Eles estudam, analisam, interpretam e nos contam a nossa história. As conquistas, os grandes erros, as guerras, as vitórias e massacres dos movimentos sociais, as revoluções libertárias, os golpes contra a democracia, a luta pelo direito ao voto. Falam, também, dos grandes homens e mulheres que, com sabedoria, enriqueceram a humanidade. Mostram, ainda, carrascos, torturadores, genocidas, ditadores que não devem servir de inspiração para ninguém. Sempre por trás das páginas que tanto nos dão conhecimento, os historiadores agora são protagonistas de um novo livro: “Artífices da História: Trajetórias de vida e itinerários intelectuais”.
De autoria de um jornalista e um historiador – Evaldo Costa e Helder Remigio de Amorim – a publicação será lançada na XV Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, que acontece no Centro de Convenções de Pernambuco (Cecon), em Olinda. O lançamento ocorre às 17h desse sábado (4/10), no Espaço Conexões Petrobrás da Bienal. Acredito que seja um iniciativa inédita pois, sinceramente, não lembro de nenhuma outra publicação aqui no estado que se dedique a mostrar a trajetória dos nossos historiadores. O livro resulta de um projeto do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano. A ideia era narrar percursos pessoais e saberes de 18 historiadoras e historiadores selecionados pela dupla. As entrevistas foram realizadas entre março e setembro de 2022.

Foram feitas entrevistas gravadas, que renderam 528 páginas, que acabam de sair do “forno”. A edição é da Cepe (Companhia Editora de Pernambuco). O livro interessa não só a historiadores e a estudantes de história, mas ao público em geral. E reúne os bambambãs que atuam no nosso estado. Mas a dupla foi, também, ao Rio de Janeiro, onde entrevistou Evaldo Cabral de Mello, que nasceu no Recife e é considerado um dos mais importantes pesquisadores do período de dominação holandesa em Pernambuco, durante o século 17.
Além dele, constam no livro entrevistas com: André Heráclio do Rêgo, Antônio Jorge Siqueira, Antônio Paulo Rezende, Antônio Montenegro, Carlos Miranda, Edson Silva, Flávio Cabral, George F. Cabral de Souza, Giselda Brito Silva, Josemir Camilo de Melo, Marcos Albuquerque, Marcus J.M. de Carvalho, Mário Hélio Gomes, Rita de Cássia Barbosa Araújo, Socorro Ferraz, Suely Cordeiro de Almeida e Sylvia Costa Couceiro. Durante meu exercício profissional, perdi a conta das vezes que acorri a alguns desses historiadores para me socorrer na hora de produção de textos que precisavam de informações históricas precisas sobre assuntos tão diversos. Como a importância de Pernambuco no Brasil colônia e o Golpe de 1964 (Socorro Ferraz); a evolução do nosso carnaval (Rita de Cássia); e o apagamento da presença feminina na nossa história (Sylvia Costa Couceiro), por exemplo. São pessoas que, com os seus saberes, iluminam nossas mentes.
E até, de olho no passado, nos ajudam a entender o que acontece no presente e consequências no futuro. Veja, abaixo, algumas observações dessas sábias criaturas.
“Acho que estudar história é uma coisa muito fascinante. Porque o passado humano é de uma riqueza enorme. Ele permite ver uma coisa que a gente não vê na contemporaneidade. Ou seja, quando estou vivendo a minha vida, não tenho uma bola de cristal para saber como será o meu futuro. Mas eu, como historiador, estou vendo o futuro do passado”. (Marcus Carvalho)
“Pernambuco era um centro de decisões. A capitania de Pernambuco não era uma capitania real, mas particular. As capitanias reais tinham suporte da Coroa. Mas a Capitania de Pernambuco recebia capitais externos”. (Socorro Ferraz).
“O recolhimento é uma instituição do século 16, surgiu no período da expansão ultramarina como a casa que acolhia as filhas dos portugueses que morreram em guerras de conquistas de novos territórios”. (Suely Cordeiro de Almeida).
Ainda não li todo o livro, mas recomendo, pois pela fala dos 18 especialistas, vamos nos defrontar não só com suas histórias, mas também com objetos dos seus estudos que trarão informações inéditas para leigos. Como nós. “Por meio dos rastros lançados pelas memórias individuais, os autores tramaram um passado, uma memória coletiva do Brasil”, diz , no prefácio, o professor de História Pablo Porfírio. Vamos, pois, nela mergulhar? São 528 páginas de “aulas magistrais”, como ressalta Helder Remigio. Que acrescenta:
“Muitos entrevistados vivenciaram o começo de sua formação enquanto o país esteve submetido aos horrores da ditadura civil-militar, inimiga da História e das atividades dos intelectuais que, como tal, só pode se desenvolver se plasmada com espírito crítico. Em tempos de negacionismo, o livro irá colaborar para a afirmação da história como ciência e chave interpretativa do mundo”.
Nos links abaixo, mais informações sobre livros (boa parte publicada pela Cepe) e história
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Serviço:
O que: Lançamento de Artífices da História-Trajetórias de vida e itinerários intelectuais, com bate-papo entre Helder Remigio e Evaldo Costa
Quando: Sábado, 4 de outubro
Onde: Espaço Conexões Petrobrás, na XV Bienal Internacional do Livro de Pernambuco
Endereço: Centro de Convenções de Pernambuco – Av Professor Andrade Bezerra, S/N, Salgadinho, Olinda
Preço do livro: R$ 110 (impresso)
OBS: Identificações da foto superior: Suely Cordeiro de Almeida, Socorro Ferraz, Rita de Cássia, Sylvia Cordeiro
Segunda foto: Marcus Albuquerque, Josemir Camilo, George Cabral de Souza, Evaldo Cabal de Mello
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Cepe /Divulgação

Excelente publicação da Cepe! Livro essencial para conhecermos os nossos historiadores, sua produção acadêmica e sua importância na construção da nossa história.
Livro fantástico, faltava esse publicação com esse olhar. Com você bem disse Letícia, não lembro de nenhuma publicação semelhante aqui em Pernambuco. Parabéns aos autores.