A gente faz uma caminhada pelo bairro das Graças e se defronta com a restauração da Praça do Entroncamento, que está deslumbrante. Como disse aqui, em post anterior, a Praça – antigo ponto de cruzamento de linhas férreas de trens urbanos – é um jardim histórico, com projeto assinado pelo saudoso paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994). Porém, quando se caminha em direção à Avenida Agamenon Magalhães, é preciso tapar o nariz devido ao mau cheiro desse esgoto estourado.
Esgotos estourados, aliás, são cenas comuns nesse Recife do século 21, sem serviço adequado de saneamento básico. Aliás, pouco mais de 30 por cento dos nossos domicílios têm esse tipo de serviço que, no início do século passado, atendia a praticamente cem por cento da população. Sei que não é um assunto que desperte a empatia dos nossos leitores, que são muito ligados no patrimônio arquitetônico e histórico do Recife. Porém é preciso que estejamos atentos e sempre denunciando esse descalabro permanente,visível em todas as áreas da cidade sejam as chamadas “nobres” (como Casa Forte e Graças) ou populares, como os altos da Zona Norte da cidade.
Mas em termos de saneamento, infelizmente, sofremos uma involução. E no Recife, o descalabro aparece não só na situação dos nossos rios, mas também no asfalto de nossas ruas. Eu, que caminho diariamente, o que mais vejo nas ruas é esgoto jorrando, inclusive em frente a hospitais. Há algum tempo não passava caminhando pela Avenida Rui Barbosa, mas lembrei que da última vez que o fiz, no início desse ano, testemunhei o esgoto escorrendo junto ao meio fio, a partir da vizinhança do Colégio Vera Cruz até a esquina da Avenida Agamenon Magalhães, por onde permanece seguindo.
Uma vergonha para a nossa cidade. O fedor é insuportável, inclusive para as pessoas que estão nesse abrigo, à espera do transporte coletivo, como foi o meu caso. E não há como dizer que é entupimento de galeria pluvial não – de responsabilidade da Prefeitura – porque o dia era de sol, a rua estava seca e a maré não estava alta, no momento que aí estive (quando a maré sobe é comum que a água “sangre” por galerias pluviais, já que a cidade tem áreas abaixo ou no nível do mar). Mas o que acontece, muitas vezes, é que esse tipo de “transbordamento” é de responsabilidade da Compesa mesmo. Sempre ela…
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife