Dicionário com cem verbetes mostra efeito devastador do Negacionismo

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Se tem um nome que entrou de vez no vocabulário dos brasileiro foi este: negacionismo. Principalmente na gestão do ex-capitão que preside esse País, que recusou-se a reconhecer a gravidade da pandemia chamando-a de “gripezinha” e chegou a insinuar que os brasileiros não deveriam se vacinar contra a Covid-19. Ele mesmo diz não ter se imunizado. Até porque Bolsonaro afirmou, com todas as letras, que quem se vacinasse viraria “jacaré”.  Também não reconhece a destruição da Amazônia. Mais negacionista, impossível. O homem nega até a história. Diz que ditadura militar não existiu, que em 1964 não houve tortura.

Tem negacionismo maior do que o que a gente vê hoje no País? Para o professor de sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, José Luiz Ratton  (foto ao lado), é necessário fazer a distinção entre negação e negacionismo. “O processo de negação é algo ao qual todos estamos sujeitos individualmente. Já o negacionismo é coletivo e costuma se espalhar em tempos de guerra ou de crise, incentivado por indivíduos com alguma influência sobre a coletividade”, ensina.  E cita exemplos de negacionistas, entre eles o recentemente  falecido filósofo Olavo de Carvalho, guru do setor mais radical do governo federal. E também o próprio Jair Bolsonaro, claro. Assim como o ex-presidente dos Estados Unidos (Donald Trump) e o seu estrategista (Steve Bannon).

Segundo o sociólogo, é através desses gurus do negacionismo que a democracia é posta em xeque, a partir de informações falsas que buscam somente atender aos interesses de quem as divulga. Não é à toa, portanto, que o público está ganhando um bom indicador, para melhor entender o fenômeno: o Dicionário dos Negacionismos no Brasil, organizado por dois pesquisadores: o  próprio José Luiz Ratton (de camisa estampada) e José Szwako, este doutor em Ciências Sociais pela Unicamp (de camisa lisa).

Com 336 páginas e cem verbetes , o livro será lançado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), na terça-feira (19/4), no Museu do Estado, às 19h, com a presença dos autores. Os cem verbetes são assinados por igual número de pesquisadores de diversas áreas científicas. E  o livro discorre sobre atitudes de negação coletivas em áreas como ciência, história, educação e meio ambiente, e suas consequências devastadoras. E no dia 20, também às 19h, haverá uma conversa sobre a obra no site oficial da Cepe no YouTube. Com a presença dos organizadores e do antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares,  e da pesquisadora da USP, Heloísa Buarque de Almeida. Fiquem atentos ao alerta dos autores, segundo os quais o objetivo dos negacionistas, é  muito claro: gerar medo, insegurança e dúvida cognitiva na comunidade. O que, aliás, a gente mais vê no governo Bozó. Ufa….

“A ampla variedade de negacionismos contemporâneos (científicos, políticos, raciais, de gênero e históricos, por exemplo) é fruto das estratégias de grupos hegemônicos ressentidos com a perda relativa de status e a expansão de direitos de coletividades historicamente oprimidas”, escrevem Ratton e Szwako. Um lembrete. O que a gente não para de ver por aí são “influencers” e grupos das redes sociais  que negam a ditadura civil-militar e a tortura; o impacto climático e ambiental do aquecimento global; a pandemia de covid-19 e a eficácia da vacina; o racismo e o sexismo. Tem até terraplanismo, entre outras negativas. “Negar fatos difundidos pela ciência retira sua credibilidade e incorre em uma tentativa de revisionismo da história e de apagamento da memória histórica. A tecnologia empregada em redes sociais como Twitter, Youtube e Facebook proporciona um enorme alcance de público das fake news, também chamadas de pós-verdades”, explica Ratton.

Para o doutor em sociologia pela Universidade de Oxford e colunista da Folha de São Paulo, Celso Rocha de Barros, autor da apresentação do livro, os pesquisadores que assinam os textos “produziram um documento que atesta a teimosia da democracia, da busca pelos fatos e da paciência do diálogo. Os verbetes aqui elencados não são, de modo nenhum, a palavra final sobre os fatos; mas todos eles aceitam o teste dos dados, da lógica e da argumentação moral. Se o debate público brasileiro tivesse se pautado por estes princípios nos últimos anos, nossas instituições seriam mais sólidas, nossas vidas seriam melhores, e centenas de milhares de brasileiros que se foram durante a pandemia ainda estariam na conversa”, escreve Celso.  E alerta:

Colocar em dúvida a ciência pode ser sinônimo de aumento da desigualdade social e da qualidade de vida. E não só isso. O pós-negacionismo consiste em um ataque violento à ciência e à democracia, como forma de intimidação, para constranger as pessoas e implantar um pós-fascismo 

Entre os verbetes que constam no Dicionário estão: genocídio à brasileira, gripe espanhola (Brasil), imprensa negacionista, água,  Aids e negacionismo, China e até Música Popular Brasileira. Resta-nos saber o que dizem os especialistas a respeito de cada um desses assuntos.

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Serviço:
Lançamento do livro Dicionário dos negacionismos do Brasil (Cepe Editora)
Quando: 19 de abril
Onde: Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), nas Graças
Horário: 19h
Preço: R$ 60 (livro impresso); R$ 24 (E-book)

Dia 20, às 19h, no canal oficial da Cepe no YouTube (https://www.youtube.com/cepeoficial): conversa com José Luiz Ratton, José Szwako, Luiz Eduardo Soares e Heloísa Buarque de Almeida

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Cepe / Divulgação

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