Bioma único no mundo – só existe no Semi-Árido do Brasil – porém sempre vulnerável às longas estiagens, a caatinga está cada vez mais seca. A região viu sua cobertura de solo encolher entre 1985 e 2020, fenômeno agravado pelas mudanças climáticas que incorrem, também, em aumento do risco de desertificação. No período, a perda de vegetação primária totalizou 15 milhões de hectares. Ou seja, uma retração de 26,36%.
“Embora tenha ocorrido um crescimento de vegetação secundária de 10,7 milhões de hectares, o saldo geral é negativo – tanto em extensão de área, como na qualidade da cobertura vegetal”. As informações são do MapBiomas, com base em pesquisas a partir das análises de Satélite. Entre os fatores que provocam a perda de vegetação nativa destaca-se o avanço da atividade agropecuária e da urbanização. No período de 1985 e 2020, mais de 10 milhões de hectares de savana e formações florestais foram convertidos em atividades associadas à agropecuária. Outros 1,26 milhões de hectares de vegetação não florestal foram convertidos para o mesmo uso no período. A agropecuária avançou sobre 11,26 milhões de hectares da Caatinga e passou a responder por 35,2% da área do bioma em 2020.

O total de vegetação nativa da Caatinga (ou seja, a soma das áreas de savana, campo e floresta) ocupava 63% do bioma, respondendo por 9,8% da vegetação nativa do Brasil. Também houve redução na superfície de água, o que é grave demais. O decréscimo chega a 79.346 hectares ( 8,27%) na superfície líquida. Além da redução da superfície total de água, houve também uma retração de 40% na água natural entre 1985 e 2020. Essa categoria, que engloba os cursos de água que fluem livremente, respondia por menos de um terço (27,48%) da superfície de água da Caatinga em 2020. A maior parte estava retida em hidrelétricas (42,69%) ou reservatórios (29,61%). O avanço da infraestutura urbana também contribuiu para a redução da cobertura verde. “Os impactos das mudanças de uso do solo são potencializados pela crise climática e o resultado é uma Caatinga ainda mais seca e vulnerável”, explica Rodrigo Vasconcelos da UEFS e do MapBiomas.
E, como acontece em qualquer lugar, a supressão da vegetação reduz- claro – a oferta d´água, a manutenção de nascentes. Na série histórica mapeada, a menor extensão de superfície de água (629.483 hectares) foi registrada recentemente, em 2017. A média de superfície de água mapeada nos 36 anos analisados é de 922 mil hectares. A retração da superfície de água ocorreu concomitantemente à perda de 10% de áreas naturais (-5,9 milhões de hectares). Todas as regiões hidrográficas tiveram redução de cobertura vegetal natural entre os anos de 1985-2020. A região Atlântico Nordeste foi a que apresentou maior redução em termos de área com perda de 3 Mha. Em termos percentuais, a região Atlântico Leste lidera as perdas, com 19,52%, seguida por Atlântico Nordeste (-13,40%) e São Francisco (-8,87%). Dos 10 municípios que mais perderam vegetação natural na Caatinga entre 1985 e 2020, oito ficam na Bahia.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Andarapé e Cprh-FPI / Acervo #OxeRecife