Vandalismo, desrespeito e avacalhação nas estátuas do Circuito da Poesia

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O Recife ganhou fama por ser uma das cidades  mais cantadas em prosa e verso no Brasil. Há até uma antologia de Edilberto Coutinho (1938-1995) – Presença Poética do Recife – reunindo  provas do que diz essa humilde redatora. O livro tem poemas de Tobias Barreto (1839-1889) a Augusto dos Anjos (1884-1914), de Carlos Pena Filho (1929 -1960) a João Cabral de Mello Neto (1920 – 1999), de Manuel Bandeira (1986-1968) a Gilberto Freyre (1900 -1987) e Ariano Suassuna (1927-2014).  Ao todo, são  26  autores reunidos no volume, alguns se reportando a um Recife que nem existe mais.

Como faz Manuel Bandeira em seu “Evocação do Recife”, quando fala da Rua da União de sua infância. Ou como lembra Carlos Pena Filho, no “Guia Prático do Recife”, quando este se refere à Ponte Giratória (que não gira mais) ou aos “trinta copos de chope, trinta homens sentados, trezentos desejos presos, trinta mil sonhos frustrados” do Bar Savoy. Este é  hoje só uma nostálgica lembrança dos tempos áureos da Avenida Guararapes, quando o Bairro de Santo Antônio era cheio de glamour e efervescência e o bar era ponto de encontro de intelectuais, políticos e profissionais liberais da cidade, principalmente aos finais das tardes

Manuel Bandeira (foto) não escapou à ação dos vândalos. Nem  Ariano Suassuna, Carlos Pena Filho e Ascenso Ferreira

Boa parte desses autores que constam no livro Presença Poética do Recife integram, hoje, o chamado Circuito da Poesia, como é conhecido o conjunto de 20 estátuas que se espalham pela cidade, homenageando escritores, poetas e até cantores. Elas estão em pontes, ruas famosas – como a da Aurora e a do Príncipe – , geralmente próximas ao Rio Capibaribe, caso dos poetas Joaquim Cardoso, João Cabral de Mello, Ascenso Ferreira, Ariano Suassuna.  Também podem estar em praças, como Carlos Pena Filho, que fica na da Independência, também conhecida como Pracinha do Diário.

No Circuito constam – também – compositores e cantores, como Capiba (1904 – 1997), Luiz Gonzaga (1912 – 1989) e Reginaldo Rossi (1944-2013). Ou pessoas que tiveram seu nome ligado à cultura, como é o caso de Tarcísio Pereira, fundador da saudosa Livro 7. Sua estátua, na Rua Sete de Setembro (foto acima) não sofreu ação de vândalos, mas vejam que avacalhação, aquele guarda-sol todo rasgado que botaram para ele segurar. Na de João Cabral, na Rua da Aurora, já vi menores de rua colocando uma lata de cola para o poeta “cheirar”. Também já o vi com capacete de operários que trabalhavam no conserto de fiação elétrica.  Na de  Rossi, Rei do Brega, os cachaceiros de plantão sentam tanto no seu colo que até já quebraram o seu braço. Na de Carlos Pena Filho, na Praça da Independência, a estátua do poeta azul é sempre usada como varal por moradores de rua. Isso sem falar no vandalismo, pois já foi quebrada uma vez, da mesma forma que já vandalizaram as estátuas de Ariano Suassuna (jogada ao chão), a de Ascenso Ferreira (que teve um pedaço arrancado). Ou a de Manuel Bandeira, que foi emporcalhada.

Que povo é esse que não respeita as ilustres figuras de nossa terra?

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: : @agenciajcmazella

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