Na trilha dos holandeses, no Monte das Tabocas. Batalha histórica em Vitória vai ganhar novo livro

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Dos livros didáticos dos tempos de criança, guardo apenas duas lembranças referentes à ocupação holandesa: o Conde João Maurício de Nassau (1604-1679) e a famosa Batalha dos Guararapes (1648-1649). Desta, a representação simbólica mais forte é o famoso quadro a óleo de Victor Meirelles (1832-1903). Porém, o Monte das Tabocas era uma referência misteriosa. Isso porque embora não fosse citado em sala de aula, sempre ouvia falar dele, pela sua importância histórica, todas as vezes que, menina, ia passar férias em Vitória de Santo Antão, terra dos meus ancestrais. Ficava encantada, ouvindo as histórias que os meus avós contavam a respeito da bravura de brasileiros que lá repudiaram os flamengos, mesmo em desvantagem numérica.

O histórico Monte das Tabocas merece uma visita: está bem cuidado,porém faltam mais informações históricas

Imaginava as cenas de guerra, os cavalos, as armas, a indumentária dos guerreiros dos dois lados. O problema é que apesar de toda curiosidade, eu nunca havia ido lá. Nem com os parentes, nem com os pais e muito menos em alguma excursão escolar, coisa rara de acontecer nos tempos de colégio. Então, o Monte das Tabocas virou uma fantasia no meu imaginário infantil, diante das histórias de luta e batalhas que meus avós relatavam. Durante os carnavais, em Vitória, lembro-me do bloco Clube das Tabocas, que me levava, de novo, a imaginar como seria esse acidente geográfico, tão presente na vida das pessoas daquele município, localizado a 51 quilômetros do Recife. Pois não é que recebo, há alguns dias, um convite para conhecer o local? Partiu de Evandro Duarte de Sá, autor do livro “101 Manias de Grandezas de Pernambuco”.

Em meio à vegetação exuberante da Zona da Mata, Evandro nos mostra os caminhos trilhados pelos antepassados.

Evandro, como o outro convidado (o urbanista Francisco Cunha), é companheiro de grupos que exploram o Recife a pé, dos quais também faço parte. E adora história, como nós também adoramos. Então, fomos os três, pois Evandro está escrevendo um livro sobre a Batalha do Monte das Tabocas, que impôs derrota aos holandeses no Dia de Santo Antão. Por esse motivo, o nome da cidade é Vitória de Santo Antão. Foi ali a primeira vitória da Campanha da Restauração, quando cerca de 1700 holandeses atacaram com armas de fogo, sendo recebidos por pouco mais de mil e apenas 230 armas. Evandro está pesquisando para escrever o livro A Batalha das Tabocas segundo Frei Manoel Calado de Salvador, com base na leitura de O Valeroso Lucideno, produzido por Salvador entre 1645 e 1646, com  testemunhos de batalhas travadas pelos holandeses, portugueses e brasileiros. O livro foi publicado em Portugal em 1648 e ainda hoje está em catálogo, a julgar pelas ofertas em livrarias virtuais.

Francisco Cunha, Evandro Duarte de Sá e Letícia Lins na trilha dos holandeses, no Monte das Tabocas

A notícia boa é que o Monte das Tabocas está arrumadinho.  Aparentemente a Prefeitura de Vitória está cuidando do local. A vegetação está preservada, as construções caiadas, limpinhas. Há placas indicativas, porém faltam informações mais detalhadas sobre a batalha: onde ficavam as tabocas (bambuzais), os locais por onde chegavam as embarcações (Rio Tapacurá), a pedra alta de onde parece que os brasileiros controlavam a situação.   O pequeno museu que funciona no local me pareceu improvisado, e com informações muito pobres que deveriam ser ampliadas. Pois os detalhes históricos mais minuciosos sobre o local nos foram repassadas por Evandro, após subidas e descidas pelo Monte até a margem do Rio. Enfim, conheci finalmente o Monte das Tabocas, depois de tantos anos de espera. Foi um ótimo passeio, com boas companhias e enriquecimento histórico!

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins, Francisco Cunha e Evandro Duarte de Sá

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