Discussão: Soledad Barret, a militante de esquerda que foi delatada pelo noivo, o Cabo Anselmo

Uma história que não pode ser esquecida. Militante de esquerda,  apaixonada, iludida e traída pelo noivo. Assim foi a vida de Soledad Barret, paraguaia que foi assassinada, grávida, em emboscada durante a ditadura implantada em 1964 no Brasil. Seu algoz, o homem em que ela confiava, foi ninguém menos que o famigerado Cabo Anselmo, que a ela se apresentava com o codinome de Daniel, o qual usava para se infiltrar em grupos de esquerda que tentavam derrubar o governo militar. E depois, entregava os “subversivos” aos abutres que matavam e torturavam  nas masmorras do regime militar.

Quando nasceu, pais e irmãos já eram militantes contra as ditaduras que então dominavam a América Latina. Portanto, os exílios políticos sempre estiveram na vida quase nômade da família. Com apenas um ano, Soledad enfrentou o seu primeiro. Aos 17, em mais um exílio, dessa vez no Uruguai, Soledad foi sequestrada por um grupo neonazista e teve suas duas pernas marcadas com a suástica, através de uma navalha. Ela negou-se a gritar palavras em saudação a Hitler. E por isso sofreu essa brutal violência. Mas não se intimidou. Ao contrário, dedicou-se mais ainda à militância. Viajou para Moscou, a fim de estudar teorias comunistas, que naquela época eram uma utopia para países oprimidos por ditaduras de direita e pelo imperialismo. Depois de um ano foi novamente para a Argentina e em seguida para Cuba, onde treinou táticas de guerrilha. Terminou vindo para o Brasil.

A trágica história de Soledad Barrett virou peça de teatro e em 2022 percorreu várias cidades da Espanha

Casou e teve sua única filha, antes de vir para o nosso país, onde atuaria contra a ditadura, ao lado de jovens que sonhavam com o fim da opressão, da censura e da perseguição política, apelando para a luta armada. A sua saga já ocupou os palcos da Espanha com o espetáculo  Soledad – A terra é fogo sob nossos pés.   Soledad Barret foi morta junto a um grupo de candidatos a guerrilheiros, na capital pernambucana, em 1973. O episódio – que findou em torturas e mortes – ficou conhecido como “O massacre da chácara São Bento” e as circunstâncias em que a carnificina ocorreu permaneceram como mistério por muito tempo.

A saga de Soledad inspira o romance em que Urariano Mota (escritor e jornalista pernambucano)  resgata vestígios da traição arquitetada contra Soledad, cuja vida e calvário já inspiraram, também, peças de teatro. Neste sábado, dia 28 de outubro, o grupo Floriterárias faz encontro na Livraria do Jardim para um bate-papo aberto ao público a partir das 14h. O escritor estará presente à discussão, quando comentará o seu livro e refletirá sobre a importância de Soledad na luta contra os militares, mas também para a história nacional.  O encontro é gratuito, mas para participar, é necessário confirmar a presença através do link do Sympla, disponível na bio do Instagram @livrariadojardim. Depois, basta ir à livraria, localizada na Avenida Manoel Borba, nº292, e curtir o evento.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação e Acervo #OxeRecife

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