Livro: A vida “Além do Barro”, no Alto do Moura, maior centro de artes figurativas das Américas

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Nem tudo são rosas no universo da coleta, manipulação e queima do barro, naquele que é considerado pela Unesco maior centro de produção de artes figurativas das Américas. Ou seja, apesar da aparência tranquila para os visitantes, a paz já não é tão presente na comunidade  do Alto do Moura, situada em Caruaru, a 130 quilômetros do Recife. A localidade, que ganhou fama a partir de Vitalino (1909 – 1963), vem enfrentando mudanças que afetam diretamente os artesãos que vivem de perpetuar a arte criada no século passado pelo Mestre.  Pelo menos, é o que mostra o livro “Além do Barro”, de Márcio Sá, que acaba de ser lançado na Fenearte

Na publicação, editada pela Cepe (Companhia Editora de Pernambuco), o autor mostra “as heranças deixadas por Vitalino no Alto do Moura do século 21”. Ou seja, as transformações que vêm passando o antes tranquilo local, então situado na área rural de Caruaru e que corre para transformar-se em  movimentada “periferia”, com a construção de distrito industrial que fica em seu perímetro, assim como conjuntos habitacionais. Com a chegada de  forasteiros e o crescimento, surgem ou se agravam problemas urbanos como a violência e o déficit na oferta de serviços públicos, como o saneamento básico.  Transformações que afetam diretamente o modo de vida do antes tranquilo povoado que, aos poucos, vai perdendo aquele modo de vida típico do interior, quando as comadres colocavam as cadeiras nas calçadas para conversar. O velho costume vem rareando, devido ao temor de assaltos.

O Alto do Moura, em Caruaru, passa por “radiografia” no livro “Além do Barro”, lançado pela Cepe na Fenearte.

Porém o viver do artesanato, que reforça a identidade da população local é que mantém a unidade dos moradores, inclusive para fazer exigência ao poder público, como maior zelo pela segurança, quando o Alto do Moura começou a vivenciar problemas de cidade grande, como assaltos frequentes. O volume traz uma análise do cotidiano dos artesãos, abordando o modo de trabalhar, de conseguir o barro, de manipular a argila, de comercializar. E também a ação de atravessadores. Traz entrevistas com artesãos e mostra a importância da cerâmica para a sobrevivência das famílias: “O barro é um ganho que é pouco, mas a gente sempre tem, né”? Além de entrevistas com artesãos, o autor teve o cuidado de ouvir pessoas que convivem ou com eles conviveram.

Entre elas, a médica Viviane Xavier (que atuou e morou na comunidade),  Everaldo Fenandes (pároco-educador que animou a cultura popular local) e o historiador  Josué Euzébio. A Viviane, surpreendeu a quantidade de moradores que sofrem problemas psíquicos na comunidade, em volume bem maior do que o que ela havia presenciado em outras regiões, inclusive na área metropolitana do Recife, com “consumo muito grande de medicação psicoativa”. Também presenciou doenças da modernidade, como (câncer, enfermidades crônico-degenerativas, doenças circulatórias associadas a maus hábitos alimentares e sedentarismo), enquanto não eram superadas aquelas consideradas da pobreza (diarreia, males infecciosos, ligadas à falta de saneamento e habitações insalubres). Constatou, ainda, doenças respiratórias, devido à aspiração de fuligem junto aos fornos artesanais para queima do barro.

Mas reconhece que “o artesanato protege um pouco da exploração como um trabalhador não qualificado”. E acrescenta: “O artesanato dá essa perspectiva de uma certa ascensão social, dá um acesso à renda, dá acesso a bens e um estilo de vida que favorece a pessoa nesse sentido”. Já o sacerdote aponta as relações com “turistas e atravessadores’, “evolução e involução” na associação local de artesãos. Também foi ouvido o historiador Josué Euzébio, que teve grande contato com a comunidade e reclama de iniciativas que não contribuem para manter as características necessárias ao reforço da identidade do Alto do Moura. E que terminam por se transformar em “um desarranjo no cotidiano da comunidade” como a colocação de palcos enormes e desproporcionais em festas promovidas pelo poder público, com imposição de “músicas de gosto duvidoso”. Para ele, o crescimento da gastronomia, o bodódromo e a chegada de casas de shows promovem uma verdadeira “desorganização” na comunidade. O livro foi lançado na Fenearte, mas pode ser encontrado nas lojas da Cepe, onde custa R$ 40.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Cepe / Divulgação (do livro “Além do Barro”)

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