Após pilhagem, Parque de Esculturas no Marco Zero começa a ser restaurado

Depois de ser pilhado à exaustão na gestão passada – quando perdeu 64 de suas 79 peças, segundo os próprios órgãos oficiais – o Parque de Esculturas Francisco Brennand finalmente começa a ganhar obras de restauro e reposição do que foi roubado. Pelo menos, é o que informa a Prefeitura do Recife, que deu início aos trabalhos no sábado. A intervenção deverá consumir um ano e o valor total do investimento é de R$ 5,5 milhões, dinheiro que poderia ter sido aplicado em outras demandas, caso o poder público não tivesse deixado acontecer o descalabro que chocou o país, pois até uma peça gigante, uma serpente com mais de 20 metros de comprimento foi levada pelos marginais, que negociaram as obras de arte com lojas de ferro velho. À época, a pilhagem gigante foi denunciada pela La Ursa Tours e divulgada com exclusividade pelo #OxeRecife.

Assinado pelo artista plástico Francisco Brennand e inaugurado em dezembro de 2000, o parque foi projetado para celebrar os 500 anos do Brasil e hoje é um dos mais importantes cartões postais da capital pernambucana.  Nem por isso foi cuidado como deveria e o furto de suas peças virou notícia nacional. As obras serão realizadas pelo co-autor do projeto do parque, Jobson Figueiredo, sendo acompanhadas pelo Gabinete de Projetos Especiais da PCR. A intervenção será feita em etapas. Durante todo o período de realização de obra, o parque permanecerá aberto ao público, sendo cada uma das peças isoladas para a realização dos serviços. Pelo menos, ele não está às escuras como antes.

Gigantesca, essa serpente em bronze foi levada pelos marginais, com a facilidade de quem rouba cesta de laranjas.

O espaço só será fechado à visitação quando houver a necessidade de uso de equipamentos maiores para realizar a remoção de alguns itens que sejam necessários de serem levados para a Oficina Brennand. A primeira ação desta etapa é o isolamento da base da Torre de Cristal, que conta com pouco mais de 30m de altura, para recuperação da escadaria interna da estrutura. Depois será a vez das peças de cerâmica lisa, seguidas da restauração das peças em bronze e, por fim, as cerâmicas esculpidas. As peças de bronze eram as mais visadas pelos marginais, e muitas delas chegaram a ser derretidas após a venda.  Alguns suspeitos foram presos, só após pipocar o clamor da opinião pública contra a pilhagem de parque tão querido da população.

De acordo com a PCR, o total  de peças a passar por restauro é reposição é de uma centena, embora à época da divulgação do furto tenha sido divulgado que o total era 79, da quais 65 haviam sumido. “Ao todo, o Parque das Esculturas conta com mais de 100 peças que, simbolicamente, representam parte da história da capital pernambucana a partir de elementos característicos das obras de Francisco Brennand. Dessas, 8 peças em cerâmica  passarão por obra de restauro ali mesmo no parque e as outras 79, em bronze, serão reproduzidas a partir dos moldes originais. Ovos, pelicanos, serpentes, totens são algumas das figuras que fazem parte do conjunto da obra que é destino turístico e cenário fotográfico do Recife”, informa nota da PCR.

As marcas do vandalismo estão em todos os recantos do Parque de Esculturas, que assinala data histórica.

Após passar anos no breu, o que facilitou a ação da bandidagem, a PCR informou que “somente neste ano, o Parque de Esculturas ganhou iluminação cênica e a instalação de sistema de videomonitoramento infravermelho, monitoramento 24h da Secretaria de Segurança Cidadã do Recife e reforço de vigilância realizado em três turnos diários de 8h cada por dois vigilantes a cada turno no local”. Ainda bem, o Recife já sofre muitos maus tratos por parte dos vândalos, e uma obra imensa como a de Brennand não merecia o abandono a que foi relegada, quando até mesmo a polêmica Torre de Cristal ficava às escuras durante a noite.

Eleito, uma das primeiras medidas a ser anunciada pelo Prefeito João Campos (PSB) foi justamente a recuperação do Parque, um dos principais cartões de visita de nossa cidade e hoje um dos principais atrativos turísticos do centro do Recife. O artista plástico Francisco Brennand (1927-2019) deixou uma infinidade de obras – quadros, painéis, murais, esculturas – sendo que o Parque de Esculturas e sua própria Oficina Francisco Brennand (na Várzea) se transformaram em atração turística. A Oficina é visitada por turistas de todos os lugares, uma verdadeira Catedral da Arte que é reconhecida em todo o mundo.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Acervo #OxeRecife

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