Hoje, com o avanço da tecnologia, basta ter um telefone celular na mão, e qualquer pessoa produz, edita e transmite um vídeo para qualquer parte do mundo em poucos minutos. Mas no século passado, não era bem assim. As câmeras pesavam, poucas pessoas sabiam manejá-las e eram necessárias ilhas de edição para dar tratamento ao material bruto que vinha das ruas. Os equipamentos não eram baratos nem compactos como os atuais. Vivíamos então em uma ditadura, e as grandes emissoras de televisão divulgavam conteúdos muito oficiosos e alienantes. É nesse contexto que surgem pessoas e grupos diretamente envolvidos com a produção de vídeos populares, nos anos de chumbo. Alguns desses vídeos eram exibidos em praças, bairros e até no interior do estado, para públicos específicos. Destaque para a TV Viva (foto acima), SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia, Etapas Vídeo, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Grupo Mulher Maravilha.
Pouco abordada em publicações, a história de militantes que faziam trabalho de TV alternativa acaba de ganhar registro no livro “Histórias de Vídeo Popular”. O título será lançado às 16h da quinta-feira (18/9), durante o Seminário Memória do Audiovisual em Pernambuco, que acontece naquela data no auditório Evaldo Coutinho, do Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. O livro contém entrevistas com militantes que estiveram envolvidos com aquelas iniciativas. Entre eles, Edinho Morais (da TV Viva) e Rozana da Conceição (do MST).
O período de estudo vai do ano 1980 a 2000, embora os vídeos populares tenham aparecido um pouco antes. A pesquisa pega, portanto, uma parte da ditadura (que terminou em 1985) e a democratização. E também o período de transição entre os equipamentos analógicos e os digitais, estes que revolucionaram os meios de comunicação. No livro, os autores – Maria Cardoso, Sophia Branco e Vinícius Andrade – mostram questões como os métodos de trabalho coletivo, processos de produção, financiamento e relações de aliança entre quem filma e é filmado e até mesmo história de vida dos militantes. Os diálogos evidenciam, ainda, o panorama do contexto político do país.
O Seminário “Memória do Audiovisual Popular em Pernambuco” começa às 14h do dia 18 de setembro, e a abertura será marcada pela Mostra de Vídeos digitalizados pelo Acervo de Vídeo Popular em Pernambuco (AVPP). A partir das 15h, haverá o lançamento do Repositório do Vídeo Popular. Às 16h, será lançado o livro “Histórias do Vídeo Popular em Pernambuco”, com apresentação de Maria Cardozo e Sophia Branco (AVPP). O Seminário só se encerra após o lançamento do “Programa Imagem nas Mãos”, que será transmitido pela TV Universitária, cujo teaser já está no ar (ver abaixo).

O Repositório do vídeo popular é uma plataforma de pesquisa criada pelo AVPP para facilitar o acesso às informações técnicas e históricas sobre os vídeos das organizações sociais e movimentos populares digitalizados pelo projeto. A plataforma foi desenvolvida por Jarluzia Tapuia (gestora da informação e técnica em preservação do projeto), Caio Zatti (gestor técnico do AVPP), e Hassan Santos (webdesigner do AVPP). Ela permite a localização aos vídeos por filtros de busca como a organização produtora, a equipe técnica, o ano de produção, acontecimentos documentados ou pessoas que aparecem nas imagens. O repositório foi construído a partir da plataforma pública Tainacam e permite a conexão direta com os vídeos já publicados pelo projeto em seu canal de Youtube.
Já os programas televisivos “Imagem nas Mãos”, foram produzidos no Laboratório de Imagem e Som (LIS DCOM) por estudantes de Jornalismo, a partir do Acervo, com exibição pela TVU Recife. A realização é de estudantes de Jornalismo do 7º. Período, sob orientação da professora Yvana Fechine. E é composta por sete episódios de cerca de 50 minutos nos quais são entrevistados representantes de organizações e produtoras de vídeo populares que tiveram seus acervos digitalizados pelo AVPP. São elas: TV Viva, Produções do Tempo, Etapas Vídeo, MST, Grupo Mulher Maravilha e SOS Corpo, além do próprio AVPP. A partir da exibição de trechos de vídeos selecionados, os convidados recuperam a história e atuação das organizações. A estreia na TVU Recife será no dia 29 de setembro, às 21 horas, e os demais episódios seguem em exibição todas as segundas no mesmo horário.
Observação: Na foto superior, Eduardo Homem, da TV Viva, entrevista Elizabeth Teixeira, viúva de Pedro Teixeira, ligado ao Partido Comunista do Brasil e líder das ligas camponesas na Paraíba, assassinado em 1962, antes mesmo da eclosão do regime militar. Durante a ditadura, período em que a família viveu entre a clandestinidade e o exílio. Elizabeth terminou virando personagem do filme “Cabra Marcado para Morrer“, do saudoso diretor Eduardo Coutinho.
Abaixo, o teaser do Programa “Imagem nas Mãos”, que será exibida pela TV Universitária, nesse mês de setembro
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Serviço
Seminário Memória do Audiovisual Popular em Pernambuco
Quando: Quinta-feira, 18 de setembro
Onde: Auditório Evaldo Coutinho, no Centro de Artes e Comunicação da UFPE (CAC)
Horário: A partir das 14h
Endereço: Avenida da Arquitetura, S/N, Cidade Universitária
PROGRAMAÇÃO DO SEMINÁRIO
14:00 – 15:00 – Abertura com Mostra de vídeos digitalizados pelo Acervo do Vídeo Popular em Pernambuco (AVPP); Comentários, Vinícius Andrade (AVPP); Mediação, Fernando Weller
(DCOM UFPE)
15:00 – 16:00 – Lançamento do repositório do vídeo popular; apresentação, Jarluzia Tapuia (AVPP) e Caio Monte (AVPP); Comentários, Charles Martins (TVU Recife, CEDOC); Mediação: Paula Reis (DCOM UFPE)
16:00 – 17:00 – Lançamento do livro “Histórias do Vídeo Popular em Pernambuco”; Apresentação, Maria Cardozo (AVPP) e Sophia Branco (AVPP); comentários: Adriana Santana (DCOM, PPGCOM – UFPE); mediação, Cristina Teixeira (DCOM, PPGCOM – UFPE)
17:00 – 17:30 – Lançamento do programa Imagem nas mãos (LIS DCOM, TVU Recife) com exibição de vídeo; comentários, Yvana Fechine, Izabela Cavalcanti, Letícia Barbosa e Tawan Batista (DCOM UFPE)
Encerramento.
Realização: Universidade Federal de Pernambuco (Departamento de Comunicação Social – DCOM e Programa de Pós-graduação em Comunicação – PPGCOM); Acervo do Vídeo Popular em Pernambuco; apoio, CEDOC – Centro de Documentações e Pesquisas da TV Universitária
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: TV Viva /Acervo UFPE
