Com apenas 30 por cento de sua área servida por saneamento e registrando falta d´água em muitos bairros – o que obriga os moradores a providenciarem armazenamento doméstico – o Recife terminou virando um ambiente fértil para a proliferação do Aedes aegypti, o mosquito responsável pela disseminação da dengue, da zika e até da chicungunha. Pois agora o Recife vai se tornar a primeira cidade do mundo a contar com um projeto de controle do inseto vilão, com a liberação de machos estéreis no ambiente.
A iniciativa, anunciada pelo Prefeito Geraldo Júlio (PSB), vai ser realizada em parceria com a Biofábrica Moscamed, a Agência Internacional de Energia Atômica e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). E será viabilizada com recursos do Ministério da Saúde, cerca de R$ 3,1 milhões. Na verdade, a estratégia não tem segredo. Com a liberação de mosquitos estéreis, a capacidade de fecundidade e fertilidade fica comprometida, o que reduzirá a reprodução do Aedes, cujas fêmeas são as únicas que transmitem as arboviroses.

“Então a disseminação dos mosquitos inférteis não resultará em aumento de transmissores”, destaca o Secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia. A princípio, três localidades serão utilizados, para se avaliar a eficiência do controle. Fui consultar minha guru em assuntos de Aedes aegypti. É a pesquisadora aposentada da Fiocruz, Leda Régis, que dedicou toda a vida ao estudo desse mosquito. Ela afirma que, teórica e cientificamente, aquela técnica é eficiente e não causa dano ao homem nem ao meio ambiente. Mas teme que seja inócua, porque deve ser aplicada em cidades que tenham “barreiras geográficas”, o que não é o caso do Recife.
“Os mosquitos estéreis vão competir com os não estéreis, e por isso devem ser liberados em grande quantidade. Por exemplo, se o percentual estéril for apenas dez por cento dos machos normais, a medida será inócua”, adverte. “A liberação também tem que ser frequente, porque se houver uma hoje e outra daqui a dois meses, a operação não vai adiantar nada”, recomenda. Para Leda Régis, para que tudo funcione são necessários conhecimento, pesquisa e muito investimento. Nós aqui, do #OxeRecife, aplaudimos a iniciativa. Mas o temor é o mesmo de sempre: que aconteça com a operação a mesma coisa que se vê com as obras de concreto que ficam pelo meio. Se a liberação de machos estéreis não for contínua e parar por falta de recursos, teremos – mais uma vez – um exemplo de dinheiro público se esvaindo pelo ralo.
Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife