Lei Seca e o barulho infernal das motos

Compartilhe nas redes sociais…

Iniciativa que tem o que mostrar, a Operação Lei Seca (OLS) completa, neste mês, uma década de atuação junto aos motoristas pernambucanos, período em que abordou 3.243.128 condutores e fez 58.169 autuações por alcoolemia. Estimativas do governo estadual indicam que a OLS teria evitado 13 mil mortes ao longo de dez anos.  Já as autuações correspondem a 1,8% do total das checagens realizadas no Estado. É incrível que, com todo esse aparato, ainda sejam registradas tragédias de trânsito e até destruição de famílias devido ao consumo de álcool por parte dos cachaceiros que teimam em permanecer ao volante. No final de semana, por exemplo, Marília Maria Guedes, 37, foi atropelada por uma moto, quando atravessava uma uma rua no bairro de Nova Descoberta, para visitar a mãe.  Com o impacto, foi jogada para longe. O condutor da moto estava completamente embriagado, segundo a polícia pernambucana.

Eu dou nota dez à Lei Seca. Mas acredito que todo o seu aparato (incluindo o policial) poderia ser aproveitado para recolher as motos não só conduzidas pelos cachaceiros, como as que têm feito um barulho infernal nas ruas do Recife e em outras cidades do estado. Em Pernambuco, a Lei Seca é coordenada pela Secretaria Estadual de Saúde. O que é certo, porque o alcoolismo e outras drogas ilícitas além de problema para a segurança viraram um caso de saúde pública. Mas a poluição sonora também deveria ser um problema de saúde, porque não há nervos que a suporte. E também de segurança, porque na Região Metropolitana já registrou de assassinatos em decorrência de brigas por conta do excesso de barulho. Então, bem que seria bom se a fiscalização da OLS incorporasse a tarefa de apreender motos barulhentas, pois é grande a quantidade que ultrapassa todos os limites.Já que tem equipe na rua, acrescentar essa tarefa nem implicaria em novos custos. É decibel explodindo para todo lado. Não sei se isso demandaria em convênio, parceria, entre a Secretaria de Defesa Estadual, CTTU, Secretaria de Saúde.  Aí é com os órgãos oficiais. Mas que seria bom, seria.

Diariamente, os jornais publicam cartas indignadas de leitores que não conseguem dormir por conta do barulho provocado por motos “envenenadas”. Na Zona Sul, à altura de Boa Viagem, a reclamação é geral. Há dias que parecem combinar, porque são muitas fazendo zoada ao mesmo tempo.  Se uma moto envenenada incomoda, imaginem um monte… Naquele bairro, dizem, o problema maior é na quinta-feira. E elas passam sem dó em frente a hospitais, maternidades, asilos de idosos. A qualquer hora. Um horror! Mas no Recife, andar com motos insuportavelmente barulhentas parece que virou moda. Já vi até policiais militares conduzindo motos nessas condições. E o que é pior, ninguém faz nada.  Nem SDS, nem SEI, nem CTTU, nem Detran. Porque, então, não se aproveita todo esse aparato da OLS para apreender as motos, obrigando os seus condutores a regularizá-las?  A sociedade agradece. Do jeito que o problema só faz aumentar, até parece que compensa burlar a lei.

Por que o aparato policial da Lei Seca não é usado para apreender motos barulhentas?

Voltando ao álcool da OLS, das 58.269 autuações por alcoolemia, 77% delas ocorreram por recusas ao teste do etilômetro, o que corresponde a 45.047 condutores. Outros, 11.179 motoristas foram autuados por constatação e 2.043 por crime de embriaguez, que representam 3,5% em relação às infrações. Nos dez anos, 59.811 motoristas tiveram sua Carteira Nacional de Habilitação recolhida. Ou seja, pinguço até as horas na direção dos carros. “Sabemos que o enfrentamento aos acidentes de trânsito é considerado um problema de saúde pública e o quanto é perigosa a combinação entre álcool e volante. Podemos dizer que, ao longo destes dez anos, a missão da Operação Lei Seca em Pernambuco tem sido, acima de tudo, promover uma mudança de cultura e de hábitos com relação ao comportamento das pessoas no trânsito”, afirma Felipe Gondim, Coordenador da OLS em Pernambuco.

“ É dever de todos garantir a segurança e preservar a vida. Obviamente que não queríamos ter números de infrações por alcoolemia, no entanto, em uma análise histórica, percebemos que as autuações desde 2012 se mantêm em níveis baixos, não ultrapassando 3,5% do total de abordagens a cada ano. Em 2021, uma década após a criação da Lei Seca, segundo projeção realizada pela Secretaria de Defesa Social, temos a estimativa de mais de 13 mil de vidas salvas em Pernambuco”, diz.  É obrigação do estado, também, garantir aos cidadãos o direito ao silêncio assim como punir agentes perturbadores da ordem, que são os motoqueiros que não deixam ninguém dormir, a qualquer hora da noite. O barulho é tão grande que parece turbina de avião! Aliás, no Recife, o som alto impera não só no escape livre das motos, mas também em bares, residências, restaurantes, associações recreativas, casas de recepções. E o pior, fiscalização e punição que é bom… nada. Neste final de semana mesmo apelei para o 190. Porque no sábado, ninguém conseguia dormir aqui no bairro, Apipucos, antes considerado silencioso e tranquilo. E era som de batidão, parecia até que alguém estava colocando estaca para erguer um edifício… Meu Deus….

Leia também
O trânsito é nó cego
Ônibus elétricos fazem falta no Recife
O melhor guarda de trânsito do Recife
Automóvel é transtorno para muitos
Bonde virou peça de museu e trilhos somem do Recife sem memória
Teatro para educação no trânsito
Risco em travessia na Rua da Aurora
Drink Bus, o ônibus da Zona Norte
Faixa de pedestre leva a lugar nenhum no parnamirim
Ponte viaduto: perigo para o pedestre
E o pedestre onde é que fica?
Fugindo da pandemia: de bike

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: SES / PE

 

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.