Nós que moramos em áreas urbanas, nem de longe conseguimos calcular o quanto a Doença de Chagas ainda ataca os brasileiros. São mais de 1milhão 200 mil infectados, e ainda há muito desconhecimento quanto às causas de transmissão, entre as populações do interior, principalmente no Agreste e no Sertão. Tenho uma prima que é bióloga, e ela tomou um susto em viagem à Caatinga, quando constatou crianças brincando com o barbeiro, do mesmo jeito que as da cidade costumam brincar com os inofensivos “soldadinhos”. Mas ao contrário desse besourinho simpático, o primeiro (foto acima) representa um risco para as populações. Essa segunda-feira, Dia Mundial da Doença de Chagas (14/4), deve servir de reflexão.
Em minha vida de repórter estive muitas vezes em áreas rurais, onde constatei famílias quase inteiras atacadas pela doença, mais comum em pessoas em situação de vulnerabilidade social, pois o besouro se aloja em orifícios nas paredes, principalmente naquelas em taipa. A infecção é considerada doença negligenciada, e a fabricação de medicamentos contra a doença não era interessante para os grandes laboratórios. Houve época inclusive, na primeira década do século 21, que apenas o Lafepe (Laboratório Farmacêutico de Pernambuco) produzia o medicamento benznidazol no mundo.
Hoje, o Lafepe é o único no Brasil a fabricar o benznidazol, principal medicamento usado para o tratamento da Doença de Chagas. O remédio é distribuído pelo SUS. A expansão da Doença de Chagas em outros países e a maior demanda por remédios contra a doença levaram grandes e multinacionais laboratórios farmacêuticos a produzir drogas contra a enfermidade no mundo. A Doença de Chagas é causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, transmitido pelo inseto popularmente conhecido como “barbeiro”. A enfermidade pode levar a complicações cardíacas e digestivas graves e até à morte.
“Produzimos o Benznidazol com o compromisso de atender a uma demanda de saúde pública que exige responsabilidade e excelência. Como único laboratório nacional com essa missão, o Lafepe tem um papel estratégico não apenas para Pernambuco, mas para todo o país”, afirma o presidente do Lafepe, Plínio Pimentel Filho. “Além de garantir o abastecimento do SUS, temos orgulho de contribuir com políticas públicas voltadas à atenção integral das doenças negligenciadas, como a Doença de Chagas. Essa é uma ação que impacta diretamente a vida de pessoas que, muitas vezes, vivem em contextos de grande vulnerabilidade”, acrescenta o presidente do Lafepe, Plínio Pimentel Filho.
O Benznidazol atua interferindo na síntese de proteínas do Trypanosoma cruzi, levando à morte do parasita e reduzindo a carga parasitária no organismo. Ele é fabricado no Lafepe em comprimidos de 100 mg e 12,5 mg, garantindo flexibilidade na dosagem, especialmente para crianças e pacientes que necessitam de ajustes individuais. Os sintomas da Doença de Chagas variam de acordo com a fase da doença. Na fase aguda, que ocorre nos primeiros dois meses após a infecção, os sintomas incluem febre prolongada, inchaço no local da picada, fadiga, dor de cabeça, inchaço de linfonodos, dores musculares e aumento do fígado e baço.
Já na fase crônica – registrada anos após a infecção, em pacientes não tratados – os principais sintomas são complicações cardíacas (arritmias, insuficiência cardíaca, aumento do coração, morte súbita) e complicações digestivas (aumento do esôfago, causando dificuldade para engolir, e aumento do intestino grosso, levando a constipação severa). No Recife, há um trabalho muito bonito de atendimento a pacientes atacados pela Doença de Chagas no Hospital Osvaldo Cruz.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação e Acervo #OxeRecife
E pensar que ainda existe muita moradia no interior feita de taipa,o que facilita enormemente a transmissão da doença,por ser o lugar onde ele se aloja com frequência.
Aplausos para o Lafepe e Hospital Oswaldo Cruz,gigantes na luta para o tratamento da doença.