“Eu sou um Artaud em potencial”. É assim, meio sério e meio em tom de brincadeira, que o psicólogo, psicoterapeuta, terapeuta ocupacional, cantor e ator Gonzaga Leal telefona para informar sobre o seu novo espetáculo: “Antonin Artaud – Um Suicidado a Mais pela Sociedade“, que ele encena no Poço das Artes, no sábado, 25 de novembro, e no qual aborda o pensamento e a vida de Antoine Marie Joseph Artaud (1896-1948), que foi encarado como um louco por muitos e um gênio por todos. E que viria a se tornar um dos artistas mais conhecidos da França. Poeta, escritor, dramaturgo, roteirista, diretor de teatro e de cinema, ele passou boa parte de sua vida internado em manicômios, enfrentando “tratamentos” desumanos, como aqueles que eram aplicados no passado a pessoas que tinham distúrbios psíquicos.
Artaud teve uma vida difícil, marcada por momentos de pobreza, dor, depressão, alucinações e delírios. Mas deixou uma obra extensa, que ainda hoje desperta a atenção de acadêmicos, psicólogos, terapeutas, psicanalistas e amantes da literatura. Entre as pessoas que lhe dedicam devoção, está Gonzaga Leal, que fez estreia do primeiro espetáculo sobre o artista francês ainda em 1995. E imaginem o local que ele escolheu para fazer a apresentação… A capela do Hospital Ulisses Pernambucano, cujos pacientes à época ainda passavam por tratamentos recomendados para doentes mentais mas que se tornaram arcaicos, nesse século 21. Ou seja, com a arte e inspirado em Artaud, Gonzaga trouxe o teatro para os loucos do também conhecido Hospital da Tamarineira, dentro do Projeto Iluminuras. O pernambucano sempre usou a arte quando trabalhava como terapeuta em hospitais psiquiátricos do Recife. Após a encenação na Tamarineira, ele levou o espetáculo sobre Artaud para Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo.
O nome do espetáculo talvez seja inspirado em um dos livros de Artaud – “Van Gogh, o suicidado da sociedade” – outro gênio que não foi compreendido no seu tempo, e que enfrentou a miséria porque a sociedade de então não comprava as suas obras de arte, que tomam hoje as salas do museu do mundo e o colocam como criador do Impressionismo. Para Gonzaga Leal, Artaud não pode ser definido apenas com as duas palavras com as quais se costuma adjetivá-lo: “gênio” e “louco”. E explica:
“Artaud foi rebelde, marginalizado, maldito e incompreendido enquanto viveu. Na verdade, era a encarnação do gênio romântico, da imagem do artista iluminado e louco, e que passou a ser reconhecido como um dos mais marcantes e inovadores criadores do século passado. Tudo que, aos olhos dos seus contemporâneos, pareceu mero delírio e sintoma de loucura, tornou-se referência obrigatória para as mais avançadas correntes do pensamento crítico, a exemplo da psicanálise e do surrealismo.
E, provavelmente tanto Van Gogh (1853-1890) quanto Artaud dois tiveram a situação mental agravada pelas exigências da sociedade e de suas convenções. Não deve ter sido fácil, para ambos, impor as formas de arte criadas pelos dois. Com uma mente à frente do seu tempo – ele achava que o teatro devia ser usado para abalar as certezas da sociedade – e o título do espetáculo de Gonzaga Leal já mostra o que vem ser o resultado disso. Boa parte dos textos de Artaud foi produzida no longo período em que esteve internado em manicômio. Como louco. Entre as suas obras estão: “A perda de si – Cartas de Antonin Artaud”; “O Teatro e seu duplo”; “Van Gogh, o suicidado da sociedade”; “O Anarquista Coroado”.
Confira no vídeo trechos do espetáculo. Nos links abaixo, você lê mais informações sobre Artaud, sobre Gonzaga Leal, sobre o Poço das Artes e sobre a Tamarineira.
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Serviço
“Antonin Artaud, um suicidado a mais pela sociedade”
Quando: Sábado, 25 de novembro
Horário: 20h
Onde: Poço das Artes (Rua Álvaro Macedo, 54, Poço da Panela)
Quanto: R$ 50 (couvert, sala), mas jardim é livre
Reservas só pelo WhatsApp: (81) 998171464
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação / Internet
