Água: desperdício, escassez, poluição

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Muito interessante, a série “Água”, produzida pela TV Globo .  Já era tempo. A população merece realmente ser brindada com reportagens que mostram o descalabro em que se transformou a questão do abastecimento e do saneamento básico no Grande Recife e também em Pernambuco. O acesso tanto à água quanto ao esgotamento sanitário é direito do cidadão que paga imposto para ver o dinheiro ser transformado em serviço público. E, pior, que paga contas sem que o serviço seja realizado. A reportagem mostra como a população da Região Metropolitana precisam penar para ter água na torneira.  E como recebem as “contas” em dia, como se a água nas torneiras fosse farta.

Não é segredo para ninguém que a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) tem a ver com isso, pois praticamente tem o monopólio dos serviços de abastecimento e de saneamento na RM. Como se não bastasse a escassez nas torneiras, são grandes os índices de perda (foto acima): 52 por cento, percentual maior do que a média nacional, que é  38 por cento. Pior, há municípios onde as perdas atingem a mais de 70 por cento, como ocorre no Sertão do Pajeú. Quanto ao saneamento, o Recife vive um grande retrocesso, pois nas primeiras décadas do século passado, a cidade chegou a ser cem por cento saneada.  E, em pleno século 21, o Recife tem 65 por cento de sua população sem direito a esgoto. Inclusive em bairros nobres.

Obras da Compesa, sem sinalização, deixa a população em risco na Zona Norte do Recife: acidentes

Em 2013, foi fechada com grande alarde uma parceria público privada. No caso da Compesa com a Construtora Odebrecht, para cuidar do saneamento. Mas a PPP terminou não dando certo, e depois foi transferida para a BRK Ambiental. A promessa era que todo esgoto estourado em nossas ruas fosse consertado em 24 horas, o que não ocorreu. E, pelo menos o Recife, ficaria até 2025 com 90 por cento saneado. Mas o Governo e a própria BRK já estenderam o prazo para cumprir o que prometeram. A meta só será atingida em 2037

Ou seja, ao completar meio milênio de existência como capital, o Recife ainda terá dez por cento de sua população sem saneamento básico. Isto é, se o prazo prometido não for novamente prorrogado.  Saneamento, aliás, nunca recebeu dos nossos gestores o tratamento com a importância que merece. O Recife – por exemplo – está em situação pior do que no início do século passado, quando era totalmente saneada. Hoje, nossa cidade só tem 30 por cento dos seus domicílios com acesso a esse serviço. E o resultado é o que vocês vêm: riachos, canais, lagoas e rios grandes – como o Capibaribe e o Beberibe – transformados em esgoto a céu aberto. Depois, a população é que leva a culpa por sujar os rios.

Mas esses problemas não são tudo. Além do absurdo desperdício de água e dos esgotos estourados nas ruas, infelizmente, todos os buracos abertos em calçadas e asfalto ficam mal sinalizados. Esse da foto acima foi o último que em vi, ao lado da Praça Flor de Santana, em Casa Forte. Não se coloca sinalizador luminoso nem placa de advertência, para evitar acidentes. Já contei aqui no #OxeRecife, a história do motociclista que faleceu, no dia 29 de agosto, por conta de uma obra da Compesa sem sinalização. O rapaz, que estava trabalhando, caiu com a moto em um buraco aberto no asfalto. Como era noite e o local estava escuro, ele caiu e quebrou o pescoço. Teve morte instantânea. O acidente foi em frente à Praça de Apipucos. Falta saber de quem foi a culpa: se quem deixou de sinalizar ou de quem não fiscalizou a colocação da sinalização correta. Recentemente a vereadora Cida Pedrosa (PC do B) conseguiu aprovar requerimento na Câmara Municipal, solicitando  que toda obra em calçada ou asfalto receba a sinalização devida.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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