Rua do Riachuelo: Edifício Almirante Barroso ganha megamural com a temática afro do maracatu

Antes mesmo resolver os problemas das calçadas assassinas e de acabar com os buracos no asfalto, o Recife quer se transformar na maior galeria de arte urbana do mundo. Algumas cidades, como Lisboa (Portugal) e Bogotá (Colômbia) conseguiram revitalizar bairros e até atrair turistas com esse tipo de iniciativa, colorindo paredes. Na nossa cidade, o pedestre tem que ter cuidado, pois ao olhar para o alto a fim de contemplar as obras de arte, corre o risco de sofrer um acidente.  É que na capital pernambucana, olhar para o lado ou para cima pode ser fatal, para quem caminha, por conta de buracos, desníveis, pedras soltas nas nossas calçadas. Infelizmente.

É inegável, no entanto, que esse tipo de intervenção muda para melhor a paisagem da cidade.  E o bairro da Boa Vista, no Centro, está ganhando mais um megamural, o primeiro do gênero, feito por artistas negras. E que se refere, também, à temática de origem afro: o maracatu de baque virado. O mural tem como tema “Nossa Rainha já se Coroou”. E remete à figura mais importante daquela manifestação cultural afro-brasileira pernambucana. O mural fica no Edifício Almirante Barroso, na Rua do Riachuelo, bem pertinho da Faculdade de Direito do Recife.. Ele foi  criado pelas muralistas e grafiteiras Nathê Ferreira e Fany Lima. E constitui homenagem às personagens negras do Maracatu Nação, que teve origem entre os escravizados do Brasil Colônia. O mural busca, também, transmitir a vivência das artistas, duas mulheres negras, em suas respectivas comunidades: o Maracatu Nação Xangô Alafim, localizado em Jaboatão dos Guararapes, e o Maracatu Nação Cabeça de Nêgo, em Camaragibe. As duas cidades ficam na Região Metropolitana do Recife.

Grafiteiras fazem megamural que remete ao maracatu, manifestação que vivenciam em seus locais de origem

Dividido entre o baque e o cortejo, uma das principais características do Maracatu Nação é seu forte vínculo com a espiritualidade de matriz africana, cujas práticas remontam às coroações de reis e rainhas do Congo.  A obra está em execução, e as artistas foram selecionadas em primeiro lugar no Edital de Credenciamento para Realização de Intervenções Artísticas em Empenas Cegas, promovido pela Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria Executiva de Inovação Urbana (SEIURB). O painel é a primeira obra de tais proporções realizada por duas mulheres negras no Recife, sendo produzida pela Afinco Produções. A artista Nathê destacou a presença majoritária de pessoas negras, mulheres e LGBTs na equipe de produção, fotografia e arte, reforçando a importância de valorizar quem está por trás do projeto, que visa homenagear mulheres negras e a ancestralidade na cultura popular pernambucana, enquanto impulsiona a economia cultural e criativa no Recife.

“É uma equipe muito qualificada e, além da representatividade, temos engenheiras, arquitetas e educadores. O uso da tecnologia também foi muito importante. Pintamos e desenhamos tudo digitalmente, e a partir disso usamos o aplicativo da Coral para selecionar as cores que foram fabricadas exclusivamente para o nosso mega mural. Também utilizamos drone para mapeamento e projeções em 3D”, completou.  A obra fica facilmente visível para milhares de pessoas durante os horários de pico. Além disso, o prédio e a pintura podem ser admirados até mesmo do outro lado do Rio Capibaribe, nas proximidades do Palácio do Campo das Princesas e do Recife Antigo. O Maracatu Nação é reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro. Durante o cortejo do maracatu, duas figuras importantes se destacam. A Rainha, vestida nas cores rosa e vermelho, simboliza a orixá Iansã e representa a liderança feminina hierárquica e material. Já a Calunga, em tons de azul, representa a orixá Yemanjá e assume a forma de uma boneca negra esculpida em madeira. A Calunga desempenha um papel fundamental no maracatu, sendo considerada uma divindade e a principal representação do vínculo espiritual, trazendo consigo segredos e fundamentos mágicos ancestrais que enriquecem essa manifestação cultural.

Negras, as grafiteiras que trabalham no megamural do Edifício Almirante Barroso escolheram tema afro: maracatu

Colorir a parede de um prédio como o Almirante Barroso é um grande desafio. Pois as artistas precisaram atuar nas alturas, de cima para baixo. O trabalho já está quase concluído, como vocês podem observar na foto acima. No edital,  foram classificados 24 projetos que retratam através da arte o tema “Recife Cidade da Música”, onde dois deles estão em andamento. A contratação para execução dos megamurais depende da disponibilidade de realização e capacidade técnica do proponente conforme exigência do edital, bem como à disponibilidade orçamentária durante o tempo da vigência. O valor pago pelos serviços prestados é de R$ 75 mil, correspondente ao tamanho padrão da empena de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) metros quadrados – ficando sob a responsabilidade do proponente credenciado a totalidade dos custos referentes ao planejamento e a execução  das intervenções artísticas em empenas cegas (fachadas sem aberturas) de edifícios de visibilidade pública no Recife.

Nos links abaixo, você confere outras experiências “coloridas” no Recife.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Uenni/PCR e Rennan Peixe/Divulgação

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