e marcou sua trajetória pela defesa dos mais pobres e pela luta contra as desigualdades sociais. Sua atuação no Concílio Vaticano II e sua vida dedicada à justiça social inspiram até hoje novas gerações. Recentemente, seu nome foi aprovado pelo Congresso Nacional para ser inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, aguardando sanção presidencial. No Vaticano, tramita processo que pode transformá-lo em Santo.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Edson Holanda/Prefeitura do Recife
