Em pleno século 21, Mal de Chagas ainda preocupa: realidade assusta no Sertão

Compartilhe nas redes sociais…

Nesses tempos de Covid-19, Dengue, Zika, Chikungunya, Oropouche e tudo de quanto é virose grassando por aí, termina que ninguém fala nas chamadas doenças negligenciadas, como é o caso do Mal de Chagas. Que, ao contrário do que muita gente pensa, ainda faz um estrago grande principalmente no interior do Nordeste, onde é comum se ver casas de taipa, em cujos orifícios o besouro barbeiro gosta de se instalar. O barbeiro, se contaminado, é o vetor do Trypanosoma Crusi, o vírus que o inseto injeta no corpo da pessoa.

Como repórter, já visitei famílias na Região Agreste e no Sertão, onde quase todas as pessoas sofriam do Mal de Chagas. Também vi casos na Região Metropolitana, em cidades como  Igarassu e Araçoiaba. Tenho uma prima que é bióloga, e ela ficou estarrecida em viagem ao Sertão, quando presenciou crianças brincando com o barbeiro (foto acima) da mesma forma que meninos e meninas do Recife costumam brincar com os inofensivos “soldadinhos”. Chegou a fazer várias viagens à Caatinga, só para alertar a população sobre o risco.

Felizmente as autoridades sanitárias estão de olho em endemias, como o Mal de Chagas. Por esse motivo, na sexta-feira (23/8), foi lançado o Projeto IntegraChagas-Brasil, na cidade sertaneja de Iguaraci, a 358 quilômetros do Recife. O Projeto é uma estratégia nacional, que tem por objetivo ampliar o acesso à detecção e ao tratamento da doença de Chagas no âmbito da Atenção Primária, integrada à Vigilância em Saúde no Brasil. Iguaraci foi escolhida por ficar em área endêmica para a doença.

Região endêmica para o Mal de Chagas, Sertão ganha Projeto para diagnóstico e prevenção da doença

A Décima Gerência Regional de Saúde, cuja sede fica no município de Afogados da Ingazeira, teve 349 pessoas reagentes na sorologia (IgG) para DCC e 64 óbitos distribuídos nos 12 municípios que compõem a Regional. A taxa de prevalência  da doença na Décima Geres foi de 188,7 por 100.000 habitantes. E a taxa de letalidade, de 18,3%, no período de 2019 a 2024. Em relação à prevalência desta Região, cinco municípios chamaram atenção por estarem bem acima da  predominância, incluindo Iguaraci, com prevalência (803,1/100.000 hab). A taxa de letalidade no município, no mesmo período, é de 4,5%. Até 28 de agosto, acontece acontece a Semana de Formação e Lançamento do Projeto, com a presença dos Agentes de Combates Às Endemias (ACEs) e de Saúde (ACS), médicos e enfermeiros daquele território, e também representantes do Ministério da Saúde e da Fiocruz.

Entre 2019 e 2024,  8.873 pessoas foram examinadas através da imunologia, ou seja, diagnóstico sorológico, diagnóstico da forma crônica em Pernambuco. E dessas 1.162 resultaram reagentes para a doença de Chagas (13,10%). A estratégia de vigilância entomológica e controle vetorial ainda é uma das principais formas de prevenção e controle da doença, diminuindo o risco de transmissão vetorial. Entre os anos de 2019 e 2024, em 129 municípios, 199.436 unidades domiciliares foram visitadas. Destas, em 9.272 confirmou-se a presença de triatomíneo (inseto vetor).  E, após o exame nos laboratórios regionais. 637 desses vetores estavam infectados com T. cruzi. E isso não é pouco não…

O diagnóstico da doença, segundo a metodologia do Projeto, será realizado via teste rápido desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sediada no Rio de Janeiro. O Integra Chagas é uma iniciativa do Ministério da Saúde.  Além da parceria com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), o projeto participação em mais quatro municípios brasileiros, localizados em Goiás, Minas Gerais, Belo Horizonte e Bahia, segundo informa Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior, Coordenador Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial, da Secretaria de Vigilância à Saúde do Ministério da Saúde

Leia também
Praça do Derby recebe ônibus do projeto prevenção para todos
Dengue: Speedo multisport anuncia linha Rerpell que repele mosquito da dengue
Lampião e Maria Bonita ganham ruas em campanha preventiva
Você imagina o que Lampião e Maria Bonita fazem nessa feira?
Dengue: Incidência cresce mas água acumulada se vê até em telhado de hospital
Aqui, o mosquito da dengue faz a festa
Por enquanto, vacina contra dengue é luxo para poucos
Natureza: Pererequinha-de-bromélia é boa agente contra mosquito da dengue
Tecnologia contra o Aedes aegypti
Falta d´água, esgoto e machos estéreis 
Covid, dengue, chikungunya, zika. Cadê o respeito à saúde alheia?
Pneus podem virar foco de dengue no pátio da Emlurb
Vírus da Zika (da microcefalia) também pode ser transmitido pela via sexual, diz Fiocruz
União Mães de anjos em fotografias: microcefalia
Cuidado com o Aedes aegypti: casos de chikungunya cresceram 469 por cento
Cuidado com o carrapato
Coceira: culpa é da mariposa
Vacina tetravalente contra gripe precisa de voluntários em testes para chegar de graça à população

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Paulo Jefferson / IntegraChagasBrasil/ e Divulgação

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.