Fome só faz se agravar. E o Recife?

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O drama da fome só faz aumentar no Brasil. No Nordeste, é onde se concentra a maior quantidade do país de famintos. Dos 33,1 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar, 12,12 milhões são da região, onde fica Pernambuco.  O Nordeste é seguido pelo populoso Sudeste, onde somam 11, 74 milhões os que passam pelo problema, que se agravou com o desemprego, com a pandemia, com a inflação e com o governo do ex-capitão, cuja rede de proteção social só se esgarça cada vez mais.

Os números são do Segundo Inquérito Nacional Sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19. E integram os resultados de pesquisa realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan). De acordo com o estudo, a fome está assim distribuída:  Além dos 12,2 milhões de famintos do Nordeste e das 11,74 milhões de pessoas com fome do Sudeste, há pessoas sem ter o que comer no Norte (4,8 milhões), no Sul (3,01 milhões) e no Centro-Oeste (2,1 milhões). Ou seja,um triste mapa, que significa 14 milhões a mais de pessoas sem acesso aos alimentos necessários do que 2020, por exemplo.

No século passado, essa família que se alimentava de ratos em Timbaúba chamou a atenção do Brasil e do mundo .

No Recife, o problema é visível nas calçadas, praças e acampamentos urbanos, onde multidões de sem teto esperam por moradia, emprego e disputam quentinhas que são distribuídas por voluntários. Nos supermercados, os pedintes já não ficam só na  parte externa, solicitando esmolas: um pacote de macarrão, leite, pão. Agora  se posicionam ao lado dos caixas, com produtos básicos em cestas ou carrinhos, e pedem aos clientes que paguem o que puder para eles. Há alguns dias, meu colega Wagner Gomes esteve no Sertão, de onde voltou impressionado com a quantidade de  pessoas mendigando.  Cenas como as vistas nos piores tempos das secas, voltam a se repetir mesmo em época de chuva, quando a mesa fica um pouco mais farta.

Em Pernambuco, se a situação já era  crítica antes da pandemia. Agravou-se com a Covid-19, quando milhares de pessoas perderam seus empregos, e os que viviam de comércio informal ficaram sem capital de giro para comprar mercadorias.  A fome pipocou com a enchente, que deixou mais de 128 mil desalojados ou desabrigados. Pessoas que perderam tudo que tinham e vão ter que recomeçar do zero. Que não possuem comida e quando a recebem, nem têm nem mais fogão para cozinhar.  A pesquisa divulgada nessa quarta-feira  traz números chocantes, que expõem o empobrecimento do nosso povo com o aumento da fome da qual o atual Presidente já até disse não existir. Sinceramente, com tantos anos de estrada  fazendo cobertura da fome, temo que as pessoas cheguem à mesma situação do século passado, quando comiam até ratos de esgoto, já que não tinham como comprar carne e outros alimentos. Essa cena triste da foto acima, presenciei na Zona da Mata, no município de Timbaúba, a 98 quilômetros do Recife. Com as feridas agora expostas, o temor é que cenas como as das fotos voltem a se repetir. Ou já estejam se repetindo, como na foto superior. O homem era sempre visto comendo restos que acha no lixo.

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Texto:  Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins  e Acervo #OxeRecife

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