Sinceramente, sempre que vou à Fenearte, fico a pensar o quanto é rico e diversificado o artesanato de Pernambuco. Nossos profissionais ocupam nada menos de 305 estandes entre os 600 destinados a artesãos. Isso sem falar que outros 68 marcam presença, também, no estande do Sebrae. E bom é que os personagens que o fazem vêm ganhando registro em publicações, desde as mais simples até as luxuosas. Este final de semana, por exemplo, será marcado pelo lançamento de livros sobre o assunto. O primeiro ocorre nesse sábado (8/7), no Espaço Janete Costa, quando o público pernambucano conhecerá “Feira de Sonhos”, que mostra vida e obra de quinze mestres e mestras do nosso artesanato e que vivem do ofício de manipular o barro, a madeira, agulhas e linhas, e até materiais recicláveis.
No lado institucional, o volume mostra, também, como a Fenearte impactou a vida dessas pessoas que vivem de criar. A edição é da Cepe (Companhia Editora de Pernambuco), e os autores são Catarina Lucrécia Araújo, Márcio Markman (textos) e Daniela Nader (fotos). Entre os mestres presentes à publicação, estão: Mano de Baé, Mestre Nado, Nena, Luiz Antônio, (cerâmica) ; Abias, Saúba, Cunha, Wagner Porto, Marcos, Bezinho, Mazinho, Chico Santeiro (madeira); J.Borges (xilogravura); Chiquinha (fibras) e as mulheres de Camaragibe (Tapeçaria Timbi). São artesãos da Região Metropolitana, da Zona da Mata, do Agreste e do Sertão. E, claro, como não poderia deixar de ser os que vivem de manipular a argila estão presentes no volume, até porque o barro domina o tema da 23ª edição da Fenearte, lembrando as loiceiras e loiceiros de Pernambuco.

Alguns, no entanto, são muito mais do que artesãos do barro. É o caso do Mestre Nado, que produz instrumentos musicais a partir da manipulação da argila. Ele frequenta olarias desde criança. Já foi catador, batedor de barro, polidor de peças, controlador de forno e chegou até a trabalhar com artista plástico Francisco Brennand (1927-2019), na década de 1970. Mas foi descobrindo outros caminhos, até chegar à ocarina, aos buns, roco-rocos e maracas. Seus instrumentos já passaram por palcos em shows de Naná Vasconcelos (1944-2016), Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Antônio Nóbrega. Conhecido internacionalmente, Mestre Nado faz oficinas para para crianças e adolescentes e alimenta um sonho: o de formar uma orquestra só com instrumentos de barro. Nado trabalha em Olinda. Também do barro vivem Mano de Baé (filho de Baé, de Tracunhaém, que ficou famoso pelo seu casal de dançarinos), Nena, Luiz Antônio.

Luiz Antônio mora no Alto do Moura, em Caruaru, a 130 quilômetros do Recife. É um dos discípulos do Mestre Vitalino (1909-1963), com quem tudo começou naquele que é hoje o maior centro de artes figurativas da América Latina. Sua arte já chegou até no Japão. Ele já tem quase 70 décadas no ofício. E, aos 87, trabalha muito mais do que jovens artesãos. É criador de peças como o fusca, a máquina de fazer telhas, o eletricista, temas antes não tão habituais entre os ceramistas que se inspiram na arte do Mestre Vitalino. Outro mestre do Agreste abordado no volume é J.Borges, tido por Ariano Suassuna como o melhor profissional da xilogravura do mundo, e com obras nos museus mais importantes do Planeta. Foi responsável por ilustrar livros de autores como Eduardo Galeano (As palavras Andantes) e Irmãos Grimm (na edição comemorativa dos 200 anos de Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos). J.Borges conta hoje com uma equipe de 18 pessoas para fazer face à demanda e construiu um memorial em Bezerros, onde reside, para perpetuar a arte da xilogravura. Bezerros a 107 quilômetros do Recife. Os autores mostram, inclusive, que as tapeceiras de Timbi se inspiram na obra de J.Borges em busca de temas para seus tapetes.

Para quem gosta de artesanato – e essa é uma marca do pernambucano – o livro é indispensável, pois mostra quem são, como vivem e o que fazem 15 mestres do nosso artesanato, assim como o grupo de mulheres de Timbi, em Camaragibe, que vivem da tapeçaria. Não esqueçam de conferir os brinquedos de Saúba (Jaboatão dos Guararapes); as peças surreais de Cunha (Engenho Benfica, Ipojuca); as cerâmicas de Nena (Cabo de Santo Agostinho); os bonecos de Wagner Porto (Garanhuns); os mandacarus e figuras esquálidas de Marcos (Sertânia); as imagens sacras em madeira de Chico Santeiro (Triunfo); as bonecas e artigos de fibra de caroá de Chiquinha (Conceição das Crioulas, Salgueiro); os tatus e praiás em madeira de Bezinho (AldeiaKambiwá, Ibimirim); os santos e pombos de Mazinho (Lagoa Grande).
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Serviço
Lançamento do livro Feira de Sonhos: Artesanato Pernambucano – volume 2
Onde: no Espaço Janete Costa (área externa da 23ª Fenearte), no Centro de Convenções, em Olinda
Quando: Sábado, 8 de julho
Horário: 18h
Evento aberto ao público
Preço do livro: R$ 149 (impresso)
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Daniela Nader / Cepe / Divulgação