População de rua cresce na pandemia

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Do final do século passado ao início do 21, quando viajávamos ao Sertão para fazer reportagens sobre os efeitos das longas estiagens, era fácil nos depararmos com figuras esquálidas, nas rodovias, ostentando cartazes com a palavra FOME , em letras maiúsculas e de forma tosca, muitas vezes escritas a carvão, em pedaços de papelão de embalagens retirados de lixões.

No entanto, durante o período de pandemia, esse cartaz passou a integrar o cotidiano da população, também, da Capital.  Não é para menos. Pesquisa divulgada hoje pela Fundação Getúlio Vargas mostra que entre novembro de 2019 e junho de 2021, só não houve aumento da pobreza em três estados: Pará, Tocantins e Acre. Portanto, em Pernambuco, não é de se estranhar as placas que a gente vê no Recife, iguais as que a gente via antigamente, nas estradas poeirentas da caatinga.  A pobreza está  mais visível em cruzamentos, nos bairros, no Centro. Com o isolamento social ao qual todos estiveram submetidos, milhares de pessoas que viviam da informalidade ficaram sem ter como sobreviver. Gastaram tudo que  tinham do que ganhavam vendendo produtos nas ruas. Muitos ficaram sem ter o que comer e sem ter lugar para morar.

Nem é preciso apelar para as estatísticas, embora os números oficiais indiquem um deficit de 70 mil moradias no Recife. Andando pelo Recife, é possível perceber o aumento de pessoas sem teto em praças, esquinas, marquises, até mesmo ao relento, em calçadas. A foto superior, enviada pela amiga e leitora, Sofia de Paula, foi captada em frente ao Clube Português, em um bairro que é considerado sofisticado, que é o das Graças, e que fica vizinho a um outro habitado por famílias de classe média alta, que é o Espinheiro. As cenas de miséria, hoje, são gerais. Estão em todos os lugares. No Recife, há vários grupos que distribuem comida para essa população, inclusive com oferta de sopões, banhos, e distribuição de kits de limpeza. Mas  as ações para tirar as pessoas das ruas ainda são tímidas.

Há albergues oficiais  e restaurantes populares mantidos pela Prefeitura, que recentemente abriu edital para pousadas que queiram hospedar moradores de rua. É uma iniciativa louvável. Mas a resposta ainda é tímida, até mesmo por preconceito. Preconceito inclusive já vivenciado pelo Frei Marcos Carvalho, que até recentemente coordenou a Pastoral do Povo de Rua no Recife, quando foi criado  um projeto em que era ofertados quitinetes no centro para os sem teto. No começo, foi difícil. O preconceito era grande, com população tão excluída e marginalizada. Mas depois, os proprietários começaram a aceitar a proposta e o modelo foi dando certo, com contribuições e inclusive ajuda de organizações estrangeiras.  Pelo menos, ouvi elogios ao sistema, ouvindo ex-moradores que até conseguiram reorganizar suas modestas vidas, ao voltar a negociar produtos nas ruas. Agora, vamos ver o oficial – lançado pela Prefeitura – em que dará.

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Texto:  Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Sofia de Paula / Cortesia

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