“Rei do Brega” no meio do lixo

Tem jeito, um negócio deste?  Que falta de respeito àquele que foi um dos artistas mais populares de Pernambuco, Reginaldo Rossi, declarado Rei do Brega pelo povo e Patrono do Brega, por força de lei da Assembléia Legislativa de Pernambuco. E também autor e intérprete de sucessos inesquecíveis, que se tornaram clássicos do gênero de música que lhe deu fama. Quem não sabe cantar, por exemplo, A raposa e as uvas e Garçom?

Em fevereiro de 2021, Reginaldo Rossi (1943-2013) ganhou o direito de ter sua estátua no centro do Recife. Ela fica em uma área boêmia, o Pátio de Santa Cruz, na Boa Vista. Foi esculpida por Demétrio Albuquerque, o mesmo escultor das 18 que integram o chamado Circuito da Poesia, que inclui outros astros da nossa cultura, porém mais eruditos como Ariano Suassuna (1927-2014), João Cabral de Melo Neto (1920-1999), Joaquim Cardoso (1897-1976), Ascenso Ferreira  (1895 -1965), Carlos Pena Filho (1929-1960).  A estátua deste, localizada na Praça da Independência, como o #OxeRecife mostrou aqui, sofreu ação de vândalos.

Estátua de Carlos Pena Filho, na Praça da Independência, teve a mesa destruída por vândalos.

Como Carlos Pena Filho, Reginaldo Rossi também era boêmio. E foi para o Bar Savoy, hoje inexistente, que ele escreveu seus versos mais famosos.  Já Garçom, a música mais popular do Rei do Brega, se passa em uma “mesa de bar”. Por esse motivo, o escultor o fez, também, atrás de uma mesa, junto a uma garrafa e bandeja. Ou seja, os dois personagens tinham algo em comum: a boemia e a popularidade de seus versos. Carlos Pena, através dos livros. Reginaldo, pela música.

E aí, duas notícias quanto a Reginaldo. Uma boa e uma ruim. A boa é que, pelo menos, a estátua está intacta ao contrário da de Carlos Pena Filho, que está depredada. A ruim, é que as pessoas não respeitam a escultura.

Nesta semana, o fotógrafo Genival Paparazzi passou no Pátio de Santa Cruz. E olhem só a cena, na foto que ele enviou ao #OxeRecife. A mesa do boêmio parece até uma lixeira. É resto de comida, casca de banana, migalhas de pão, quentinhas.  Tem até copo de algum “bebum chato” como o da música, deixado no local, emborcado na garrafa onde,segundo a música, o cantor gostava de afogar suas mágoas amorosas. “Garçom, sei que estou enchendo o saco / Mas todo bebum fica chato”. Pelo visto, os “bebuns”, mais do que chatos como os de Garçom, virararam sim,  um bando de porcalhões. Pois usam a “mesa de bar” para tudo nela descartar.

Cadê a cidadania desse povo hein? #OxeRecife!

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Genival  Paparazzi (cortesia) e foto do leitor

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