Grito do Ipiranga: Pernambuco contestador, as “independências”do Brasil, revoltas populares

Compartilhe nas redes sociais…

Depois de lançar coleções importantes – como Perfis, Terra Pernambucana, Frevo Memória Viva, Cepe HQ e Recife 500 anos – a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) lança agora a  Pernambuco na Independência (1822-2022), importante iniciativa nesse ano em que se comemora o Bicentenário da Independência.  São dez livros que indicam que a emancipação do Brasil foi muito além do centro do poder imperial, representado à época por Dom Pedro I. As publicações mostram como a Independência tem raízes em lutas ocorridas em várias províncias. Das dez obras, cinco serão lançadas nessa quinta-feira (29/09), na sede do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, que fica no bairro da Boa Vista, no Centro.

Das cinco publicações, duas são totalmente inéditas: A Revolução Liberal em Goiana e a queda do General Luís do Rego, do historiador Josemir Camilo de Melo; e Pernambuco na Independência do Brasil: Olhares do nosso tempo, livro  organizado pelo historiador e coordenador científico da Coleção, George Félix Cabral de Souza. O livro de Josemir resulta de pesquisa inédita, que mostra participação dos liberais de Goiana no movimento libertário  que levou à formação de República instituída em 1817, quando durante 74 dias Pernambuco ficou livre do jugo português. Ele conta como o General Luís do Rego, enviado por Dom João VI a Pernambuco, teve que enfrentar jovens dispostos a pegar em armas pela Independência. Eles marcharam para o Recife, a fim de participar do cerco às tropas do governo. Bravos pernambucanos!

Cenas do século 19 – comércio de escravos, batalhas, aclamação de Dom Pedro – ilustram os volumes da coleção

Já o Olhares do nosso Tempo traz dez textos de especialistas – como  juristas e historiadores – que se debruçam sobre um dos temas mais discutidos da historiografia brasileira, e fonte inesgotável de estudos. E que, segundo George Félix, além da atualidade da discussão, o assunto Independência envolve um rol de perguntas a responder. “De quantas independências se fez nossa independência?” é apenas uma delas. “Desde já, acreditamos que o processo da Independência é complexo e multifacetado”, afirma George. “Não deve, portanto, ser encarado como monolítico e homogêneo”, como – aliás – nos quis impor a historiografia oficial. “A Independência não é apenas o 7 de setembro de 1822 de Dom Pedro de Alcântara às margens do Ipiranga”, diz.

Ou seja, os diversos Brasis daquele momento projetaram diferentes processos de independência. E Pernambuco, claro, não ficaria de fora, pois “foi o epicentro da mais importante contestação à ordem colonial de toda a história da monarquia portuguesa”. Curioso é que os autores mostram que várias questões presentes nos embates ocorridos no início do século 19, nos momentos que antecederam e sucederam o Grito do Ipiranga “continuam vivas e cadentes” o que mostra “a necessidade urgente de uma reflexão profunda sobre o que queremos para nossa Nação”.

Os outros três livros que serão lançados no IAHGP são: Liberais e liberais: Guerras Civis em Pernambuco no século 19, de Socorro Ferraz; Oliveira Lima: Obra Seleta – História; e A propósito da Independência e do Império: Escritos de Gilberto Freyre. O livro de Socorro Ferraz foi originalmente publicado em 1996. Ele descreve qual foi o papel das revoluções e insurreições (fundamentadas na ideologia liberal) durante o processo da Independência do Brasil. Considerado o maior historiador da Independência, Oliveira Lima já àquela época se preocupava em transmitir uma visão integradora da história, para além das glórias militares. E o quinto volume traz diversos textos de Gilberto Freyre, em que ele fala na Independência, nas tentativas que não deram certo, perfis de personalidades ligadas ao tema.

Leia também
Pedro Américo,  o artista que virou pop star
Teatro Santa Isabel também no Bicentenário
Forte do Brum: Bicentenário da Independência com festa, música, luzes, cores e imagens históricas
Entardecer Patriótico: Festa impecável e musical para comemorar o bicentenário
O grito dos excluídos por independência verdadeira no século 19:  Maria Felipa
O “sequestro da independência”: Como ditaduras e democracias exploram a data cívica
Um bufão no poder: Livro analisa negacionaismo, catastofrismo e messianismo em Bolsonaro
Livro mostra passageiros da tempestade: fascistase negacionistas em tempos presentes
Revolução de 1817, “subversão” que virou orgulho dos pernambucanos
Paulo Santos: Frenesi absolutista do Brasil e a pole position de Pernambuco
O lado musical da Revolução de 1817
Entre o amor e a Revolução
Livro  mostra mania pernambucana de grandeza
Muito linda, a versão musical da Revolução de 1817
Libertário, Frei Caneca é lembrado
Museu e Frei Caneca na ordem do dia
Revolução de 1817 no Olha! Recife
Mais venerada do que a do Brasil, Bandeira de Pernambuco tem nota técnica
De Yaá a Penélope africana
Resgate histórico: primeiro deputado negro do Brasil era pernambucano
História da Revolução de 30 e a tragédia de três homens chamados João
Na Várzea: Jaqueira lembra história dos escravizados e vira memória de história de amor
Arqueólogos revolvem passado do antigo Engenho do Meio
Tejucupapo revive batalha do século 17
Senhora de Engenho, entre a Cruz e a torá tem encenações em casarão
O levante dos camponeses
Fake news: Bacamarteiros viraram guerrilheiros
Memória e censura: quando a palavra camponês era proibida nas redações
Fortes podem ganhar título da Unesco
Fantasmas no Forte de Cinco Pontas
Caminhadas Domingueiras voltam a ser mensais: Roteiro pelo Bairro de São José
Forte do Buraco, tombado, destombado, tombado de novo, lindo e abandonado
Fortim do Bass, inédita relíquia de areia do século 17 fica em Porto Calvo, AL
Sessão Recife Nostalgia: Sítio Trindade, história, festa e abandono
Achado arqueológico no Recife: 40 mil fragmentos,cemitério e fortaleza
Bairro de São José é tema de exposição no Forte das Cinco Pontas
Forte de Pau Amarelo será ocupado

Serviço:
Evento: Lançamento dos cinco primeiros livros da Coleção “Pernambuco na Independência”
Onde: Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano
Endereço: Rua do Hospício, 120, Boa Vista
Quando: Quinta-feira, 29 de setembro
Horário: 19 h
Acesso livre
Preços variam de R$ 40  a R$ 50 (livros físicos) e de R$ 16 a R$ 28 (e-books)

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Coleção Pernambuco na Independência (Biblioteca Nacional)

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.