Agricultura com “gosto de sangue”?

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Quando a gente pensa que tudo já aconteceu no Governo Jair Bolsonaro  – negacionismo,  milicianos, defesa do anacrônico voto impresso (curral eleitoral?), soltar a “boiada”, flexibilização do porte de armas – finalmente o inacreditável acontece. Para assinalar o Dia do Agricultor, comemorado nesse 28 de julho,  a Presidência fez publicar em suas redes sociais uma “homenagem” aos profissionais do campo. Detalhe: o que o homem da foto da “homenagem” carrega não é uma enxada, nem uma plantadeira manual, nem sementes para jogar no chão.  Nem mesmo está do lado de uma máquina pesada, daquelas usadas no  chamado agronegócio ou à frente de um projeto de fruticultura irrigada.

O que o “agricultor” da foto carrega é uma arma. No caso, há de se perguntar? Qual o simbolismo de uma arma? Por que a Presidência ao invés de homenagear o  produtor – seja lavrador ou proprietário de terras – não o fez mostrando que o agro é “tudo, é tech, é pop”, como diz a propaganda veiculada em uma emissora de TV? Por que ao invés de uma enxada, uma arma? Arma serve para quê, no campo? Para grilar terra, para resolver conflito a bala, para intimidar movimentos sociais como o MST, a Comissão Pastoral da Terra, as federações estaduais de agricultura e outros que  combatem o latifúndio. Que ocupam, aliás ocupavam, terras em busca de um chão para plantar e sobreviver.  Do jeito que a coisa vai, quem chegar perto de uma propriedade pode ser afastado a bala, a julgar pela apologia que a “Pátria Amada Brasil” faz do seu uso.

A “arma” do agricultor é a enxada e não a espingarda. O #OxeRecife homenageia os verdadeiros agricultores do Brasil e não as milícias privadas.

Impressionante é que uma foto dessa tenha sido publicada nas redes sociais de um Presidente de um país como o Brasil. Será que esse homem não tem assessor não? Sim, tem muitos. E se eles deixaram passar um absurdo desse, é porque alguém mandou. Ou está de acordo. Com a postagem nas redes sociais, parece até que o Brasil vive uma guerrilha. Pior, nivelou todos os agricultores  a aquilo que até o século passado ainda era muito comum, mas muito comum mesmo nas grandes propriedades incluindo as de Pernambuco. E que a gente se acostumou a ver  na área açucareira, no Agreste e no Sertão: as chamadas “milícias privadas”.

Foi preciso muita luta, muito suor, elaboração de documentos enviados ao governo brasileiro e a órgãos internacionais, denunciando a violência do campo no Brasil e em Pernambuco. Lembro-me da capa do documento produzido pela Fetape em que havia a foto de um agricultor morto sobre uma mancha vermelha. E elas eram muitas. Nunca devido a brigas, nem facadas. Era tudo morte a bala mesmo! Muitas vezes disparadas pelas tais “milícias”.  O nome do documento era: “Açúcar com gosto de sangue”. Como repórter, assisti a muita violência nas áreas rurais. E uma arma que estava sempre presente nos conflitos era a espingarda 12, bem parecida com essa da foto utilizada pela Presidência da República, para homenagear os “agricultores”. Será que a famigerada UDR faria uma dessa?  E os produtores o que dizem? Como se sentiram com tal “homenagem”. Por conta dos protestos e críticas de internautas, a postagem foi retirada.

Que vergonha, meu Deus! Nos links abaixo você confere outros links sobre armas, MST, ditadura, Bozó.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Internet/ Redes Sociais e Acervo #OxeRecife

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