Tem gente que não suporta sapo, gia, perereca, rã. Mas quem não gosta desses animais, não sabe a importância que eles têm para a natureza e, principalmente, para nós, os humanos. É que os anfíbios comem mosquitos. Inclusive alguns que transmitem doenças como a dengue. O #OxeRecife está sempre aberto à publicação de novas espécies de animais. E anfíbios, inclusive. Pois há novidade na área. É que pesquisadores do Laboratório de Herpetologia Tropical da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) descobriram uma nova espécie de pererequinha-de-bromélia no Sul da Bahia, mais precisamente na Estação Ecológica Wenceslau Guimarães. Ela foi batizada de “Phyllodytes iuna”. O nome da espécie (iuna) presta homenagem à capoeira. Na roda de capoeira regional, o toque de “Iúna” é executado para a formatura de alunos graduados ou é reservado para o jogo de professores e mestres.
“Com essa homenagem, os autores celebram o rico legado afro-brasileiro deixado pelos mestres da capoeira na resistência, consolidação e perpetuação desta arte marcial”, informam os pesquisadores da UESC. Em dez anos, a equipe descobriu cinco espécies do grupo Phyllodytes, todas já descritas pela equipe do Departamento de Ciências Biológicas (DCB) da UESC e com publicações em revistas científicas. Um dos pesquisadores, o professor Iuri Ribeiro Dias, é o capoeirista da equipe e justifica porque decidiu identificar a pererequinha usando uma expressão comum naquela manifestação: “Faço capoeira desde criança e sempre tive vontade de homenagear essa expressão cultural afro-brasileira em alguma das espécies que encontramos aqui no Sul da Bahia”.
Historicamente, novas espécies de anfíbios eram coletadas por pesquisadores dos grandes centros de pesquisa do Sudeste do Brasil, como o Museu Nacional ou o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. Mas quando esses cientistas se embrenhavam nas matas da Bahia, costumavam coletar anfíbios nos lugares onde eles esperavam encontrar muitas espécies. Ou seja, em brejos e poças. Resultado, um grupo de pererequinhas, que ao invés de se reproduzir em poças, passam toda a vida em bromélias, foi raramente documentado nessas expedições. Mas agora começam a ser estudadas. “As pererequinhas-de-bromélia são animaizinhos espetaculares”, comenta o professor Mirco Solé, do DCB da UESC. E completa:
“As pererequinhas-de-bromélia passam todo o seu ciclo de vida em bromélias. Lá elas depositam ovos, nascem e crescem os girinos e depois cantam os adultos. Os girinos de algumas espécies de pererequinhas-de-bromélia prestam um serviço ecossistêmico importante: eles se alimentam de larvas de mosquito que são potenciais transmissores de doenças como dengue, zika e chikungunya. Protegendo as pererequinhas-de-bromélias estaremos também protegendo a nossa própria saúde”.
Não se se vocês lembram que, durante um certo tempo, as bromélias viraram vilões. Diziam que elas acumulam água, e servem de criadouros para o mosquito da dengue. Então, as pererecas nos dão uma contribuição imensa, não é? A Phyllodytes iuna é a décima sexta espécie do gênero Phyllodytesno Brasil e a sétima endêmica da Bahia. Embora a equipe do Laboratório de Herpetologia Tropical já conheça a maioria dos cantos dessas espécies no Sul da Bahia, ainda há muito trabalho a ser feito. “Estimamos que, apenas nessa região, ainda temos mais cinco espécies novas de pererequinhas-de-bromélias para descrever”, destaca o professor Iuri. A pesquisa, que contou com auxílio financeiro do Programa PROTAX do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, culminou em um artigo publicado na Zootaxa, revista especializada na descrição de espécies novas para a ciência.
Abaixo, você pode ler mais informações sobre sapos, pererecas, lagartos e jacarés.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Marcos Villa Nova e Rafael Abreu / Divulgação / UESC