Da “agenda de retrocessos” que marcou a nossa história entre os anos de 2019 a 2022, o Brasil até já saiu. Mas o país está aquém dos avanços registrados na América Latina, quando o assunto é cumprimento das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela ONU para erradicação da pobreza e garantir vida digna às populações de 193 países até 2030. É que enquanto a AL está com 22 por cento das metas dos ODS com “progresso satisfatório”, esse percentual entre nós não passa de 7,73 por cento.
Os números são de 2023, comparados com os de 2022, e integram o Relatório Luz 2024, divulgado hoje em Brasília. Realizado pela sociedade civil, o documento analisa o nosso desempenho quanto aos avanços nos ODS que, pelo visto, estão longe de serem alcançados. “Historicamente o Brasil foi descrito como ‘país do futuro’, promessa que infelizmente nunca se concretiza”. De acordo com o relatório, não é fácil no Brasil, tomar-se as rédeas do desenvolvimento sustentável, em decorrência de “um sistema político controlado por grupos que se alimentam das desigualdades e se beneficiam dos privilégios por eles gerados”.
Conforme o documento, “ano após ano, estragos causados por grupos como bancadas ruralistas, armamentistas, e fundamentalistas religiosas, que desidratam nossos direitos no parlamento”, escrevendo “com sangue a partitura de um insustentável modelo econômico, que agudiza as injustiças”. Um exemplo das consequências dessa política invertida: No Brasil há 8,9 milhões de barrigas famintas, apesar de ser o quinto na produção mundial de alimentos.
Segundo o documento, o Brasil tenta, com lentidão, “recuperar o que perdeu e o que foi destruído”, até porque “em muitos setores, progredir significa voltar a índices de 2015”. Situação triste, não é? O documento alerta, ainda, que dados do BNDES “mostram disparidades entre as prioridades do desenvolvimento”. Ou seja, o país segue “distante da transição justa, acessível e inclusiva que necessita”. Pelo menos, no combate à fome, conforme o relatório, o Brasil deu alguns passos. Mas com ressalvas. De toda a agenda ODS1 (“erradicar a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares”), os avanços devem-se mais “à situação calamitosa anterior e o retorno ao Mapa da Fome”, ocorrido na gestão presidencial anterior. É fácil explicar essa colocação. É que a miséria e a fome estavam tão grandes, que a retomada de programas sociais puxa os percentuais positivos em cima de indicadores que estavam lá em baixo.
Em todo caso, atender com programas – como o Bolsa Família – a 21 milhões de grupos familiares, injetando-se R$ 169,6 bilhões na economia já faz a diferença. Tanto é assim, que entre 2022 e 2023, houve redução nos índices de pobreza. Em 2022, o Brasil tinha 12,7 milhões de pessoas vivendo miseravelmente (5,9 por cento da população). Em 2024, o percentual de pessoas vivendo na extrema pobreza caiu para 4,4 por cento. Menos ruim. Mas uma evolução tímida para as reais necessidades. Crianças e mulheres negras são as pessoas mais afetadas pela pobreza, que permanece concentrada no Nordeste. A região tem 27 por cento da população brasileira, mas 54,6 por cento dos pobres do país. Já o Sudeste, tem 42,1 por cento da população, mas 23,8 por cento dos pobres brasileiros. Enfim, o documento faz uma análise crítica e detalhada de cada um dos 17 objetivos dos ODS e suas 169 metas. Incluindo questões como acesso à água, desmatamentos, mudança de clima, crescimento econômico sustentável, etc. E, para cada uma das metas, uma série de recomendações. A produção do documento foi coordenado pela ONG Gestos (do Recife), e contou com participação de 47 organizações e 82 especialistas.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Genival Paparazzi) / G.F.V Paparazzi / ZAP (81)995218132)/ gfvpaparazzi@gmail.com /
É triste, vergonhoso, um país que teve grandes avanços, econômicos e sociais, entre 2002 e 2018, saído do mapa da fome, índices econômicos notáveis tendo o respeito mundial, tem em 6 anos o maior retrocesso de sua história em todos os índices pesquisados e o pior, com complacência da mídia.