No Dia Mundial da Água, uma notícia triste. E ao mesmo tempo vergonhosa. Em pleno século 21, apenas nove capitais brasileiras atendem 99% da população com acesso à água potável. A situação do Recife inclusive deixa muito a desejar, pois só não é pior do que Terezina, São Luís e Maceió (Região Nordeste); e do que Manaus, Belém, Rio Branco, Porto Velho e Macapá (que ficam no Norte).
Ou seja, no Brasil, o acesso à água potável ainda não é uma realidade para muitos brasileiros e brasileiras. São mais de 32 milhões de habitantes que permanecem sem direito ao recurso hídrico. Segundo informações presentes no Ranking do Saneamento 2024, estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil, das 27 capitais brasileiras, somente nove possuem ao menos 99% de abastecimento total de água, que é um direito universal.
Entre as que levam água a 100 por cento de sua população, encontram-se Curitiba (PR), Vitória (ES) e Belo Horizonte (MG). A média oficial de cobertura de abastecimento de água potável no Recife (98,71 por cento) é maior do que a registrada no Brasil como um todo (95,68 por cento). Porém o Recife está entre as capitais que mais registram perdas de água (60,9 por cento), só ficando atrás de Macapá (71,43 por cento) e Porto Velho (77,32 por cento).
Ou seja, alguma coisa está errada no sistema de monitoramento de perdas, se é que este existe na Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), que tem o monopólio de abastecimento e saneamento na capital e em grande parte do estado. Segundo o Instituto Trata Brasil, a situação do país é “bastante heterogênea”, apesar da média geral indicar cobertura de 95,68 por cento no Brasil. É que há capitais na Região Norte com indicadores de acesso à água potável próximos ou abaixo de 50%, como Macapá (AP), com 54,38%; Rio Branco (AC) com 53,50%; e Porto Velho (RO), com 41,79%. O que é lamentável. Aliás, deplorável. Não gosto de usar adjetivos, mas não há outro jeito para definir essa situação.
“O panorama de perdas de água também liga um alerta para as capitais brasileiras”, adverte o Trata Brasil. Somente duas, Goiânia (GO) e Campo Grande (MS), apresentaram índices menores que 25%, com 17,27% e 19,80%, respectivamente. Entre as capitais, a média é de 41,38% em perdas – porcentagem maior que a média nacional de 37,8%. “A ineficiência em controlar as perdas de água nos sistemas de distribuição traz impactos negativos ao meio ambiente, à receita e aos custos de produção das empresas e, principalmente, afeta o abastecimento para todos os habitantes da localidade”.
No Recife, é comum vermos não só acessos clandestinos à água da rede pública, como também muitos vazamentos pelas ruas. E não são poucos. Quando não é de esgoto, é de água limpa mesmo. E tratada. Hoje, em minha caminhada matinal, encontrei quatro vazamentos nas ruas, todos derrame de água limpa. No nossa cidade, a prestação de serviço da Compesa deixa muito a desejar. Perdas sempre são observadas. O pior é que tem bairro que embora esteja conectado à rede, está com as torneiras secas há mais de mês. Um exemplo do problema foi vivenciado por Severina Josefa Oliveira, Dona Biu, residente no bairro do Vasco da Gama, um alto do Recife. Ela passou uma década sem água na torneira, serviço só restabelecido pela Governadora Raquel Lyra, que cumpriu promessa de campanha de não deixar os moradores do bairro às secas. Enquanto isso, são muitos os registros de água escoando pelo “ralo”. Nos noticiários – TV, jornais, emissoras de rádio, redes sociais – as reclamações são diárias, tanto de perdas quanto de falta d´água nas torneiras.
Hoje , em celebração ao Dia Mundial da Água, a governadora Raquel Lyra PSDB) anunciou investimentos no valor de R$ 51,9 milhões para obras de abastecimento de água nos municípios do Recife, Olinda, Paulista e Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. “Cerca de 500 mil pessoas serão beneficiadas com mais água nas torneiras”. E 14 bairros da Zona Norte do Recife – cerca de 179 mil pessoas – contarão com substituição de redes antigas, implantação de novas ligações, setorização para controle da vazão. Ela também prometeu retomar obras paradas e perfuração de poços (ou ativação de poços já perfurados).
Confira os números na tabela sobre situação nas capitais, divulgada hoje pelo Instituto Trata Brasil:
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife
Tabela: Instituto Trata Brasil