“Guerra sem testemunhas”, de Osman Lins, é relançado meio século depois

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“Caminha o livro para a extinção ou está mais vivo do que nunca? “ Esse questionamento, tão em evidência no século 21, com a expansão do mundo virtual, foi feito por Osman Lins (1924-1978) há meio século atrás, quando analisava a condição do escritor. Ou seja, muito antes do advento da Internet. “Poucas, sabe-se, as possibilidades de alcançarmos, neste ofício, a recompensa de um livro duradouro. Por mais que cerremos o espírito aos desvios, destinam-se os escritos literários, em grande maioria, a existência curta: 80% desaparecem em um ano, 99% em vinte anos. Um massacre onde poucos sobrevivem”, ressaltava. As duas colocações constam do livro “Guerra sem testemunhas”, que será lançado às 19h30m da sexta-feira (24/01), no Museu do Estado de Pernambuco, no bairro das Graças.

Esgotado há décadas, “Guerra sem Testemunhas: o escritor, sua condição e a realidade social”, teve sua última tiragem em 1974, e agora torna-se acessível aos leitores devido a um esforço de duas editoras, que se uniram para concretizar a sua terceira edição: a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) e a Editora da Universidade Federal de Pernambuco.  Trata-se de um “ensaio profundo, irônico e ousado, com recursos do campo da ficção, sobre o ofício de escrever e a relação do escritor (e da escrita) com o mundo – dos editores e leitores aos censores”, segundo a Cepe. É que o livro foi produzido em um tempo em que imperava a ditadura militar, e a censura impunha mutilações ou mesmo proibições à Literatura, à imprensa e às artes em geral. A nova edição foi organizada pelo escritor, crítico literário e Professor Fábio Andrade (UFPE).

Professor Fábio Andrade, que organizou a terceira edição do livro “Guerra sem Testemunhas”, de Osman Lins

Com 332 páginas e capa de Ildembergue Leite,  a nova edição traz novidades: uma pequena iconografia (imagens em P&B), que remete ao período de elaboração do livro e à sua repercussão; e também índice onomástico com pensadores, escritores e artistas citados pelo autor. Fábio ainda teve o cuidado de acrescentar notas cujo principal objetivo é “ressaltar certos diálogos do pensamento crítico de Osman Lins com sua própria produção literária”. Na apresentação, ele assinala certos aspectos do livro “sintonizados com nosso tempo”. Afirma Fábio Andrade:

“A reedição de Guerra sem Testemunhas: o escritor, sua condição e a realidade social é de enorme contribuição para o debate público sobre a literatura na atualidade. Como intelectual latino-americano, Osman Lins sempre insistiu na necessidade do escritor engajar-se no enfrentamento dos problemas e desafios de seu país, é um escritor combativo, muito mais do que polemista. A maior conquista com a reedição é justamente dar visibilidade, 50 anos depois, a um livro que ainda recende a pura pólvora, num país cheio de problemas estruturais graves, e com certos setores elogiando nostalgicamente a opressão que Osman Lins tanto combateu.”

Osman Lins é autor de romances (Avalovara, O Visitante, O Fiel e a Pedra), contos (Os Gestos), narrativas (Nove, Novena), relatos de viagem (Marinheiro de Primeira Viagem), obra para teatro e TV (Lisbela e o Prisioneiro, a Idade dos Homens, A Marcha Fúnebre, A Ilha no Espaço) e ensaios (Guerra sem testemunhas, Problemas Inculturais Brasileiros, Evangelho na Taba, Lima Barreto e o Espaço Romanesco).

Guerra sem Testemunhas traz reflexões sobre o trabalho criativo, a crítica literária, a circulação de livros, os leitores, o mercado editorial, as dificuldades para publicação de livros, a demora na análise de originais por parte das editoras e os espaços na mídia. Também reage à remuneração do escritor baseada no número de livros vendidos e não pela quantidade de exemplares impressos, e à falta de republicação de obras esgotadas de autores novatos. “Guerra sem Testemunhas é uma obra que merece ser mais reconhecida. Ensaio preciso, profundo e criativo, é, como aponta o organizador Fábio Andrade, um livro quase solitário na produção brasileira do século XX, com um olhar provocante sobre o ofício — e a solidão — do escritor diante do sistema literário e da sociedade. Nesta terceira edição, a Cepe Editora e a Editora UFPE se unem para trazer de volta às prateleiras um título que estava se tornando uma raridade, e que merece novas e renovadas leituras”, afirma o jornalista e editor da Cepe, Diogo Guedes.

Para Fábio Andrade, com a republicação do título, “a maior conquista é justamente dar visibilidade, 50 anos depois, a um livro que ainda recende a pura pólvora, num país cheio de problemas estruturais graves, e com certos setores elogiando nostalgicamente a opressão que Osman Lins tanto combateu.” Lançamento terá bate papo entre Fábio Andrade e Eduardo César Maia.

Nos links abaixo, você tem mais informações sobre Osman Lins, e eventos relacionados ao seu centenário, comemorados em 2024.

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Serviço
O que: Lançamento de Guerra sem Testemunhas: o escritor, sua condição e a realidade social. Haverá bate-papo entre Fábio Andrade e o professor Eduardo César Maia.
Quando: Sexta-feira, 24 de janeiro
Hora: 19h30 às 21h30
Onde: Museu do Estado de Pernambuco
Endereço: Avenida Rui Barbosa, 960, Graças, Recife-PE
Preço: R$ 70 (impresso)

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Acervo de família, e  Leopoldo Conrado / Divulgação / Cepe

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