Boa Viagem: dia de sol, som alto, jogos “livres”, bolada na cara, barraco na areia e zero policiamento

Neste final de semana, fui aproveitar o domingo de sol e a maré baixa para relaxar na praia fazendo minha habitual caminhada, tomando meu gostoso banho de mar, intercalado com um bom livro que costumo levar para ganhar tempo fazendo uma das coisas que mais gosto na vida: ler. Então, uma mistura perfeita: o exercício da caminhada, o acaba estresse à beira-mar, o sol gostoso e … um conto, um romance, uma biografia, o que der na vontade para me deleitar. Geralmente levo um livro fino, que não pese na bolsa.

Meu horário, no entanto, está diferente. Antes, costumava sair da praia por volta de meio dia, uma da tarde. Não faço mais isso. Primeiro, porque o sol está de lascar e a impressão que tenho é que à medida que a idade avança, a pele fica mais sensível à luz dessa maravilhosa estrela maior. Segundo, porque após as dez, começa a esculhambação, pois ninguém tem mais o direito de ouvir o barulho do mar. É que cada banhista leva sua caixa de som, seu bluetooth, e coloca o que quer ouvir nas alturas, como se fosse o dono da praia. Isso sem falar nos “paredões” que estacionam no asfalto, e também em ambulantes que colocam som alto para “animar” os clientes.

Risco: No domingo, só em frente ao prédio Anacelina havia cinco grupos jogando bola na areia.

No Rio de Janeiro, essa prática de som alto foi oficialmente proibida, e não sei se a proibição está sendo cumprida. Mas aqui no Recife, a poluição sonora beira o descalabro, na orla do Pina e de Boa Viagem. Não sei nas outras cidades da Região Metropolitana, pois normalmente frequento as do Recife. Pois agora tem outro problema. Como não há policiamento – nem PM nem guarda municipal – a bagaceira está grande, também, com bola. Hoje, só em frente ao Edifício Ana Celina, havia pelo menos cinco grupos de jovens jogando bola. Volibol em círculo, futebol também em círculo, queimado. E não eram bolas de plástico leve não. Eu estava lendo meu livrinho, sem olhar o jogo, quando recebi uma bola de couro exatamente no meu nariz. Reclamei aos jovens com educação. E eis que aparece uma mulher totalmente bêbada, que toma minhas dores, e arma o maior barraco na praia. Xinga todo mundo, alto e bom som, e diz que os jovens fizeram isso porque “ela não é a mãe de vocês”.

Temendo mais gritaria e mais confusão da barraqueira, os cerca de dez jovens correram para a água. E eu também. Fui lá neles, logo em seguida, disse que todo mundo tem direito de se divertir, mas com respeito a quem está perto. Foram muito atenciosos, pediram desculpas e disseram que não o fizeram antes devido ao barraco armado pela pingunça, que estava “muito alterada”. Só disse a eles mais uma coisa. “Vejam bem, a pancada foi forte demais, e se fosse uma criança, poderia ter desmaiado, pois senti logo uma dormência no rosto”. Voltei para casa, botei gelo e, felizmente, meu rosto não inchou.

Mas… sinceramente, em um momento desse ou de coisa pior – assalto, arrastão, tiroteio – o que fazer já que policiamento não existe, de jeito nenhum? Há alguns anos, a gente via duplas de PMs de bermudas, fazendo policiamento preventivo na areia da praia. Mas hoje em dia…  Confesso que nem vi (nem vejo nunca) na praia, nem tenho visto no calçadão. E se a barraqueira cismasse de jogar a garrafa nos jovens – no mesmo nível de sua incontinência verbal – quem seguraria a barra? E se eu fosse uma pessoa violenta, e partisse para cima da garotada com cadeira, guarda-sol ou outro objeto, como a gente vê acontecer nas brigas de trânsito?

Uma vez, vi uma moça furar uma bola com um canivete, em Boa Viagem, após ser atingida pela segunda vez enquanto conversava com amigos na areia, e uma turma próxima não parava o futebol, mesmo com a praia de gente. Ao ver a bola rasgada, o dono da esfera fez uma expressão tão horrível para ela, que pensei que ia partir para agressão. Felizmente, esta ficou só no olhar fulminante. Mas se não ficasse? Não sei o que aconteceria. Porque tanto na situação anterior quanto na de hoje, policiamento que é bom… é zero. E embora  a Lei (9837/1967)  proiba jogo de futebol na praia durante feriados e finais de semana, não há quem fiscalize isso.  E bolada pesada é um risco paa quem estiver passando. A presença do setor público  na areia da praia se restringe ao pessoal da limpeza e à Vigilância Sanitária da Prefeitura.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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