Nas cidades, inclusive no Recife, é cada dia mais comum a quantidade de imóveis com painéis solares sobre o telhado. Uma alternativa para enfrentar os gastos crescentes com a conta de energia. Mas agora o sol vem sendo utilizado, também, para outra função de grande utilidade em áreas como o Agreste e o Sertão. É que já está em uso no interior de Pernambuco o primeiro equipamento do mundo voltado para tornar potável a água de cisternas, por meio do sol. Com o nome de Aqualuz, ele vem sendo instalado em pequenas propriedades pela Agência de Desenvolvimento Econômico Local. A Adel é uma respeitada entidade – sem fins lucrativos – que implanta soluções para melhorar a vida das comunidades. Até o momento, 70 equipamentos já foram instalados em três municípios pernambucanos.
Segundo informações encaminhadas pela Adel ao #OxeRecife, o Aqualuz é uma tecnologia simples e de fácil manejo. A Adel trouxe a SDW (fabricante do produto) para trabalhar a desinfecção da água das cisternas junto com as famílias do campo. A purificação da água é realizada na fase de armazenamento, após a filtração, em que a água fica exposta ao sol. Nesta etapa, a radiação solar e a alta temperatura atuam de modo a desativar o DNA dos patógenos presentes na água, tornando-a potável. A tecnologia utilizada age de modo a eliminar os micro-organismos presentes, não sendo necessário utilizar produtos químicos. O dispositivo foi desenvolvido especificamente para o contexto do Semiárido nordestino de forma a aplicar a metodologia do SODIS (sigla em inglês para Purificação Solar da água) considerando aspectos culturais e socioeconômicos da população local.
A tecnologia do Aqualuz foi desenvolvida pela startup nordestina SDW, que já foi premiada e reconhecida até pela ONU. Todo o trabalho de implantação, no entanto, é executado pela Adel. “As cisternas vão beneficiar um total de treze comunidades. Com a ação, nós vamos universalizar o acesso à água potável a todas as famílias de baixa renda da zona rural do entorno; um território bastante extenso, mas que ainda não tinha nenhum reservatório de água”, explica o diretor de novos negócios da Adel, Wagner Gomes. O equipamento é simples e de fácil manipulação. Cinco jovens dos municípios beneficiados já participaram oficina de capacitação sobre o funcionamento e implantação de tecnologias sociais voltadas para a captação, armazenamento, gestão e tratamento dos recursos hídricos. O Aqualuz já chegou aos municípios de Capoeiras, Caetés e Venturosa, todos em Pernambuco. Com função que provoca surpresa de alguns lavradores, como é o caso de Edson Costa, 24, que foi beneficiado com cisterna perto de sua casa.
Eu fiquei impressionado, porque quem poderia imaginar que a água pudesse ser tratada naturalmente, com uma coisa que a gente tem tanto: o sol?”
O #OxeRecife já teve oportunidade conferir outros trabalhos da Adel em Pernambuco, todos interessantes, inclusive com respeito à agricultura orgânica e à educação ambiental. No Semi Árido, onde a crise hídrica não é de hoje, as cisternas facilitam a vida de quem mora na caatinga. Com a água purificada, melhor ainda. A instalação de equipamentos Aqualuz integra o Programa Echosocial- Ventos que Transformam, que tenta mudar a realidade de moradores que ficam nas proximidades do parque eólico da Echoenergia. Uma das ações é a construção de 126 cisternas de placas no território e instalação do Aqualuz. Até o momento, 70 dispositivos foram instalados nas cisternas. A entidade executora do Ventos que Transformam é Adel, que por sua vez contratou a SDW, para implantação do sistema e treinamento das famílias beneficiadas.
Leia também
Ventos que transformam no Agreste
Energia a partir dos ventos e água para quem tem sede no Agreste
Longe dos ataques verbais de Brasília, Amazônia e Nordeste se entendem
Mudanças climáticas: Caatinga cada vez mais seca e Sertão quase sem água
Empresa de energia solar (Insole) paga conta por uma boa ideia
Reforço para pequeno produtor
Ministro manda oceanógrafo para caatinga. E o Sertão já virou mar?
Crise hídrica: ” tenho sede” e “esta sede pode me matar”, adverte Gilberto Gil
Cisternas mudam a vida dos sertanejos
MapBiomas confirma alerta feito há meio século: “O Rio São Francisco está secando”
Velho Vhico recebe 40 mil peixinhos
De olho no Sertão do São Francisco
Desmatamento no Sertão do Araripe
FPI: A despedida da vida no lixão
FPI resgata animais em risco no Sertão
A Serra da Canoa na caatinga
Gatinho órfão, onça puma volta saudável para a caatinga
Falta d´água é entrave ao crescimento
No Sertão, palhada da cana alimenta o gado de 51 mil criadores
Degradado, Sertão vai ganhar ação de reflorestamento em 2021
Caatinga ganha 321 mil árvores nativas
O Rio São Francisco está secando
Ventos que transformam no Agreste
Prêmio para quintais agroecológicos
MST: Da ocupação de terras ao plantio de 100 milhões de árvores
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / Adel / Echosocial Ventos que Transformam