Natureza: Pinguins viajam da Patagônia argentina ao Litoral do Brasil, mas poucos sobrevivem

A história de Dindim encantou o Brasil e o mundo. Aliás, emocionou. Dindim é o pinguim que chegou muito debilitado à Ilha Grande, no Rio de Janeiro, onde foi salvo por seu João, um pescador. A amizade, que teve início em 2011, foi tão grande que será tema de filme, dirigido por Davi Schurmann. Pois a cada ano, a ave voltava para visitar o seu benfeitor. O que nem todos sabem é que Dindim é apenas mais um entre milhares de pinguins que cumprem  a nado longa jornada, entre a Patagônia argentina e o Brasil.  É uma rota tão cansativa, que muitos não conseguem completar o percurso e morrem no meio do caminho. Os vivos, que chegam a São Paulo, por exemplo, aparecem extremamente fracos e debilitados. E por esse motivo são resgatados e encaminhados para o Centro de Reabilitação e Despetrolização do Instituto Argonauta, que fica em Ubatuba. a 220 quilômetros da capital paulista. O pinguim, como patos, gansos, cisnes e aves marinhas, têm camada de gordura que impermeabilizam as penas,protegendo-o de problemas como a hipotermia. O problema é que as manchas de óleo que eles encontram na viagem neutralizam aquela proteção natural e fazem com que muitos não resistam ao frio. É aí que entra o Instituto Argonauta para a Conservação Costeira e Marinha, que reabilita animais encontrados nas praias do Litoral Norte de São Paulo, inclusive os chamados pinguins-de-magalhães (  (Spheniscus magellanicus).  A instituição participa do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS),  que além de recuperar os animais, investiga até que ponto a presença do petróleo no mar põe em risco na sobrevivência de animais marinhos, entre aves, quelônios, mamíferos.

Durante a sua jornada migratória, os pinguins-de-magalhães enfrentam diversos desafios, e por esse motivo, muitos indivíduos acabam chegando à região debilitados ou mesmo sem vida. Do total de pinguins atendidos pelo Instituto Argonauta, através do (PMP-BS), aproximadamente 20% chegaram vivos. Mas a situação parece estar se agravando. Nos últimos anos eles têm chegado muito debilitados, com muitos parasitas e acabam  morrendo rapidamente, na maioria das vezes antes mesmo do atendimento veterinário, de acordo com os pesquisadores. Conforme os dados da instituição, até o momento, dentro do PMP-BS o ano que contabilizou o maior número de ocorrências (vivos e mortos) envolvendo pinguins-de-magalhães foi o de 2020 (618). Em 2023, a temporada dos pinguins na região iniciou em junho, mas o pico esperado, ocorre entre os meses de julho e agosto, e vai até outubro. No ano passado foram contabilizadas 166 ocorrências, enquanto que em 2021 foram 103. Segundo o oceanógrafo e presidente do Instituto Argonauta Hugo Gallo Neto, os pinguins-de-magalhães permanecem na água durante a época não reprodutiva. “Vemos pinguins aqui há muitos anos, a ocorrência desses animais na região é normal, o problema é quando não estão bem, e procuram sair da água para descansar e se aquecer. Como são encontrados muitas vezes fracos, são resgatados, reabilitados e  devolvidos à natureza”, ressalta. Os pinguins-de-magalhães são aves marinhas com o corpo adaptado para viverem na água, mas não voam, e têm suas asas modificadas em nadadeiras. Alimentam-se principalmente de peixes, cefalópodes (como polvos e lulas), e pequenos crustáceos, (como krill). São predadores habilidosos na água, e usam suas nadadeiras e bicos para capturar suas presas. Ao contrário do que muitos imaginam, essa espécie de pinguim não é polar e, por isso, não está adaptada a baixas temperaturas.

De acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas (em inglês, IUCN Red List ou Red Data List), o pinguim-de-magalhães está classificado no grupo “segura ou pouco preocupante”, (em inglês, least concern), que é a categoria de risco mais baixo. Espécies abundantes e amplamente distribuídas são incluídas nesta categoria. No entanto, a espécie sofre com os impactos da interação antrópica, a exemplo de outros animais marinhos, causados pela pesca, os efeitos das mudanças climáticas e alterações no ambiente marinho.  No Recife, raramente aparece um pinguim. A cidade não faz parte de sua rota migratória. Mas se você estiver em uma praia no Sul ou Sudeste, não mexa com o animal se se deparar com ele. Veja as orientações do Instituto Argonauta: Se o animal estiver nadando, não se aproxime; Se ele estiver tentando sair da água, dê espaço, ele pode estar cansado (agora, se o pinguim estiver na areia, é necessário chamar a equipe de atendimento); isole a área para manter o animal afastado de curiosos, cachorros e urubus; não o coloque em contato com o gelo ou dentro do isopor. Deixe que fique de relax para não  estressar a ave. Importante: Nunca tente alimentá-lo. E se for fotografá-lo, evite o uso de flash. Toda informação é importante para auxiliar na preservação destes animais.  Além de não se aproximar do animal, ao encontrar uma ave morta ou viva debilitada, as orientações para garantir segurança em relação a gripe aviária, é, em caso de aves marinhas, ligar para o Instituto Argonauta (0800-642-3341 ou 12 99785-3615) e, em caso de aves terrestres, ligar para a Vigilância Sanitária de cada município.

O @institutoargonauta foi fundado em 1998 pela Diretoria do Aquário de Ubatuba (@aquariodeubatuba.oficial) e reconhecido em 2007 como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). O Instituto tem como objetivo a conservação do Meio Ambiente, em especial dos ecossistemas costeiros e marinhos. Para isso, apoia e desenvolve projetos de pesquisa, resgate e reabilitação da fauna marinha, educação ambiental e resíduos sólidos no ambiente marinho, dentre outras atividades. Desenvolve projeto que tem como objetivo avaliar os possíveis impactos das atividades de produção e escoamento de petróleo sobre as aves, tartarugas e mamíferos marinhos, por meio do monitoramento das praias e do atendimento veterinário aos animais vivos e necropsia dos animais encontrados mortos. O projeto é realizado desde Laguna/SC até Saquarema/RJ, sendo dividido em 15 trechos. O Instituto Argonauta monitora o Trecho 10, compreendido entre São Sebastião e Ubatuba. Para mais informações sobre o PMP-BS, consulte: www.comunicabaciadesantos.com.br

Abaixo, você confere mais informações sobre vida marinha.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Instituto Argonauta / Divulgação

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