Nesses tempos de Covid-19, Dengue, Zika, Chikungunya, Oropouche e tudo de quanto é virose grassando por aí, termina que ninguém fala nas chamadas doenças negligenciadas, como é o caso do Mal de Chagas. Que, ao contrário do que muita gente pensa, ainda faz um estrago grande principalmente no interior do Nordeste, onde é comum se ver casas de taipa, em cujos orifícios o besouro barbeiro gosta de se instalar. O barbeiro, se contaminado, é o vetor do Trypanosoma Crusi, o vírus que o inseto injeta no corpo da pessoa.
Como repórter, já visitei famílias na Região Agreste e no Sertão, onde quase todas as pessoas sofriam do Mal de Chagas. Também vi casos na Região Metropolitana, em cidades como Igarassu e Araçoiaba. Tenho uma prima que é bióloga, e ela ficou estarrecida em viagem ao Sertão, quando presenciou crianças brincando com o barbeiro (foto acima) da mesma forma que meninos e meninas do Recife costumam brincar com os inofensivos “soldadinhos”. Chegou a fazer várias viagens à Caatinga, só para alertar a população sobre o risco.
Felizmente as autoridades sanitárias estão de olho em endemias, como o Mal de Chagas. Por esse motivo, na sexta-feira (23/8), foi lançado o Projeto IntegraChagas-Brasil, na cidade sertaneja de Iguaraci, a 358 quilômetros do Recife. O Projeto é uma estratégia nacional, que tem por objetivo ampliar o acesso à detecção e ao tratamento da doença de Chagas no âmbito da Atenção Primária, integrada à Vigilância em Saúde no Brasil. Iguaraci foi escolhida por ficar em área endêmica para a doença.
A Décima Gerência Regional de Saúde, cuja sede fica no município de Afogados da Ingazeira, teve 349 pessoas reagentes na sorologia (IgG) para DCC e 64 óbitos distribuídos nos 12 municípios que compõem a Regional. A taxa de prevalência da doença na Décima Geres foi de 188,7 por 100.000 habitantes. E a taxa de letalidade, de 18,3%, no período de 2019 a 2024. Em relação à prevalência desta Região, cinco municípios chamaram atenção por estarem bem acima da predominância, incluindo Iguaraci, com prevalência (803,1/100.000 hab). A taxa de letalidade no município, no mesmo período, é de 4,5%. Até 28 de agosto, acontece acontece a Semana de Formação e Lançamento do Projeto, com a presença dos Agentes de Combates Às Endemias (ACEs) e de Saúde (ACS), médicos e enfermeiros daquele território, e também representantes do Ministério da Saúde e da Fiocruz.
Entre 2019 e 2024, 8.873 pessoas foram examinadas através da imunologia, ou seja, diagnóstico sorológico, diagnóstico da forma crônica em Pernambuco. E dessas 1.162 resultaram reagentes para a doença de Chagas (13,10%). A estratégia de vigilância entomológica e controle vetorial ainda é uma das principais formas de prevenção e controle da doença, diminuindo o risco de transmissão vetorial. Entre os anos de 2019 e 2024, em 129 municípios, 199.436 unidades domiciliares foram visitadas. Destas, em 9.272 confirmou-se a presença de triatomíneo (inseto vetor). E, após o exame nos laboratórios regionais. 637 desses vetores estavam infectados com T. cruzi. E isso não é pouco não…
O diagnóstico da doença, segundo a metodologia do Projeto, será realizado via teste rápido desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sediada no Rio de Janeiro. O Integra Chagas é uma iniciativa do Ministério da Saúde. Além da parceria com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), o projeto participação em mais quatro municípios brasileiros, localizados em Goiás, Minas Gerais, Belo Horizonte e Bahia, segundo informa Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior, Coordenador Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial, da Secretaria de Vigilância à Saúde do Ministério da Saúde
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Paulo Jefferson / IntegraChagasBrasil/ e Divulgação