Depois de passar batido entre as instituições públicas do Recife – até um projeto cultural comemorativo foi rejeitado no Sistema de Incentivo à Cultura da Cidade – o centenário do escritor Osman Lins, felizmente, tem sido lembrado em outras esferas. Entre elas a Universidade Católica de Pernambuco, a Prefeitura de Vitória de Santo Antão , a Cepe, a imprensa do Sudeste e até os Correios, que lançaram um selo para comemorar os 100 anos do nascimento do autor de “Avalovara“. No final de semana, a Academia de Letras e Artes da Cidade de Paulista (ALAP), dedicou uma tarde inteira a discutir a obra do escritor.
Mas quem saiu mesmo na frente foi Unicap. Pois em maio promoveu a XXVI Semana de Estudos Linguísticos e Literários, tendo como tema “Osman Lins, o visitante das palavras”. Coordenadas pelo Professor Robson Telles (foto acima, de camisa clara), as atividades não se limitaram ao mundo acadêmico, pois contaram com participação de alunos da rede estadual de ensino de Pernambuco, que fizeram bonito, após ler e interpretar textos do escritor: exposição de xilogravuras, dramatizações e até cartas escritas para Osman Lins. Em Vitória – onde nasceu o autor de “Lisbela e o Prisioneiro” – também houve um dia de comemorações, em 5 de julho, data do seu nascimento.

Na cidade em que nasceu, a solenidade foi organizada pela Prefeitura de Vitória de Santo Antão. E incluiu até um musical inspirado na peça mais famosa do escritor (Lisbela e o Prisioneiro). Teve, ainda, o lançamento de um selo pelos Correios, para marcar o centenário do nascimento do autor de livros como “Os Gestos”, “O visitante”, “O Fiel e a Pedra”, “Avalovara”. A Cepe Editora acaba de publicar o “Dossiê Osman Lins”, na Pernambuco, Revista de Literatura, do Livro e da Leitura. E a Folha Ilustrada, da Folha de São Paulo, também lhe dedicou espaço.
Há alguns dias, Osman Lins recebeu nova homenagem, coordenada pela ALAP, realizada no plenário da Câmara dos Vereadores de Paulista, localizado na Região Metropolitana do Recife. Auditório cheio e presença, como na Unicap, de estudantes do ensino fundamental, que fizeram uma leitura do conto “A Partida”, um dos mais conhecidos do escritor pernambucano. O professor Robson Telles, Vice-Presidente do Instituto Osman Lins, foi convidado para proferir palestra sobre o escritor.
Ele é um dos especialistas na obra osmaniana no Recife. “A palavra é soberana. Quando a gente está lendo Osman Lins, não lê só o texto do autor, mas está lendo o mundo”, ressaltou. O professor fez um “passeio” literário sobre as obras do autor pernambucano, começando por “Os Gestos”, livro de contos lançado em 1957, e que é discutido ainda hoje, até em escolas do ensino fundamental. Ou seja, uma obra atemporal. Tanto é assim, que em Paulista, os alunos da Escola Municipal Gilda Amorim fizeram a leitura do conto, durante a cerimônia da ALAP.

Robson lembrou que o livro “Os Gestos” é formado de contos imprescindíveis “não só à Literatura pernambucana e à brasileira, mas à do mundo”. O professor “viajou” por várias obras de Osman, como romance “O Visitante” e o livro “Nove, Novena”. E mostrou que esse último não se resume a “narrativas”, como definiu o próprio autor ao que, a princípio, pareceriam simples contos: “não são só contos, mas verdadeiros poemas, pois há neles uma poeticidade enorme”, lembra o professor.
Para ele, escritores como Osman fazem com que as pessoas vejam a palavra de outro jeito. “Osman Lins não é só inspiração, é transpiração”. Lembra a importância da palavra, tão sagrada para o escritor. “Se Deus é Palavra e nós somos feitos à semelhança dEle, somos, também, palavras”, lembrou. Além do professor e do “jogral” sobre “A Partida”, feito por estudantes, o próprio Robson e seu ex aluno, Marcos Andrade Filho (hoje doutorando, de terno na foto) fizeram uma emocionante e dramatizada leitura de “Os confundidos”, narrativa inquietante do livro “Nove, Novena”, que descreve a dolorosa vivência existencial de um casal em crise.
Ainda houve declamação do cordel “Centenário de Osman Lins”, de autoria do acadêmico Amaro Rodrigues do Nascimento (Amaro Poeta) que, como Osman, nasceu em Vitória de Santo Antão. E os acadêmicos da ALAP leram trechos de Avalovara, considerado o livro de leitura mais difícil de Osman, mas também o que o consagrou de forma definitiva no exterior. Na qualidade de presidente da ALAP, Lucélia Gomes distribuiu certificados de participação na cerimônia a conferencistas, estudantes, professores e até às filhas do escritor. Foi uma tarde bonita, repleta de significados. E que, como diz Robson, cumpriu o seu papel: o de disseminar a obra de Osman. E sobretudo provocar estímulos para que crianças, adolescentes e adultos mergulhem em tão importante obra.
Amaro Poeta lê cordel para assinalar o centenário de Osman Lins. Homenagem foi em Paulista, na Região Metropolitana do Recife.
Leia também
Centenário de Osman Lins: Professora comove ao lembrar conto “A Partida”
Centenário: Osman Lins vira selo dos correios e “cadeia cultural”
Centenário de Osman Lins: Revista traz dossiê sobre o autor
Vitória de Santo Antão comemora o centenário de Osman
Homenagem a “Osman Lins, O Visitante das Palavras” prossegue na Unicap
Retábulo de Santa Joana Carolina, de Osman Lins, vai virar filme
Centenário de Osman Lins começa a ser comemorado
Alunos da rede estadual fazem emocionante homenagem a Osman
Vitória: o teatro de Osman Lins em cena
Teatro de Osman Lins em discussão
Ditadura: a dificuldade dos escritores
Santa Isabel tem Problemas Inculturais
Cartas inéditas entre Osman Lins e Hermilo chegam ao palco
Marcha Fúnebre de Osman Lins tem exibição no Arquivo Público
O mergulho na obra de Osman Lins
O dia que esqueci que sou repórter
Só dá mulher em Lisbela e o Prisioneiro
Lisbela e o Prisioneiro está de volta
Lisbela e o Prisioneiro volta ao palco do Teatro Apolo, dias 4, 5 e 6 de agosto
Sucesso de público, Lisbela e o Prisioneiro em Janeiro de Grandes Espetáculos
O Zoológico de Vitória de Santo Antão
Cobogó das Artes tem curso de férias
Recife Literário com atitude
Só dá mulher em “Lisbela e o Prisioneiro”
“Lisbela e o Prisioneiro” está de volta
Marcha Fúnebre, de Osman Lins, tem exibição no Arquivo Público
O mergulho na obra de Osman Lins
Texto e vídeo: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins / #OxeRecife e Cônego Daniel Barros (cortesia)