Esses artistas da foto têm uma coisa em comum. É que vão participar da Exposição “O Retábulo de Lins”, que acontece às 19h do dia 10 de dezembro, no Museu do Estado de Pernambuco, graças a uma estudiosa da obra do escritor Osman Lins (1924-1978): Elizabeth Hazin. O evento, idealizado e organizado pela pesquisadora, assinala o centenário do escritor pernambucano – pai dessa escriba aqui – e autor de livros como “Os Gestos”, “O Visitante”, “O Fiel e a Pedra”, “Avalovara” e “Nove, Novena” . Este traduzido no exterior com o nome de “O Retábulo de Santa Joana Carolina”. Foi justamente sobre este, que consta em “Nove, Novena” que os artistas se debruçaram, por sugestão de Hazin, para criar as obras que comporão a mostra no MEPE. Ao todo, são doze artistas.
Mais precisamente sobre os doze “mistérios” que formam o “O Retábulo de Santa Joana Carolina”. Para tanto, Álvaro Caldas, Antônio Henrique, Clériston de Andrade, Fabíola Pimentel, Jessica Martins, Maurício Arraes, Rikia Amaral, Roberto Ploeg, Romero de Andrade Lima, Tereza Perman, Timóteo e Vânia Notaro leram e releram, mergulharam no universo do escritor, tiveram várias discussões sobre a narrativa e reuniões com a pesquisadora. Eles atuam no projeto como voluntários, mas o sonho de Hazin é que algum colecionador ou instituição adquira a coleção, que foi criada entre conversas, debates, trocas de ideias, descobertas e interpretações sobre os “mistérios”.
“O Retábulo de Lins”, no entanto, é um projeto bem mais amplo. Pois incluiu apresentação da Orquestra Criança Cidadã e até um desfile de moda, com looks criados pela estilista Eliane Mello que, como o escritor, nasceu em Vitória de Santo Antão, cidade localizada a 51 quilômetros do Recife e que este ano já tinha prestado uma bonita homenagem a Osman Lins, no mês de julho. Até um selo comemorativo do centenário foi lançado pelos correios na cerimônia, que foi organizada pela Prefeitura de Vitória, que presta sempre homenagens ao filho ilustre da terra.
O escritor também tem sido alvo de homenagens em estabelecimentos particulares (como os colégios São Luís e o Decisão (foto vertical), e Universidade Católica de Pernambuco), assim como em escolas públicas incluindo dezenas da rede estadual em Pernambuco, que até exposição (de desenhos e xilogravuras) chegaram a fazer interpretando contos de Osman Lins ( e que, infelizmente, ficaram apenas por um dia à mostra na Unicap). Elizabeth Hazin é leitora de Osman desde a adolescência. Com vasta vida acadêmica, ela costuma dizer que Guimarães Rosa e Osman Lins “são os dois homens de minha vida”. Na verdade, refere-se aos dois autores, pois estudou muito o primeiro. Quanto ao segundo, ela não consegue parar de estudar. Há 16 anos, dedica-se a investigar e interpretar a obra osmanina, colecionando sobre ele pelo menos 80 atividades que incluem publicações, conferências, livros, organização de eventos, orientação de dissertações e teses.
Em 2024, decidiu prestar-lhe uma homenagem merecida. Porém esbarrou na burocracia e na indiferença do setor oficial e até mesmo do empresariado. Hazin fez o projeto “O Retábulo de Lins” propondo a exposição e o desfile no MEP, via Lei Rouanet (Lei 8.313/1991, lei federal de incentivo a cultura ). Conseguiu aprovação, mas não encontrou receptividade no empresariado. Então, decidiu ingressar no SIC (Sistema de Incentivo à Cultura) do Recife, mas mesmo sem apresentar problemas técnicos, a proposta foi recusada, o que a surpreendeu. Afinal, o centenário do escritor é em 2024 e, claro, o ano oportuno para que o fato fosse comemorado, embora não tenha sido esse o entendimento do SIC que recusou o projeto
Mas quando se trata de divulgar, disseminar, ampliar o conhecimento da obra de Osman Lins, ela é daquelas que insiste, persiste e não desiste. No caso, mesmo sabendo que a empreitada deve sair em torno de R$ 40 mil (sem incluir despesa de aquisição ou de participação dos artistas). E ela está atrás de ajuda de pessoas ou empresas que tenham sensibilidade cultural e possam ajudar o projeto. Tocado com a dificuldade – até o momento só foram arrecadados R$ 14 mil – o pintor Sérgio Lemos decidiu colaborar, doando uma obra para sorteio. Cada “cartela” custa R$ 50. E a compra do Nu (óleo sobre papel ondulado) pode ser feita no link https://rifei.com.br/exposicao-coletiva-de-artes-visuais?
Nos links abaixo, você pode conferir outras informações sobre Osman Lins. Em dezembro, o livro de contos “Os Gestos” será relançado pela Editora Olho de Vidro. “Avalovara” vai ganhar uma edição especial (pela Pinard) e está sendo traduzido na Europa. “Problemas Inculturais Brasileiros” saindo pela Cepe. E há editoras interessadas na reedição dos seus romances. Vamos torcer para que dê certo. Sua peça “Lisbela e o Prisioneiro” – a obra mais popular – é sempre encenada em algum lugar, incluindo nos colégios. O livro “Casos Especiais” (escritos para o programa do mesmo nome da Tv Globo), foi editado pela Cepe. A Editora Universitária lançou “Evangelho na Taba e Problemas Inculturais Brasileiros”, enquanto a Cepe está para lançar “Guerra sem Testemunhas”. Na exposição “O Retábulo de Lins”, Hazin funciona como curadora, com Bárbara Collier na produção.
No vídeo abaixo, confira a inciativa de Elizabeth Hazin, sobre a expô “O Retábulo de Lins”
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação
Lamentável a burocracia e indiferença do setor oficial e empresariado local ,negando viabilizar um projeto que homenageia um grandioso escritor como Osman Lins
Falta de sensibilidade, educação e respeito em não prestigiar e valorizar a memória de um nome que deve estar no panteão da nossa literatura.
Que especial, Letícia, essa exposição embasada na obra do seu pai. Claro, não deixarei de ir ao Museu do Estado para ver. Deve ser bem diferente, imagino. Muito boa a iniciativa da escritora/poeta Elizabeth Hazin.