O caboclo de lança está para Pernambuco como os membros da Guarda Real para a Inglaterra. Guardadas as devidas proporções e significados, cada qual representa a identidade de um povo. São figuras icônicas facilmente atreladas pelo público ao estado ou ao país de origem. Mas enquanto os guardas da realeza viraram atração turística com ritual silencioso, os lanceiros do maracatu de baque solto fazem o maior barulho com seus chocalhos e guardam cem anos de tradição de poesia oral.
Também conhecido como maracatu rural, a brincadeira popular reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil vai ter condições de mostrar essa poética, no próximo sábado (24/8), no município de Nazaré da Mata, localizado a 65 quilômetros do Recife. É que a cidade sediará o 7º Encontro Regional de Mestres de Maracatu da Mata Norte. E que acontece na Travessa São José, localizada no bairro do Sertãozinho, ao lado da Capelinha de São José. O acesso é gratuito.
A Mata Norte e também o município de Nazaré são conhecidos pela exuberância e efervescência daquela manifestação popular. No sábado, 20 mestres, considerados guardiões da palavra, vão se revezar em uma noite de festa, cultura, diversão e muita alegria. O encontro deve durar até 5h da manhã do domingo, dia 25. Ao todo, serão nove horas de evento gratuito, realizado ao ar livre, para o público.
Destaque para abertura com a participação especial do Bloco Rural Estrelinha e do Terno do Maracatu Águia Dourada, ambos de Nazaré da Mata, município conhecido pela riqueza de suas manifestações culturais. Esta é a primeira vez que a iniciativa conta com apoio da Secretaria de Cultura, Fundarpe e Governo de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura. Por que encontro de mestres? O mestre é uma figura importante e reverenciada no maracatu rural. É ele que dá o prumo da brincadeira, funcionando como coração e a voz.
Trajando chapéu estilo modelo panamá, camisa colorida, calça, sapato fechado, apito e bengala, a figura do mestre impõe respeito pela sua sabedoria popular, aquele que transmite os saberes acumulados, e que cria e recria seus versos de tradição oral, também lançando mão do improviso. Juntamente com o contramestre, ele é responsável por criar, durante as apresentações, versos como marchas, samba de dez, galope e samba curto e curtinho, estilos que refletem a vivacidade e a força da tradição oral nordestina. Para impor o ritmo, ambos contam com acompanhamento de tarol, bombo, mineiro, gonguê e póica, além dos metais.
O 7º Encontro Regional de Mestres de Maracatu é um projeto itinerante, que acontece nas sedes de maracatus de baque solto da zona canavieira. Em Setembro, o projeto será realizado na cidade de Tracunhaém. Já no mês de outubro, haverá o encerramento em Nazaré da Mata. A expectativa é que, até o fim do projeto, cerca de 60 mestres participem da programação. Algumas figuras conhecidas do maracatu de baque solto serão homenageadas: Véi (bandeirista do Maracatu Leão Dourado); Vanessa Vieira (cabocla de pena Arreamar); Mestre Caboclo Otávio; Josilene (Vice-presidente do Maracatu Estrela da Serra – Tracunhaém); Preto bem-vindo (caboclo de lança do Maracatu Cambinda Brasileira, de Nazaré da Mata). Participam do encontro os seguintes Mestres e contramestres: Pita, Gabriel Silva, Josemir, Mestre Vinícius, Chuchu, Neguinho, Ivan Batista, Dedé Vieira, Hú, Adelson Silva, Negro Ouro, Natal, Genário, Dudu, Josuel Caboclo, Luiz Marcolino, Glebson Salú, Pedrinho Gabriel, Léu, Vanzinho, Silas Daniel e Mestre Gil Régis
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Serviço O quê: Mestres de maracatus de baque solto celebram tradição centenária da poesia oral em encontro regional no interior de Pernambuco Quando: Sábado, dia 24 de agosto Onde: sede do Maracatu de Baque Solto Águia Dourada, localizada no bairro do Sertãozinho. Horário: 20h do dia 24 até às 5h da manhã do domingo, dia 25 Ingresso: Gratuito |
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: SEI e Letícia Lins / Acervo #OxeRecife