Osman Lins: Estudantes encenam “A Partida”, “Cadeira de Balanço” e “Menino Mau”

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Haja emoção. Estive com minhas irmãs – Litânia e Ângela – no Colégio São Luís, na manhã da quarta-feira, onde ocorreu um “Tributo a Osman Lins”, para assinalar o centenário do escritor, nosso pai (1924-1978).  Ao chegarmos no auditório onde ocorreria a homenagem, nos surpreendemos com as paredes cobertas por frases extraídas dos seus livros, assim como desenhos feitos à mão, reproduzindo fotos do autor de “O Visitante”, “A Rainha dos Cárceres da Grécia”, “Avalovara”,  “Nove Novena” , de “Lisbela e o Prisioneiro”, só para citar algumas de suas obras mais conhecidas.

Só ver as paredes recobertas com papéis alusivos ao nosso pai , já seria suficiente para mexer conosco. Mas não era só isso. Encenações de três de seus contos nos aguardavam. E teve mais: encerradas as apresentações, formou-se um grupo de alunos no palco para discutir a essência, o sentido, e os conflitos psicológicos presentes nas três obras dramatizadas pelos estudantes. Foram elas: “Cadeira de Balanço” e “A Partida”, ambos do seu livro de contos “Os Gestos”. E ainda  “Menino Mau”.

O último foi garimpado pelas professoras que organizaram o evento.  Ele o havia publicado no Diário de Pernambuco, aos 20 anos.  E o qual – confesso – nem lembrava da existência. Tanto que indaguei a Ângela, antes da encenação, se não haviam trocado o título de “Lembrança”, de “Os Gestos”, no qual o menino personagem acerta um canário com a baladeira. “Larguei o tiro, houve um despetalar de asas, um cintilar de gotas de água, e o pássaro caiu. Dei um grito, saí correndo pelo quintal molhado”. Não. Não havia sido trocado o título. Era outro “menino mau”, que nem mau era. Mas era assim  que a madrasta o encarava, porque ele representava um atrapalho em sua vida.

As três filhas de Oman Lins – eu inclusive – com a equipe do São Luís na comovente homenagem prestada ao autor

Antes do início da dramatização, o estudante Joaquim Figueiroa subiu ao palco encarnando Osman Lins, e deu uma “entrevista” à “apresentadora” Sofia Sobral, que na verdade consistiu em um pequeno resumo da biografia do escritor. Logo em seguida, teve início a dramatização de “A Partida”, conto em que o autor relata os últimos momentos na casa da avó, no interior, antes de se mudar para o Recife, o que  representava para o jovem protagonista  o sonho de liberdade, de morar na cidade grande, de se ver livre do excesso de afeto e da superproteção da avó (Joana Carolina, na vida real).

Depois, foi encenado “Cadeira de Balanço”,  no qual  a personagem Júlia Mariana,  grávida, vive o cansaço das intermináveis tarefas domésticas a que era submetida, em uma relação opressiva na qual cedia até a cadeira de balanço para o marido, apesar do peso da barriga.  Por fim, “Menino Mau”, assim entendido pela madrasta, que o culpava pelas limitações em sua vida, que ela julgava que poderia ser bem mais divertida sem a presença do enteado. Terminadas as três apresentações – diga-se de passagem, em resumos perfeitos – oito jovens sobem ao palco, tomam seus lugares, e passam a discutir e refletir sobre os contos que acabaram de ser encenados. Todos, sem exceção, fizeram comentários pertinentes. Ou seja, interpretaram muito bem o espírito da coisa. Ou das coisas. Ou dos fatos. Ou dos personagens estudados. Ou dos sentimentos e conflitos psicológicos ali expostos.

De parabéns, portanto as professoras Verônica Cabral (Literatura), Catarina Ferraz (Português), Cláudia Zoraya e Viviane Morais (Produção Textual). E também o diretor do colégio, Gleison Olivo, que inclusive prestigiou a atividade com sua presença. Tenho certeza que meu pai estaria muito feliz, hoje, vendo a meninada discutindo sua obra com tanta profundidade. Seus olhos azuis sempre brilhavam, quando falava dos seus livros, do processo de criação literária. Com certeza, voltariam a brilhar, se estivesse no auditório, assistindo o que nós assistimos. Felizmente, vários colégios – inclusive da rede pública de Pernambuco – vêm se dedicando a dissecar parte da extensa obra de Osman Lins.

Nos links abaixo, você confere mais informações sobre Osman Lins e também sobre o centenário, e um pequeno trecho – no vídeo – na fala do diretor do São Luís, Gleison Olivo.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: alunos do São Luís

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