O Brasil está se livrando de Jair Bolsonaro, um “messias” no nome de batismo e que, coincidentemente, tenta apelar para o messianismo, como forma de atrair eleitores e seguidores. Ele perdeu a a eleição, mas o que se vê – em vários recantos do país – é gente disposta a matar ou morrer, chorando, rezando, levantando a bandeira nacional e misturando crença com fanatismo, política com religião. A história do Brasil é pontilhada de fenômenos messiânicos que, embora em um outro contexto político e histórico, também consistiram em movimentação de massas.
Estão aí Canudos, (1896-1897), Contestado (1912-1916), a Sedição de Juazeiro (1914) e Caldeirão (1926-1936), que não nos deixam mentir. Canudos ocorreu na Bahia, e Contestado, entre Paraná e Santa Catarina. Os dois últimos aconteceram no Ceará. Há um outro movimento messiânico que volta a entrar em evidência: é o Pau-de-Colher, que eclodiu em 1938, no Sertão da Bahia, exatamente 41 anos após o fim da Guerra de Canudos. Pau-de-Colher era o nome do vilarejo, localizado no município de Morada Nova (BA), onde milhares de pessoas seguiam o Beato José Senhorinho que, por sua vez, se inspirava em outro Beato, o José Lourenço, do Caldeirão cearense. Morada Nova fica a 1.015 quilômetros de Salvador.
E a história ali vivenciada no início do século passado, acaba de virar um livro, que será lançado às 19h30m da sexta-feira (11/11), no Cineteatro da Universidade Federal do São Francisco, em Petrolina (PE), a 769 quilômetros do Recife. Com 700 páginas e fartamente ilustrado, “Pau-de-Colher: Contextos e Sentenças” foi escrito por Aroldo Ferreira Leão, poeta, escritor, historiador, auditor fiscal e professor da Univasf. Com 178 livros publicados e participação em pelo menos 52 antologias, Aroldo mergulhou fundo na história do conflito camponês, religioso, social e político que agitou os Sertões da Bahia, e que terminou com a chamada Guerra dos Caceteiros, com um saldo trágico de pelo menos 5 mil mortes. O conflito ocorreu em área que fica entre os estados da Bahia, Pernambuco e Piauí.
Para escrever o livro, Aroldo mergulhou não só nos documentos da época, como também fez uma centena de entrevistas de grande importância para o entendimento da Guerra dos Caceteiros, inclusive com pessoas que dela participaram e que sobreviveram milagrosamente ao massacre que banhou o sertão de sangue. O livro de Aroldo é uma fascinante viagem às curiosidades do passado, em um Sertão profundo, famélico e fanático, mas que se rebelava contra as injustiças sociais e o cabresto dos “coronéis”.
“Coronéis” eram chamados as lideranças políticas e econômicas naquela época, marcada pela total omissão do estado na caatinga. E no vácuo do qual se originaram outros movimentos sociais, como o cangaço, por exemplo. Aroldo tem um Jabuti no currículo. Em 2013, o prêmio foi arrebatado por ele e outros professores da Univasf, com o livro Flora das Caatingas do Rio São Francisco. Ele participou da publicação, com artigo sobre os índios Cariris no Sertão. Nos links abaixo, você pode conferir outras informações sobre a história do nosso país.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação